Na última reunião do CAS (Conselho de Administração da Suframa) o superintendente interino da Suframa, Gustavo Igrejas, deu demonstrações de que não tem a mínima condição de ser mantido no cargo, como defendem setores ligados à autarquia. A defesa do nome de Igrejas para o cargo em definitivo baseia-se no argumento de que ele é um técnico competente, talhado na própria Suframa. No entanto, o cargo de superintendente é essencialmente político, e é exatamente nesse quesito que Igrejas peca.
Durante a reunião do CAS, segundo registro da assessoria de comunicação da autarquia, o superintendente “agradeceu o apoio do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) durante os cinco meses em que se encontra como interino da Suframa, e reforçou que neste período não houve prejuízo algum aos trabalhos da autarquia”. Uma frase de Igrejas: “A Zona Franca não sofreu nenhum tipo de descontinuidade das suas operações e de seus serviços, sempre com o apoio dos servidores e do MDIC”.
Igrejas fala como se a Suframa fosse apenas o prédio administrativo da autarquia. Só a demora do MDIC em reunir o CAS (oito meses sem reunião) seria suficiente para uma crítica ao representante do ministério, pelos prejuízos que causam à economia do Estado e ao modelo Zona Franca de Manaus. Dizer que não houve prejuízos só para agradar um superior é, no mínimo, um sinal de fraqueza política.
Mas Igrejas foi além: “pontuou alguns dos desafios superados nesse período à frente da autarquia”, entre eles “a continuidade dos trabalhos do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) e a retomada das obras de revitalização das ruas do Distrito Industrial, em parceria com o governo do Amazonas”.
Nos dois casos, o que se vê é o mais completo absurdo. O CBA mantém-se de forma precária, sem recursos, sem pesquisa, sem perspectiva. Nunca deixou de ser o elefante branco do Polo Industrial de Manaus e atravessa uma das piores fases de sua história. O próprio representante do MDIC presente à reunião do CAS reconheceu o problema e disse que o ministério “está trabalhando na definição jurídica do CBA”.
Sobre a pavimentação das ruas do Distrito Industrial, o que se mostra à sociedade é a mais completa incompetência tanto da parte da Suframa quanto da Seinfra (Secretaria de Estado de Infraestrutura). A própria fala de Igrejas revela essa incompetência: “Existiam algumas recomendações dos órgãos de controle que geravam a possibilidade de cancelamento do convênio mas, junto ao governo do Estado e à Seinfra, estão sendo feitas algumas adequações ao projeto básico e temos uma previsão que até o final do mês de maio essas obras de revitalização do Distrito vão ser retomadas para que não haja nenhum prejuízo à sociedade”.
Os prejuízos à sociedade de que fala Igrejas já custou, inclusive, vidas humanas em acidentes causados por causa dos buracos nas ruas do Distrito Industrial. O problema se arrasta há pelo menos uma década, e os três últimos superintendentes não foram capazes de resolver. As ruas do parque industrial da zona sul é o retrato do caos.
A Suframa, ao contrário do que diz o superintendente interino, passa por um processo de desmonte, patrocinado pelo Palácio do Planalto e pela Esplanada dos Ministérios. Tal desmonte é assistido passivamente pela classe política amazonense, que sabe muito bem aproveitar os “momentos de glória”, como foi a aprovação da prorrogação do modelo por mais 50 anos, mas se mostra-se inerte quando os problemas que corroem a economia do Polo Industrial de Manaus se apresentam. A maioria até ignora propositalmente.
Reconhecer esse desmonte da Suframa é o primeiro passo para se começar a reconstruir a autarquia e a força do Polo Industrial de Manaus. E à frente desse movimento de reconstrução há que se ter uma pessoa com pulso firme. Igrejas já mostrou que não o tem.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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