Do Estadão Conteúdo
SÃO PAULO – Joesley Batista e Ricardo Saud se entregaram na sede da Superintendência Regional da Polícia Federal em São Paulo, no bairro da Lapa. O empresário e o ex-executivo da JBS tiveram prisões decretadas por violação do acordo de delação premiada. Joesley deixou a casa de seu pai, em São Paulo, por volta das 13h de hoje. Antes disso, a jornalista Ticiana Villas Boas, esposa de Joesley Batista, havia deixado, por volta das 12h30, a residência do casal no bairro do Jardim Europa, em São Paulo, e foi à casa do pai de Joesley, que fica em região próxima à Avenida Paulista.
Até este início da tarde domingo, 10, não há informações sobre quando os delatores devem sair do prédio da Polícia Federal, mas uma possibilidade é que eles sejam levados ainda hoje ao Instituto Médico Legal (IML). O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), havia determinado que os mandados de prisão sejam cumpridos com a “máxima discrição e com a menor ostensividade”.
Ao longo deste domingo, familiares de Joesley se reuniram na casa de seu pai. O carro de Ticiana foi o terceiro a deixar a residência de Joesley neste domingo. Antes disso, um carro com uma criança e outro dirigido por uma mulher haviam deixado o local. Ao menos um desses veículos também se dirigiu à casa do pai de Joesley.
Vizinhos do empresário Joesley Batista têm apoiado a prisão do dono da J&F. A rua arborizada e de grandes casas é rota de motoristas e pessoas que se exercitam ou passeiam com cachorros. Após a notícia desta manhã de que o pedido de prisão de Joesley foi aceito pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), a maioria dos frequentadores do bairro expressou apoio à prisão.
Diante da presença da imprensa em frente à residência, moradores que passavam gritavam mensagens de protesto. “Cadeia!”, disse um senhor que não se identificou. Outra vizinha de uma rua próxima disse apoiar o trabalho dos jornalistas: “Gostaria muito que vocês filmassem ele sendo preso.” “Pega Ladrão”, disse outro.
Risco em liberdade
Ao mandar prender Joesley Batista e Ricardo Saud, o ministro Edson Fachin ressaltou que, em liberdade, os colaboradores encontrarão os mesmos estímulos voltados a ocultar parte dos elementos probatórios.
O magistrado decretou prisão temporária, por cinco dias, dos empresários e negou o encarceramento do ex-procurador Marcelo Miller.
“Percebe-se pelos elementos de convicção trazidos aos autos que a omissão por parte dos colaboradores quando da celebração do acordo, diz respeito ao, em princípio, ilegal aconselhamento que vinham recebendo do então procurador da República Marcello Miller”, anotou Fachin.
O procurador-geral da República havia pedido a detenção dos delatores e do advogado em razão de áudio enviado pela defesa dos colaboradores em anexo complementar sobre o senador Ciro Nogueira (PP), que revela conversa entre Saud e Joesley na qual Miller é mencionado como um integrante do Ministério Público Federal que teria atuado em benefício da JBS.
“No caso, a análise do áudio e dos documentos juntados na mídia das fls. 15 revela indícios suficientes de que os colaboradores omitiram, no momento da formalização do acordo de colaboração premiada, informações a que estavam obrigados prestar sobre a participação do então Procurador da República Marcello Miller no aconselhamento destes quando das negociações dos termos da avença. Num juízo de cognição sumária, como é próprio desta fase tal fato pode implicar justa causa à ulterior rescisão dos acordos celebrados, nos termos da Cláusula 25 em relação a Ricardo Saud e Cláusula 26 em relação a Joesley Mendonça Batista”, anotou Fachin.
Marcelo é o pivô da investigação que pode culminar com a rescisão da delação da JBS, embasada em áudio enviado pela defesa dos colaboradores em anexo complementar sobre o senador Ciro nogueira (PP). Ele integrou a força-tarefa da Operação Lava Jato e atuou nas delações do ex-senador Delcídio do Amaral e do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
Essa prisão já deveria ter ocorrido desde o momento em que foi homologada a delação. Tentaram poupar o maior corruptor do país, mas com a pressão da sociedade e toda a repercussão na mídia, não houve outro jeito para o PGR, senão o de pedir a prisão dos dois empreiteiros. Resta saber por quanto tempo permanecerão presos preventivamente.