BRASÍLIA – O Fundo Monetário Internacional (FMI) manteve a projeção de crescimento do Brasil de 0,2% feita em janeiro, quando atualizou suas projeções macroeconômicas globais. Para 2018, o FMI elevou sua estimativa de alta para o PIB do País de 1,5% para 1,7%. As previsões fazem parte do relatório Perspectiva Econômica Mundial cujo título é ‘Ganhando força?’, uma questão direcionada à recuperação do nível de atividade do planeta.
Em outubro de 2016, a instituição multilateral previa que o produto interno bruto nacional subiria 0,5% em 2017 e na ocasião não divulgou projeção para 2018.
De acordo com o FMI, o Brasil deve emergir aos poucos de uma das piores recessões enfrentadas em sua história e projeta que no quarto trimestre deste ano o PIB terá um ritmo de alta de 2,0%, em termos anualizados, ante o mesmo período de 2016. Nos últimos três meses de 2018, o produto interno bruto deve apresentar uma elevação de 1,7% ante outubro e dezembro de 2017, também em base anualizada. No apêndice estatístico do documento, o Fundo indica que espera um crescimento de 2,0% para o Brasil em 2022. “A recuperação gradual ocorrerá com base na diminuição de incerteza política, redução de juros pela política monetária e progressos adicionais na agenda de reformas”, destaca o Fundo Monetário Internacional. “A previsão é que recupere gradualmente o crescimento e continue em ritmo moderado”.
Inflação
O FMI aponta que a inflação no Brasil está em declínio em grande medida devido ao baixo nível de atividade e prevê que atingirá 4 4% no final deste ano e 4,5% no encerramento de 2018. Para o Fundo, o IPCA no Brasil deve continuar em queda no horizonte relevante da política monetária “refletindo uma combinação do hiato do produto negativo e a dissipação de efeitos de depreciação da moeda no passado, choques de ofertas e subida de preços administrados”. Segundo o FMI, “a inflação continua a surpreender para baixo, permitindo uma perspectiva de redução de juros mais rápida”.
Transações correntes
Em relação ao déficit de transações correntes, o Fundo projeta aceleração de US$ 28,4 bilhões neste ano, para US$ 38,2 bilhões em 2018 e US$ 51,1 bilhões em 2022. Como proporção do PIB, estes valores representam 1,3%, 1,7% e 1,9%, respectivamente.
Fiscal
Para o FMI, o ritmo de contração da economia do Brasil vem diminuindo, mas os investimentos e a produção atingiram níveis muito baixos no final de 2016, enquanto a crise fiscal em alguns Estados continuou a se aprofundar.
Na avaliação do Fundo, “as perspectivas macroeconômicas do Brasil dependem da adoção de ambiciosas reformas fiscais e estruturais”. Para o País sustentar a consolidação fiscal de médio prazo, o foco deve ser em reformas para atacar gastos insustentáveis, incluindo os relativos ao sistema de Previdência Social. E há também, diz o Fundo, mérito em implementar ações para conseguir uma redução maior do déficit das contas públicas.
“São necessárias reformas para reforçar o potencial do crescimento não somente para restaurar e melhorar o padrão de vida depois da recessão profunda, mas também para facilitar a consolidação fiscal”, destaca o FMI. Entre os fatores imperativos no Brasil para ampliar investimentos e produtividade estão combater os gargalos de infraestrutura, simplificar o sistema tributário e reduzir barreiras para o comércio exterior.
Economia global
O FMI prevê que a economia global deve crescer 3,5% em 2017 e 3 6% em 2018, numa conjuntura marcada por expansão suave de países avançados e nações exportadoras de commodities ainda sofrendo dificuldades para ver a elevação dos preços destes produtos. No relatório, o fundo revisou um pouco para cima sua projeção anterior de crescimento global neste ano, que era de 3,4% em janeiro. A projeção para o ano que vem foi mantida.
De acordo com o FMI, o volume do comércio mundial de mercadorias e serviços deve subir 3,8% neste ano, sem alteração ante a previsão de janeiro. Para 2018, a previsão atual é de incremento de 3,9%, inferior ao aumento de 4,1% apontado no início do ano.
Para o FMI, os EUA devem apresentar uma expansão de 2,3% em 2017 e 2,5% no próximo ano, previsões iguais às realizadas em janeiro. A China deve avançar 6,6% neste ano e 6,2% em 2018, projeções superiores em 0,1 ponto porcentual e 0,2 ponto porcentual, respectivamente, em relação às informadas no primeiro mês deste ano.
