“Fiat lux”, assim narra o livro do gênesis a metáfora pela qual todas as coisas foram feitas, segundo a palavra do Criador. O universo veio à luz. E a energia se disseminou em tantas formas materiais e imateriais que até hoje não fomos capazes de conhecer ou ao menos dar conta – a física quântica dá melhor ideia do quanto ignoramos sobre a Criação.
Desde então, o vazio e a escuridão foram ocupados pelas obras da luz. Substâncias, seres inorgânicos e seres vivos difundiram-se em todos os ambientes da terra: nas águas, nos continentes, nos ares e noutras esferas. A luz encheu o planeta de vida e de beleza, reproduzindo nele o equilíbrio cósmico dos multiversos. Ainda assim restaram sombras e escuridão.
Foram os entes humanos que se distanciaram ou se excluíram da luz. Voltaram-se com maior empenho à satisfação de coisas e interesses menores, aos desejos do ego, às ansiedades do mundo, aos apetites do mercado e da carne. Entregaram-se ao fogo de impulsos primários, a poderosos instintos e a condicionamentos culturais degradantes.
As ilusões doentias do personalismo, do poder, do possuir e do prazer exacerbado lançaram a multidões num vazio abismo de trevas. E não foi por falta de avisos nem de orientações. Muitos optaram por se deixarem conduzir pelas delirantes fantasias do mundo, subestimaram a ciência profunda do autoconhecimento e do sentido da existência humana. Foram tantos os que se exilaram da busca da verdade e os que ainda caminham distantes da realidade da luz. Ignorando as exigências da condição humana, descuidando do desenvolvimento da humanidade em cada indivíduo e em cada grupo, levas de gentes se perderam em meio às trevas de caminhos errantes.
Por mais que haja semeado luz, o Criador concedeu o livre-arbítrio às criaturas inteligentes, inclusive para escolher as trevas e rejeitar a luz da Criação. As conseqüências dessas escolhas mal sucedidas não poderiam deixar outros rastros senão as frustrações insuperáveis, o sofrimento, o ambiente doentio, a violência, o crime, o terror, a espoliação, a deformação intelectual, as debilidades cognitivas, o naniquismo ético, a banalização do mal, dentre outros frutos de escuridão que se abatem sobre os foragidos da luz.
O Criador não foi compreendido. Sua mais livre e cognoscente criatura não entendeu nem se aplicou na continuidade da obra da criação. Os humanos tornaram-se filhos pródigos e andaram em busca de ambições que lhes conduzem ao obscurantismo, aos vícios, à corrupção, aos fascismos e à destruição, de si próprios e até mesmo da vida no planeta. Entretanto, a despeito de tudo isso, o Criador não abandonou suas criaturas. E continuou a nos enviar embaixadores da luz para guiar os homens na retomada daquelas verdades atemporais que formaram o que há de humano nos indivíduos e nas coletividades.
Ensinamentos que ecoam ao longo dos séculos, capazes de resgatar da miséria a condição humana, apesar de quase sempre não serem vivenciados e serem ainda ignorados em sua realidade plena. Por essa razão, a urgente necessidade de comunicar, ensinar, lembrar e difundir às consciências obscurecidas, lançadas por motivos diversos aos abismos de escuridão e de vícios, que essa luz brilha como o sol, existe em realidade plena, é tão essencial quanto o ar que se respira, e pode redimir a todos os que a buscam. “A luz veio para iluminar as trevas”, ensina a imortal sabedoria.
Em razão disso, mesmo com todas as limitações e imperfeições, ousa-se proclamar a luz. Quer-se prosseguir fiel à vontade do Criador, que continua a convocar a todos para contribuir na generosa obra da criação. E edificar a humanidade em toda parte.
Portanto, não obstante o frisson do comércio com o consumismo de final de ano, o Natal é símbolo da grande Luz que acende, nos corações e nas consciências, a lúcida esperança para iluminar a caminhada humana de superação das trevas, dos obscurantismos, dos fascismos, das injustiças, das opressões, das barbáries, das misérias, guiando os aprendizes na direção de um novo tempo de vida digna. Assim, a Luz do Natal dissipa as trevas, revelando o caminho, a verdade e a vida em abundância. E nos inspira a prosseguir com a obra da criação: Fiat lux, Feliz Natal!
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