Por Rosiene Carvalho, da Redação
A propaganda gratuita acabou na quinta-feira, 29, mas o candidato à reeleição Arthur Virgílio Neto (PSDB) continua aparecendo na TV nesta sexta-feira, 30, e aparecerá no sábado, 1°, em inserções de direito de resposta. Nelas, Arthur vai rebater acusações e bater na ideia de que Marcelo mentiu. Um golpe duro na principal estratégia de ataque de Marcelo Ramos nas últimas três semanas. Até quinta à noite, foram mais de cem minutos que Marcelo teve que ceder para Arthur desconstruir suas afirmações.
A atuação das equipes jurídicas foi determinante para essa reviravolta do jogo de ataque e contra-ataque na propaganda eleitoral e suas possíveis consequências na imagem dos candidatos. Por muitas eleições, a atenção às estratégias de marketing e aos resultados publicados por institutos de pesquisa eram os itens que mais preocupavam a organização das equipes de campanha. Os últimos pleitos mostram que equipes jurídicas têm sido setores importantes nas disputas durante e depois da eleição.
Arthur Neto contratou dois dos principais escritórios jurídicos no campo eleitoral no Amazonas, Marcelo manteve equipe que usou na campanha ao Governo em que sua participação tinha outro contexto e objetivo. Além disso, Marcelo tem subutilizado a mais experiente advogada no campo eleitoral na sua coligação: Maria Benigno, que atua na defesa de causas do PSD de Omar e está à sua disposição. Esses lances inevitavelmente têm repercussão na campanha e na pós-campanha.
No início da terceira semana da propaganda eleitoral, após se fazer mais conhecido na cidade com caminhadas acompanhado de cabos eleitorais de luxo, Marcelo Ramos adotou a estratégia de grudar em Arthur a marca de que “sobrou dinheiro e faltou competência”. A propaganda do candidato José Ricardo (PT) também ajudou o jogo de Marcelo.
No horário proporcional da coligação de Ramos, reservado para vereadores pedirem votos e mostrarem suas propostas, todos bateram neste mote. Nas inserções majoritárias, Marcelo arrematava mostrando dados e exemplos da “sobra de dinheiro” versus “falta de resultado”. E fortalecia o “mantra” que, pela repetição, ganhou rua.
As decisões desfavoráveis a Arthur com as juízas da propaganda eleitoral, que negavam suas denúncias de invasão, foram aliadas de Marcelo, que permaneceu na mesma estratégia por três semanas. Na quarta semana da propaganda eleitoral, após a operação da Polícia Federal Maus Caminhos, Arthur partiu para o ataque pesado: associou o governador José Melo, Omar Aziz e a operação ao candidato adversário. Assumiu riscos de passar a última semana do pleito concedendo direito de respostas a Marcelo.
Mas, na contramão das expectativas no meio político, Arthur termina a semana da propaganda surfando no horário daquele que as pesquisas eleitorais apontam como adversário dele no segundo turno.
O parágrafo 4° do artigo 58 da Lei 9.504, a Lei das Eleições, garante que a reparação do direito de resposta pode ser concedido pela Justiça Eleitoral ainda que nas 48 horas que precedem o pleito. Mas a concessão do direito de resposta não veio ao acaso. Diligência e experiência contam e muito.
Os advogados de Arthur conseguiram mostrar no processo o que a equipe de comunicação não conseguiu pôr em evidência na propaganda. Na opinião dos magistrados, provaram a construção de escolas e a falta de dinheiro.
Até um vídeo do próprio Marcelo dizendo que a prefeitura tinha poucos recursos e não construiu o BRT por culpa do Governo do Estado foi resgatado e usado para garantir o direito de resposta contra o “viral” “faltou dinheiro e sobrou incompetência” para gerir Manaus.
Sobre a operação Maus Caminhos, a justiça determinou que Arthur retirasse as inserções da TV. Porém negou pedidos de resposta de que Melo apoiava Marcelo. Na decisão, a juíza afirma que apoia porque o Pros está na coligação.
A coligação do tucano usou na última semana o horário dos proporcionais para atacar Marcelo, cuja defesa acionou a justiça alegando invasão. Com os mesmos argumentos que fora favorecido, Marcelo teve os pedidos negados.
A guerra é para valer e quem escala soldados certos avança nas batalhas importantes. Ironicamente, foi o senador Omar Aziz, meses antes das convenções partidárias, quem alertou Arthur sobre a questão que desestabilizou o Governo Melo após a vitória nas urnas. No campo judicial, os últimos dias da campanha de primeiro turno mostram que Arthur acertou ao colocar um escritório jurídico para defesa e outro para ataque nesta campanha.