O pensador francês Jean Paul Sartre e sua parceira Simone de Beauvoir são considerados a consciência do século XX, justamente porque demonstraram a hipocrisia da sociedade. Para eles, o inferno está em nós, assim como também em nós está a solução. Apesar das escancaradas e seletivas denúncias dos escândalos envolvendo a classe política, não há muito a esperar no horizonte de mudanças nas próximas eleições.
Não importa se o político se locupletou com o desvio de dinheiro público; se ele der um rancho ou pagar uma parcela de conta atrasada, ganha o voto. Essa é a descrição da democracia do Brasil e nela, os políticos aprenderam a dar-se bem. Ninguém lhes cobra promessas de eleição, já que os candidatos e seus eleitores sabem que tudo não passa de encenação. O que fazer?
Neste País, jogar pedra na classe política equivale a enxugar gelo, porque sabemos que não há anjos nem demônios nessa tragicomédia, somente a escolha dos eleitores. Não há sequer uma alternativa imediata quanto a esse formato de organização social. Se a maioria que decide sequer está preocupada com a escolha de pessoas qualificadas para gerir os recursos arrecadados por meio dos impostos pagos com o nosso suado trabalho, o buraco da discussão é mais profundo por obra e graça de todos nós, que os escolhemos.
O entrave não está no sistema nem na classe política, está na escolha feita pela sociedade. O problema está em optarmos por ficar na condição de espectadores do que chamamos “o mais do mesmo”: a mesma velha política, as mesmas promessas que nunca serão cumpridas, mas que soam como música aos ouvidos ávidos do eleitor alienado e despreocupado com a delicada e decisiva questão eleitoral.
As eleições de 2018 estão próximas e, mesmo com todos os problemas – não são poucos – que precisamos enfrentar e ficaram mais graves nos últimos anos, não há uma agenda política voltada para a recuperação do Brasil, assim como não existe projeto, um plano consolidado, com a união dos Poderes da República, sociedades organizadas e, acima de tudo, a própria população, receptora de todos os males.
Enquanto isso, os três Poderes da República estão isolados, desunidos e disputam espaços motivados pela fogueira das vaidades e não conseguem ter uma visão do que este País precisa para, efetivamente transformar-se em uma Nação séria e respeitada.
O embate entre Judiciário, Legislativo e Executivo descreve o quadro da desconexão institucional, onde cada um, frequentemente, não analisa a questão além do limite do próprio umbigo, nem é capaz de mobilizar a colaboração do outro para achar saídas. Apesar de todos afirmarem em seus discursos a importância da solidariedade e da partilha, na prática, a “Lei do Umbigo” predomina em detrimento dos encaminhamentos do interesse geral.
Somos bombardeados diariamente com notícias que expõem as feridas do País, mas sem qualquer movimento para a solução ou abrandamento dos problemas. Os caciques políticos divertem-se e indicam candidatos para salvar a Pátria, sem qualquer compromisso com a realidade. Falta-nos um Projeto Nacional, de País, de Nação a ser perseguido e mantido, com objetivos claros, para ajustar a economia, saúde, educação, segurança, infraestrutura…. Os Poderes constituídos não possuem esse interesse e somente pensam no próprio bolso, na manutenção das próprias regalias. Estamos à beira de uma guerra civil. Basta olhar tudo quanto ocorre no Rio de Janeiro, que, nas palavras do general Walter Souza Braga Netto, é um “laboratório para o Brasil”, embora a sociedade esteja focada demais nas próprias excentricidades para se dar conta do momento frágil que o Brasil vive.
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