MANAUS – Uma exposição de cogumelos comestíveis e medicinais que mostra resultados dos estudos com cultivo de fungos amazônicos em laboratório. É o que apresenta o Laboratório de Cultivo de Fungos Comestíveis na exposição que prossegue até neste domingo, 29, na Casa da Ciência, situada no Bosque da Ciência. A atividade faz parte da programação da 14ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC).
A pesquisa no laboratório descobriu num cogumelo da Amazônia, o Pleurotus ostreatus – também chamado de hiratake, shimeji ou cogumelo ostra – um elevado teor de proteína em relação a outros cogumelos. Esse mesmo fungo também foi testado para a atividade antimicrobiana com algumas bactérias e apresentou resultados positivos.
Outros testes foram realizados para as atividades enzimáticas com o objetivo de conhecer a enzima que o fungo libera no metabolismo. Foram encontradas enzimas de grande importância de interesse industrial a exemplo das lacases, que são usadas na produção de papel e também na indústria de cosméticos.
Para realizar a pesquisa, os fungos foram retirados da natureza e submetidos a um processo de domesticação para sobreviver em laboratório. Os cogumelos são cultivados em condições ambientais controladas com uma composição de substratos (alimentos) ricos em carbono (como o bagaço da cana) e em nitrogênio (resíduos de serragem).
De acordo com a pesquisadora do Inpa, Ceci Sales-Campos, a atividade principal do Laboratório de Cultivo de Fungos Comestíveis é a produção de fungos em câmaras de cultivo climatizadas (indoor) e a avaliação de suas propriedades nutricionais. Estes estudos são realizados desde 2008 quando o laboratório foi inaugurado. “Também é feito um cultivo em estufa de controle rústico para a realização de um comparativo”, conta.
Cultivo indoor é um cultivo em ambiente fechado, onde luzes artificiais e temperatura criam o ambiente ideal para o desenvolvimento das plantas.
Potencial
Outro resultado de destaque do Laboratório de Cultivo de Fungos Comestíveis do Inpa é a identificação em dois fungos amazônicos – o Pleurotus ostreatus e um fungo do grupo dos Lentinus – com grande potencial para a produção de um polímero (plástico).
Os polímeros naturais são aqueles encontrados na natureza, por exemplo, borracha (extraída da seringueira), celulose, proteínas e polissacarídeos. Os polímeros são úteis na fabricação de diversos materiais como papel e pneus. Proteínas e polissacarídeos estão presentes nos alimentos que ingerimos.
Esses polissacarídeo (polímeros) dependendo de sua conformação, possuem atividade antimicrobiana e antioxidante, que agem contra o envelhecimento precoce, na longevidade, no controle das taxas de açúcar, modulam o sistema imunológico, inibem o crescimento tumoral e ainda ajudam a reduzir o colesterol.
“Os fungos conseguem aliar essas atividades medicinais de importância e são muito estudados na literatura mundial como na China, Japão e Europa”, destaca Sales-Campos ao comentar que os estudos ainda estão na fase para início de testes que envolvem uma produção em escala maior para poder testar estas atividades.
Segundo a pesquisadora, estes estudos precisam de em um alto investimento para poderem avançar, e para isso é necessário envolvimento institucional mais forte com projetos e aportes financeiros maiores.
Sobre os cogumelos
Os cogumelos comestíveis são os corpos frutíferos de várias espécies de fungos. Pertencem aos macrofungos, pois suas estruturas frutíferas são suficientemente grandes para sem vistas a olho nu. São considerados um terceiro reino alimentar porque não é animal e nem vegetal.
Tem grande importância em relação à saúde humana, é fonte rica em proteínas (necessárias para o desenvolvimento do organismo), fibras e considerável quantidade de fósforo, um mineral que atua no metabolismo auxiliando na ativação das vitaminas do complexo B e também tem a função de fortalecer ossos e dentes, juntamente com o cálcio. Também tem vitamina C e poucas gorduras.