Da Redação
MANAUS – A Amazônia é tema de mais um romance de aventura. O gênero histórico-fantástico é explorado por Ilko Minev, que lança sua obra nesta terça-feira, 22, em São Paulo. No livro, Minev retrata a tentativa de adaptação de brasileiros e estrangeiros imigrantes na natureza amazônica. Em Manaus, onde o búlgaro é radicado há 40 anos, o lançamento será no dia 30 de maio, às 19h, na Livraria Leitura no Amazonas Shopping. Em resenha sobre a publicação, o professor Jaques Marcovitch analisa a história que envolve a determinação em explorar um novo mundo.
Um búlgaro na Amazônia
Jacques Marcovitch*
O que separa ficção de realidade neste belo romance de Ilko Minev? A pergunta acompanha o leitor em todas as páginas do livro ‘Na Sombra do Mundo Perdido’. Esta é a sua essência literária. Sem perder o tom de fabulação, a obra retrata os maus tratos de indígenas pelos colonizadores e o sofrimento de imigrantes europeus, ou migrantes nordestinos, diante de adversidades enfrentadas na Amazônia e cercanias.
O contexto da narrativa é a ‘Raposa Serra do Sol’, no Estado de Roraima, que se estende por um milhão e setecentos mil hectares, incluindo os municípios de Normandia, Pacaraima e Uiramutã. Sua porção montanhosa culmina com o célebre Monte Roraima, em cujo topo se encontra a tríplice fronteira entre Brasil, Guiana e Venezuela. Uma região, como se sabe, com demarcação contínua do território indígena, o que determinou a saída em massa de produtores rurais.
A estória reúne duas famílias. Uma veio da Bulgária e da Rússia; outra, dona da fazenda Santa Virginia, nas margens do Rio Surumu. Ambas vivenciam esperanças, desencantos e sonhos dos pioneiros da Amazônia. São famílias que testemunham crueldades sofridas pelos índios. Famílias empenhadas, simultaneamente, em defender suas terras e produzir. Famílias cujos destinos se cruzam quando uma delas adota um filho que mais tarde se revela irmão gêmeo de outro, criado em sua tribo de origem. Este é o núcleo ficcional do enredo habilmente construído por Minev, no qual fantasia e concretude se mesclam para encantar os leitores.
A natureza exposta com grande perícia descritiva é farta de rios, lagos, praias, fauna e flora. O lago Caracaranã, por exemplo, tem extasiado sucessivas gerações de visitantes. Esta paisagem também hospeda muitas riquezas minerais, entre as quais ouro e diamantes. Por isso é uma área brutalmente maltratada por garimpeiros e aventureiros que contaminam suas águas, destroem o habitat natural e praticam violências em sua busca desenfreada por fortuna.
Neste largo cenário desenrola-se a trama que conduz o leitor ao encontro de um verdadeiro patrimônio da Amazônia real. A revitalização desta extraordinária e rica extensão territorial é uma responsabilidade das novas gerações. Tal obrigação exige pesquisa permanente de especificidades geomorfológicas, preservação do meio ambiente e das características culturais. A complexa realidade socioeconômica da Região Norte e seus habitantes impõe uma agenda sustentável, capaz de superar conflitos e criar oportunidades de vida significativa para as gerações presentes e vindouras.
*Jacques Marcovitch é professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo. Possui mestrado pela Owen Graduate School of Management, Vanderbilt University. Atualmente é também professor do Instituto de Relações Internacionais da USP, membro do Conselho Deliberativo da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin e do Conselho Superior do Graduate Institute of International and Development Studies(IHEID) em Genebra, Suíça. Reitor da USP entre 1997 e 2001, Publicou uma dezena de livros e inúmeros artigos. É coordenador do projeto e autor da trilogia ‘Pioneiros e Empreendedores: a saga do desenvolvimento no Brasil’.