Julho/2015 ainda não acabou, mas já deixou sua impactante marca na história: o mês mais violentamente sangrento de que se tem notícia nos memoriais amazonenses, desde as famigeradas “guerras justas” nos tempos coloniais.
Rebeliões em presídios estaduais, desaparecidos políticos no estado, rebelião de 1924 em Manaus, cabanagem na cidade e outras referências históricas… Nada se compara a este trágico julho de 2015, tamanha a carnificina. O quantitativo da matança, sem precedente para um único final de semana, ainda não está definido. Até o fechamento deste texto eram 34 os óbitos registrados. As vítimas ainda estão sendo contadas.
Os fatos repercutiram nos meios de imprensa local, regional, nacional e internacionalmente, chamando atenção de muitas mídias e instituições, o que constitui variável de preocupação em diversas áreas, considerando sobremaneira a segurança pública, os direitos fundamentais e o contexto socioeconômico de ano pré-olímpico.
Mesmo assim, houve quem se aproveitou da oportunidade, de modo irresponsável, para inflar a onda de pânico que tomou conta da cidade. Nas redes sociais não cessavam mensagens aterradoras, incitando o medo e a sensação de insegurança generalizada. O temor e a preocupação se difundiram em várias direções, mantendo-se ao ponto de serem visíveis com a abrupta redução do movimento de pessoas nas ruas e no trânsito de Manaus.
Outros procuraram usar o funesto ocorrido para investir no discurso da perda de controle na segurança e de comando sobre as polícias, a fim de disseminar a ideia de desgoverno e alimentar a tacanha luta política entre grupos remanescentes da última eleição, num contexto que antecede pouco mais de um ano as próximas disputas eleitorais.
São números trágicos e, sem dúvida, preocupantes, mas que não podem ser instrumentalizados de maneira negligente e leviana, seja qual for o interesse ou a ótica.
Embora esteja claro que não precisamos de conflitos fundamentalistas étnicos ou raciais nem religiosos para promover chacinas, é fundamental aplicar o ensinamento que resultou da grave situação de anomia social vivenciada naqueles dias, entre 17 e 20 de julho de 2015. Em síntese, trata-se de compreender que não se faz justiça com assepsia social nem com banho de sangue, ainda que de desviantes. Isso conduz a sociedade apenas à barbárie cíclica, à sedenta vingança sanguinária, ao desdém dos demais entes federais e ao descrédito da comunidade internacional. Por fim, é imprescindível evitar a banalização do mal e a formação de uma outra sin city.
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