De acordo com o Fundo, “a perspectiva também tem melhorado para a Europa e Japão, com uma recuperação cíclica da produção de manufaturas e comércio que começou na segunda metade de 2016”. O FMI projeta expansão da zona do euro de 1,7% em 2017, aumento de 0,1 ponto porcentual em relação à previsão anterior, e prevê um incremento de 1,6% no próximo ano, projeção que ficou estável ante o número apresentado em janeiro. Para o Japão, a estimativa é de expansão de 1,2% em 2017, marca superior à elevação de 0,8% prevista antes, e de 0,6% em 2018, pouco acima de 0,5% estimado em janeiro.
Na avaliação do FMI, o desempenho dos mercados emergentes e economias em desenvolvimento não apresentam direção única. Enquanto o crescimento na China continua forte, a atividade tem desacelerado na Índia e no Brasil, que enfrenta uma ‘profunda recessão’, registrada especialmente em 2015 e 2016. “Em termos gerais, a atividade continua fraca em países exportadores de commodities, enquanto fatores geopolíticos restringem a expansão em partes do Oriente Médio e na Turquia”.
Premissas
O Fundo Monetário Internacional baseou suas projeções em premissas monetárias e fiscais. Do lado monetário, as previsões do FMI consideram um ritmo menos gradual de elevação de juros no Reino Unido e nos EUA do que esperava em outubro quando divulgou o documento Perspectiva Econômica Mundial 2016.
No caso americano, o FMI ressalta que com uma expansão do déficit fiscal, sobretudo no próximo ano, os juros deverão subir mais rápido do que o esperado há sete meses por causa da demanda e inflação em ascensão. “A projeção é de que os juros nos EUA subirão 75 pontos-base em 2017 e 125 pontos-base em 2018, atingindo uma taxa de equilíbrio pouco abaixo de 3% em 2019”, aponta o documento.
Para outras economias avançadas, o Fundo assume que a política monetária continuará bem acomodatícia. “A estimativa para as taxas de juros de curto prazo na zona do euro é de permanecerem negativas ao longo de 2018 e perto de zero no Japão por todo o horizonte de previsão”, destaca.
O balanço entre gastos e despesas de governos pelo mundo deve desempenhar um papel neutro na economia global para este ano e no próximo. Para as economias avançadas em 2017, o impulso fiscal deve ser expansionista na Alemanha, França e Canadá, neutro nos EUA e Japão e contracionista na Austrália e Coreia do Sul.
“Nos EUA, a previsão para 2018 assume um considerável estímulo fiscal, refletindo mudanças de políticas tributárias do governo federal”, apontou o FMI. “O déficit fiscal americano será ampliado em 2 pontos porcentuais do PIB em 2019, o que implica num impulso fiscal de 1 ponto porcentual do PIB”, destaca. O Fundo levou em conta nas suas projeções mudanças substanciais nos investimentos em infraestrutura naquele país.
Protecionismo
O avanço do protecionismo, especialmente em economias avançadas, é um grande risco ao crescimento mundial, aponta o FMI no relatório Perspectiva Econômica Mundial. Logo no prefácio do documento, Maurice Obstfeld, diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas do FMI, dá o tom de quanto negativas podem ser políticas protecionistas para a evolução do nível de atividade global. “Uma ameaça de relevo é uma mudança na direção do protecionismo levar à guerra comercial”, aponta. “Principalmente em economias avançadas, muitos fatores geraram apoio político para abordagens de soma zero que poderiam minar os relacionamentos de comércio internacional e cooperação multilateral em termos gerais”.
Entre os elementos estão o baixo nível de crescimento desde a recuperação da crise financeira mundial e rupturas estruturais nos mercados de trabalho, com o avanço do desemprego.
De acordo com o FMI, impactos nos empregos de certos segmentos de trabalhadores em economias avançadas, sobretudo com nível de baixa habilidade técnica, estão mais relacionadas com o avanço da tecnologia do que com o comércio internacional. No caso de países emergentes, o fluxo mundial de mercadorias e serviços trouxe efeitos desfavoráveis para funcionários de empresas de alguns setores. Contudo, a globalização compensou bem estas perdas com o aumento do ingresso de capitais em tais nações com ampliação de forma substancial dos investimentos de origem externa.
(Estadão Conteúdo/ATUAL)