MANAUS – Uma reportagem do Jornal Nacional veiculada na noite desta sexta-feira, 8, trouxe à tona novas informações sobre as delações premiadas de executivos da construtora Andrade Gutierrez, na Operação Lava Jato da PF (Polícia Federal), nas quais apontam que governadores receberam propina para obras da Copa do Mundo de 2014, entre eles o ex-governador do Amazonas e atual Ministro de Minas e Energia Eduardo Braga (PMDB).
O depoimento dos gestores da construtora já havia sido pauta da Revista Veja, no dia 12 de março deste ano. Na matéria, o ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, disse que Braga e também o ex-governador e, hoje, senador Omar Aziz (PSD) receberam propina pela obra da Arena da Amazônia.
Licitada por R$ 499,5 milhões, a obra foi concluída ao preço de R$ 757,5 milhões, ou seja, R$ 258 milhões acima do que foi licitado pelo governo do Estado. A construtora apresentou o menor preço para o empreendimento (exatos R$ 499.508.704,17), superando a proposta da Odebrecht (R$ 504.746.793,70). O edital de licitação previa um valor máximo de R$ 505 milhões.
O resultado da licitação saiu no dia 3 de março de 2010, um mês antes de Eduardo Braga deixar o governo para o então vice-governador Omar Aziz, que tocou a obra até a inauguração, em março de 2014.
Na matéria do Jornal Nacional desta sexta, outros ex-governadores também foram citados no esquema de propina de obras da Copa do Mundo de 2014, entre eles o ex-governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), pelo contrato do Estádio Mané Garrincha; e o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), no contrato da reforma do Maracanã.
Segundo o documento que a reportagem do jornal teve acesso, sete empresas doaram, no total, R$ 700 milhões. Algumas chegaram a R$ 180 milhões. A Andrade Gutierrez entrou com R$ 100 milhões. Os executivos da Andrade Gutierrez dividiram as confissões em seis temas: desvios em obras da usina de Belo Monte; do Complexo Petroquímico do Rio, Comperj; da Ferrovia Norte Sul, da Usina de Angra 3; em estádios da Copa do Mundo; e em campanhas eleitorais.
Campanha eleitoral
O ex-presidente da construtora Otávio Azevedo contou ainda que ouviu do ministro da Secretaria de Comunicação, Edinho Silva, então tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff (PT) em 2014, que as sete empresas mais beneficiadas em contratos com o governo federal tinham um compromisso: cada uma de doar R$ 100 milhões, totalizando R$ 700 milhões para a campanha eleitoral.
A construtora já tinha repassado R$ 60 milhões e foi cobrada, segundo a delação, porque o repasse foi feito ao ex-tesoureiro João Vaccari Neto. A solução foi pagar os R$ 40 milhões que restavam a Edinho.
Os executivos explicaram também que a participação da Andrade Guttierrez em obras do setor elétrico foi uma compensação, uma estratégia para garantir espaço à segunda maior empreiteira do Brasil no esquema. Isso porque ela foi menos contemplada nos contratos da Petrobras, dedicados principalmente à Odebrecht e à Camargo Corrêa.
Na delação, os executivos também foram questionados sobre pagamentos de palestras ao ex-presidente Lula por meio da empresa dele, a Lils. Eles negaram irregularidades e confirmaram pagamentos por cinco palestras. Segundo eles, as palestras foram efetivamente prestadas por Lula.
Ministro nega
Em nota enviada à imprensa após a veiculação da matéria do Jornal Nacional, o ministro Eduardo Braga informou que não assinou nem pagou contratos das obras da Copa do Mundo de 2014. Ele disse que se sentiu indignado e surpreso com a citação do nome dele nos depoimentos dos executivos da Andrade Gutierrez. Braga finalizou a nota dizendo que espera “a apuração correta dos fatos” para mostrar que foram “fruto de engano ou má fé”. A assessoria do ministro chegou a enviar no anexo da nota uma página do sistema de controle do governo do Amazonas, onde, segundo os assessores, “comprova-se a assinatura do contrato da Arena posterior à saída de Braga do governo”.
*Veja na íntegra a nota de Eduardo Braga
Com relação à matéria exibida na edição desta sexta-feira (08/04) do Jornal Nacional, cabe restabelecer a verdade dos fatos explicando que:
“Saí do Governo do Estado do Amazonas em Março de 2010, sem ter assinado contrato e nem realizado pagamento para obras relacionadas com a Copa do Mundo, muito menos para a Arena da Amazônia. Por isso, recebo com indignação e surpresa a citação do meu nome em supostos depoimentos ligados à Lava Jato.
Mas tenho certeza que a apuração correta dos fatos mostrará que, se tais citações realmente ocorreram, foram fruto de engano ou má fé”.
Eduardo Braga
Ex-governador do Estado do Amazonas
(atualmente senador licenciado ocupando o cargo de Ministro de Minas e Energia)