MANAUS – Moradores da Rua Cupuaçu, no bairro Cidade Nova, vizinhos do recém inaugurado Sumaúma Park Shopping, do Grupo DB, reclamam dos impactos causados pela obra e, principalmente, pela construção de uma doca com acesso pela área residencial. Desde o início da construção do shopping, em 2013, eles dizem que sofrem com a poeira e a entrada e saída de caminhões. Agora, com a descarga de caminhões, os moradores perderam o sossego dia e noite.
O Plano Diretor de Manaus, desde 2002, exige, para grandes empreendimentos, o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV). Em dezembro de 2013, o Implurb realizou uma teleconferência com técnicos da Prefeitura do Rio de Janeiro para explicar a legislação que instituiu os termos do EIV, considerada “um dos modelos mais modernos e funcionais do Brasil”, segundo a Prefeitura de Manaus. Mas a legislação não vem sendo aplicada, pelo menos no caso do Shopping Sumaúma.
O aposentado Luiz Batista, 78 anos, diz que a vida dele e da família se transformou numa grande dor de cabeça depois do início da obra. “A gente não tem mais direito sobre a frente da casa”, disse. Caminhões fecham a entrada da garagem, bueiros entopem, a rua se transformou em buracos e lama, e o barulho dos caminhões não o deixa dormir à noite. Luiz Batista perdeu a esposa há 4 meses e diz que o problema de saúde dela foi agravado principalmente pela poeira da rua e da obra. “Ela sentia muita falta de ar e a casa vivia cheia de poeira. Agora o problema maior é o barulho dos caminhões, mas durante a obra, era a poeira”, relatou.
Outro morador da Rua Cupuaçu, o técnico de laboratório Sebastião Sales Gomes, 56, diz que mora no local há 30 anos e a rua sempre foi muito tranquila até o início da obra. “Quando estavam construindo, eles jogavam o entulho dos andares de cima, à noite, e levantava muita poeira, que invadiam as casas”. Agora, são os caminhões que descarregam de dia e de noite. “Passam à noite descarregando, transitando na rua. Não há mais sossego para os moradores”, disse. O escoamento da água da chuva também foi prejudicado, segundo Sebastião, porque antes descia por uma galeria próximo de onde foi construída a área de desembarque. “Eles simplesmente fecharam a galeria que recebia a água da chuva”
A funcionária pública Marília Diógenes, 49, diz que a mãe dela, de 83 anos, sofre com problemas respiratórios desde que a obra foi iniciada. Mas o incômodo maior, depois de inaugurado o shopping, é o tráfego de veículos pesados na rua. “Isso aqui é uma área residencial e eles não poderiam construir uma doca por essa rua”. Ela contou que um caminhão já derrubou a fiação da rua, que não foi adaptada para receber carros grandes, e deixou os moradores sem energia por quase um dia inteiro. “Ninguém é contra o shopping. Sabemos que ele gera emprego, mas nós queríamos que os nossos direitos fossem respeitados”, disse Marília.
Os moradores disseram que já procuraram, diversas vezes, os órgãos competentes da Prefeitura de Manaus, mas nada foi feito. “Quem ainda vinha aqui era a fiscalização de trânsito, que mandava retirar os caminhões, mas quando eles viravam as costas, voltava à mesma situação de antes”, disse a funcionária pública.
Outro lado
A reportagem conversou com a Ouvidoria da Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb), que anotou as informações sobre o problema dos moradores e prometeu encaminhar ao setor de fiscalização. Esse é o procedimento adotado, segundo a pessoa que atendeu ao telefonema. Ela disse que já há denúncias sobre o shopping, mas como o número de reclamações que chegam de toda a cidade é grande, elas entram em uma fila. Por conta do feriadão de fim de ano, os trabalhos no Implurb só serão retomados no dia 5 de janeiro, quando uma equipe de fiscalização deverá ir ao local.
A reportagem não conseguiu contato com a assessoria do Shopping Park Sumaúma ou do Grupo DB.
Doação de campanha
O Grupo DB foi a empresa que mais doou recursos para a campanha de deputado federal de Arthur Bisneto (PSDB), filho do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto. Na prestação de contas final de Bisneto aparecem uma doação de R$ 200 mil, uma de 250 mil e outra de 50 mil do Supermercados DB Ltda. para o comitê financeiro do candidato. Além dessas, também há 388 doações de R$ 820,53 do mesmo supermercado para Bisneto, totalizando R$ 318.365,64. Somados aos R$ 500 mil, foram R$ 818 mil em doações.