Ainda insistindo na importância dos grandes debates sobre a estruturação do Brasil dependente, pois na medida que salientam como esses fundamentos condicionam as possibilidades de um futuro possível para esse esboço de nação, também evidenciam os porquês dos nossos atuais problemas serem, de fato, nossos.
O governo no PT – deixando de lado seu fim trágico – representou – ou pelo menos circula assim no senso comum – um dos maiores governos da história do país, servindo como exemplo muitas vezes até para gringos deslumbrados com as obviedades lulistas. Enfim, esse mito de grandiosidade do partido se deu ao conseguir gerir bem duas forças contrárias: ao mesmo tempo em que agradou, e muito, a burguesia nacional, conseguiu dar alguma coisa para os mais pobres.
Um projeto como o Bolsa Família nunca sofreu oposição da burguesia, nem dos seus mais diversos representantes políticos. Os que fizeram não passavam de conservadores quase analfabetos, que na verdade só arranjavam uma maneira de esboçar seu ódio/medo dos pobres travestidos de ‘opinião’. Para a burguesia esclarecida, o programa era ótimo: como ‘resolver’ o problema dos pobres gastando apenas 0,45% do PIB, sem tocar no poder nem na propriedade? Todos celebravam Lula.
Não é preciso dizer aqui de como essa suposta resolução do problema da miséria se caracterizou como ‘um voo de galinha’. Não durou até a próxima crise bater na porta para a ofensiva dos países centrais cortar tudo em poucos meses. Todas essas ações para maquiar o problema de pobreza faliram por um motivo óbvio, não atacaram o real causador do subdesenvolvimento.
A essência do capitalismo dependente não é outra se não a de reproduzir a pobreza. Ou como brilhantemente insistiu André Gunderfrank ao dizer que o desenvolvimento dependente é na verdade o desenvolvimento do subdesenvolvimento. A pobreza é a galinha dos ovos de ouro dos que estão por cima.
Essa pobreza sistemática caracteriza um país como o Brasil, e com isso dita o modus operandi da política. Isto é, um governo que pega um salário mínimo de R$ 180 em 2001 e aumenta para R$ 788 em 2015 ganha amor dos pobres. Mesmo não se comparando aos mais de R$ 3 mil necessários segundo o Diesse. Essa pobreza sistemática é a baixa referência de vida para as pessoas.
Isso não é uma situação atípica. O salário mínimo não vai aumentando com os anos até chegar no nível duma Alemanha, por exemplo. Pelo contrário, o que o governo Temer nos mostra agora é que esse esboço de prosperidade na última década é, no máximo, uma tentativa de exceção. A regra é a superexploração da força de trabalho. Não por culpa dos empresários, nem da corrupção. O aumento da exploração e da precarização – como gosta de chamar os sociólogos uspianos.
Chegamos aqui a outro ponto importante, o processo de alienação e manipulação não sempre é feito pelo o que é dito, mas sobretudo pelo o que deixa de ser dito fundamentalmente! Isto é, por exemplo, uma das grandes comemorações da equipe econômica de Henrique Meirelles, que teve o selo de aprovação da equipe econômica da Globo News – nasceram um pro outro – é a de que o PIB cresceu nesse primeiro semestre. Sem dizer que cresceu num péssimo lugar: no agronegócio.
Outra promessa dos golpistas é a redução do desemprego. Promessa que, de forma rasa, será concluída, e sem dúvidas comemorada por esses grupos que se amam. Porém, carrega com si o não dito, a redução da taxa de desemprego será acompanhada, ou melhor, causada, por um aumento brutal da precarização. Afinal, todas as contrareformas tão facilmente aprovadas não estão ai para outra coisa. Continua…
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