“A crise consiste precisamente no fato de que o velho morre e o novo não acaba de nascer” escreveu o grande pensador Antonio Gramsci nos seus anos prisão pelo fascismo italiano. Tomando como promissora essa linha de raciocínio, resta investigar como anda o imbróglio desta ruptura. Ao final, quem e quando vão desligar os aparelhos dessa desordem social e global que se segue no pós-guerra.
O neoliberalismo demonstra não mais conseguir estabelecer uma política de explicação efetiva da gestão econômica, os Estados dos países centrais claramente enrijecem e aumentam suas participação na economia com medidas protecionistas, enquanto exportam para a periferia a ideologia liberal travestida de ciência neutra, para que assim, ao menos, siga em expansão o fluxo daquilo que alimenta o coração do capitalismo, a taxa de lucro.
Basta ver as quedas da taxa que vem acontecendo desde os anos oitenta nos países centrais do G7, enquanto o resto do mundo presencia um aumento, o que os torna responsáveis por manter a economia mundial. Obviamente não é deles o desfrute dos resultados, é para o centro que vai todo a féria da exploração da periferia.
O problema maior está na natureza da crise – esta não se mostra mais como as tradicionais crises cíclicas já esperadas por todos uma hora ou em outra. A crise atual do capitalismo é estrutural – pois este modo de produção não se faz mais capaz de sanar as demandas populares crescentes ao mesmo tempo que “resolve” os problemas estruturais do seu próprio modo de produção. É como se para cobrir um buraco, tivesse que cavar mais buracos cada vez maiores.
Portanto, o que faz essa crise ter um caráter estrutural, diferenciado das outras? Sua especificidade se faz por estar escancarando um beco sem saída. O impasse se impõe ao se tornar explícita a insolubilidade de suas estratégias. Tudo isso por um tipo de funcionamento da história que já era bem descrito desde Hegel: a contradição.
O capitalismo esta repleto delas. Ele é, inerentemente – de cima a baixo – um sistema contraditório. Muitas vezes convive bem com seus paradoxos arrumando sínteses que movimentam a plasticidade incrível do sistema. Em outros momentos parece produzir contradições capazes de paralisá-lo. É o caso que parece ter atingido a contração entre capital e trabalho atualmente.
O ponto central de todo o processo é a taxa de lucro, mais especificamente, sua redução incontrolável, que se torna tendencial, secular, e até – já há quem diga – irreversível. Relacionada ao desenvolvimento das forças produtivas, cria-se a primeira contradição: as inovações tecnológicas só são incentivadas para o aumento da taxa de lucro, que por sua vez necessita de um aumento da produtividade do trabalho, o que então aumenta a taxa de mais-valor retirada de cada trabalhador, posto que as máquinas acabam por substituir os próprios trabalhadores.
Isto é, os trabalhadores – que também são consumidores – veem seus interesses e direitos negados. Querem aumentar seu salário e prosperar – afinal é disso que tratam as fábulas liberais – contudo isso contraria os interesses dos proprietários que querem sempre diminuir as despesas e aumentar o lucro. Esse conflito é velho, e toma formas específicas em cada momento histórico, e ele é exemplo daquilo que é o motor primordial da história, a luta de classes.
Como via de exemplo: levado as últimas consequências, o que acontece com a produtividade aumentada e o poder de compra enfraquecido? Crise de superprodução. Como via de reflexão: o que espera o capitalismo num contexto de nova revolução industrial? Onde a ofensiva é avassaladora e empresas do mundo todo afirmam que irão automatizar toda sua linha produtiva? Lembrando que robôs não consomem! Se a festa (não) acabou, como previa Drumond, no poema “E agora, José”, o fogo (da mais valia) esfriou. Falta saber para onde e com quem marchar…
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