Vez por outra ouço uma frase que o país, o estado ou a cidade possui um problema de falta de planejamento. Não consigo concordar com isso. Em minha percepção o Brasil possui um severo problema de incompetência na execução. Conseguimos sonhar, idealizar, realizar planos maravilhosos, mas quando chega na hora de executar não faltam desculpas para não fazer. Surgem explicações de todo o tipo, com a única intenção de justificar a ação não executada, pela preguiça de encarar a realidade do presente.
Nestes tempos de eleição é trágico observar como isso se multiplica por todos os lados. De onde surge isso? Ao aprofundar um pouco esta observação do mundo real, tenho a sensação que um pensamento curto penetra todos os planejamentos do país, considerando-se apenas os cenários ideais e sem levar em conta nenhuma força contrária ao objetivo estabelecido. Como se qualquer plano fosse obter naturalmente o apoio de todos. Daí, empregam-se soluções autoritárias ou desqualificação das ideias contrárias, ao invés de convidá-las para contribuir e com isso surgiriam projetos melhores e de todos, ao invés de um projeto de um único autor.
Assim, convido o leitor para começar a observar o problema: não temos em nossa cultura nenhuma dificuldade para antever um futuro melhor, mas temos alguma dificuldade para estabelecer como chegar a este futuro e uma profunda dificuldade para transformar as intenções em ações.
Há ainda outra questão a ser considerada: o pensamento curto ou pensamento ruim como dizem alguns autores de gestão. Pensamento ruim leva a projetos mal feitos e, consequentemente, resultados pífios. Também faltam pensamentos baseados em fatos e dados, com baixa capacidade de encarar as dificuldades. Ainda há a falta capacidade de gestão para considerar resultados experimentados, ao invés de hipóteses vagas. Isso se dá por uma desatualização de uma boa parcela dos gestores, com cabeças ancoradas em algum lugar do século passado ou do anterior, onde não havia diálogo com empresários ou com cientistas, por exemplo.
As visões são estabelecidas de maneira vaga e as pessoas aceitam isso. Como estabelecer um diálogo com a sociedade após as eleições? Como considerar um diálogo técnico entre candidatos e sociedade? Como ir além do “votar por mais educação”? Aliás, quem votaria por menos educação? Quem realmente acredita que um candidato fará propostas que levem a menos educação, menos segurança, menos saúde etc.? A lógica sobre o debate eleitoral mais raso que um pires vem da imprensa que pouco a pouco perde a capacidade de raciocínio em troca da capacidade de influenciar sem debater as intenções em nome de um politicamente correto impossível ou de uma isenção inexistente.
Não há imprensa isenta. Seria muito melhor se a imprensa tivesse clareza sobre seu posicionamento e indicasse o que não está de acordo com o seu ideário, do que ficar fazendo de conta que é uma opinião isenta. Ir além das manchetes é algo necessário e enquanto não sairmos deste quadro ridículo está feito o ambiente amplo para as notícias falsas, porque as pessoas pouco a pouco percebem que estão sendo enganadas, pois ninguém consegue enganar a todos por muito tempo.
E a saída para esta situação? Há algumas: intervenção Divina ou sorte. Alternativamente, faz-se necessário mais crise. Enquanto cada membro da sociedade não trouxer a responsabilidade de seu desenvolvimento para si, de sua rua para si, de seu bairro para si e assim sucessivamente, será impossível mudar o cenário. A saída alternativa aos dois caminhos apontados é a participação ativa da sociedade, indo além do voto e do berro insano nos comentários das redes sociais ou das mensagens de WhatsApp. É necessário um debate sobre cada realização, com lideranças técnicas que tenham a capacidade de diálogo e de realização. Enquanto este cenário não mudar, não acredito que sairemos do atoleiro em que estamos mergulhados. Um diagnóstico adequado do presente é um começo para a solução.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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