BRASÍLIA – O ministro Herman Benjamin, relator no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) do processo que pede a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, considerou os depoimentos de Marcelo Odebrecht e de dois outros ex-executivos da empreiteira – tomados na quarta e na quinta-feira passadas, dias 2 e 3, – como os mais importantes de todos os 50 que já colheu desde que assumiu o caso em agosto do ano passado, segundo apurou o jornal ‘O Estado de S. Paulo’.
A oitiva do ex-presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, preso desde junho de 2015 na operação Lava Jato, deixou Benjamin particularmente impressionado, como perceberam advogados presentes. Primeiro, pelo grau de acesso e de domínio que o empresário contou ter ao topo da cadeia de poder, sugerindo a impressão de apropriação do poder público pelo poder privado.
Segundo, pelo valor de caixa 2 – R$ 180 milhões -, desproporcionalmente gigantesco em relação às doações oficiais. O ministro batizou de caixa 3, ou ‘barriga de aluguel’, a doação da Odebrecht para uma outra empresa (o Grupo Petrópolis, da cervejaria Itaipava) fazer o repasse, modalidade que considerou uma novidade no esquema de corrupção.
Benjamin, que também é ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e não dá entrevistas sobre o caso, disse a advogados presentes nos depoimentos dos delatores Benedicto Barbosa Júnior e Fernando Reis, estes na quinta-feira, que considerou inadmissível o vazamento de partes do interrogatório de Marcelo Odebrecht. Informou sobre a sua suspeita de que até as suas intervenções tenham sido gravadas, e disse aos advogados que poderiam, no máximo, falar em tese, para defender a posição de seus clientes, mas não repassar passagens inteiras, e muito menos gravar.
No processo que relata – a Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) 1943-58, movida pelo PSDB e outros partidos derrotados na eleição de 2014 -, o ministro optou pela transparência de todos os depoimentos e também das perícias, tudo com íntegra disponível, on line, no site do TSE. A exceção são esses últimos depoimentos, e mais os que tomará hoje, também de ex-diretores da Odebrecht (mais informações nesta página), todos sigilosos por decisão da Procuradoria-Geral da República respaldada pelo Supremo Tribunal Federal.
Preocupado em cumprir o cronograma que estabeleceu para apresentar seu relatório, ele informou ao procurador-geral Rodrigo Janot e ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, que faria as oitivas mesmo com o sigilo. Os vazamentos podem levar a alguma restrição na quantidade de advogados que poderão assistir aos próximos depoimentos.
Um deles é o do delator Hilberto Mascarenhas – o responsável direto pela contabilidade clandestina da Odebrecht, o chamado Departamento de Operações Estruturadas. Este ponto do depoimento de Marcelo Odebrecht deixou o ministro particularmente estupefato, como ficou claro para advogados presentes nas quatro horas em que durou o interrogatório. Não era para ser uma contabilidade tão perfeita e tão completa – mas Mascarenhas, até sem maior detalhamento à cúpula da empresa, registrava tudo, minuciosamente.
Benjamin ficou espantado com o efeito bumerangue do detalhismo de Mascarenhas e sua equipe. É provável que o crive de perguntas específicas a respeito.
Dono
Já pelo final do longo interrogatório o ministro perguntou, chamando-o educadamente de ‘seu Marcelo’, se o empresário se considerava dono do governo. Foi quando ele saiu-se com a resposta já vazada de que estava mais para “bobo da corte”, “otário”. Benjamin perguntou, também, se ele se via como uma espécie de embaixador do setor produtivo junto ao poder. É que o procuravam, afirmou o empresário. E então ele encaminhava os pleitos, deixando claro que tudo tinha um preço.
O tom das perguntas fez advogados mais atentos acharem que o ministro viu um empresário muito amargurado, que ainda não se conformou com o final da ópera como o está vendo no momento. O ministro também fez perguntas, digamos, existenciais, para o ex-diretor Benedicto Júnior, um dos depoentes da quinta-feira passada, no Rio de Janeiro. Numa delas quis saber como é que um jovem cheio de gás entra numa empresa daquele tamanho e é iniciado na cultura de corrupção. O ex-diretor declarou-se prisioneiro do sistema. Até poderia deixar a empresa, disse, mas não tinha como evitar aquela cultura. Já vinha, segundo ele, desde o dr. Norberto (avô de Marcelo).
Empresas
Benedicto Júnior também disse ao ministro do TSE que o que está ocorrendo agora é que empresas não implicadas na operação Lava Jato estão procurando os políticos para dizer que estão dispostas a cobrir o recuo da Odebrecht, e de outras distribuidoras de propinas.
O relator, que já disse acreditar no poder detergente de operações como a Lava Jato, e do próprio processo que pode levar ou não, à cassação da chapa vencedora nas eleições de 2014, colocou mais alguns pontos de interrogação em seu otimismo com um futuro melhor.
(Estadão Conteúdo/ATUAL)
Que mentira deste ministro. Ô golpezinho miserável. A verdade é que a Odebrecht fez o que todo mundo faz no mundo das empreiteiras. Vai dizer que não sabia? O que não se faz é entregar a maior empresa nacional de mão beijada aos abutres. Quem se apropriou do poder foi esta camarilha que esfacela a Odebrecht.