Por Rosiene Carvalho, da Redação
O Fórum Permanente de Mulheres no Amazonas, que reúne cerca de 30 entidades que lutam pelo fim da violência contra a mulher, realizou nesta sexta-feira uma vigília sobre o feminicídio em Manaus, na Colina do Bairro São Raimundo, em frente à Praça do Bairro da Glória.
A vigília foi realizada na mesma data em que o assassinato da dona de casa Vanderlice Aragão de Araújo, 25, com 79 golpes de faca pelo seu ex-companheiro, completou sete dias.
O crime ocorreu na rua Rio Branco, bairro São Raimundo, Zona Oeste da capital. O ato contra o feminicídio em Manaus faz parte das atividades pelos “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres”, e não deixou em branco os assassinatos bárbaros de mulheres que ocorreram durante o período da campanha.
De acordo com dados divulgados pelo Mapa da Violência de 2015, o número de homicídios de mulheres no Amazonas aumentou 174,3% entre 2003 e 2013. O Estado foi o sexto que mais cresceu em números de homicídios de mulheres no país. Ainda segundo dados do Mapa da Violência, a maioria dos assassinatos é cometida por familiares (50,3%) e parceiros (33,2%) das vítimas.
“A vigília foi feita no sétimo dia após o assassinato da dona de casa no São Raimundo. A vigília era por ela, mas era também por outra mulher cujo corpo foi encontrado no Distrito Industrial, por outra morta no Tarumã, outra na Compensa, outra na Glória. A vigília era por todas elas. O local, no São Raimundo, é cercado por todos esses bairros. Mas também está cercado pelo sangue de todas essas mulheres mortas”, declarou uma das articulistas do Fórum Permanente de Mulheres, Francy Júnior.
Francy afirmou que todos os anos, durante os “16 dias de ativismo”, o movimento realiza atos como alerta à sociedade. Este ano, as atividades foram realizadas nas comunidades. Mas já foi feito, por exemplo, em frente ao TJ-AM (Tribunal de Justiça do Amazonas) como forma de chamar a atenção para a demora na tramitação e investigação desse tipo de denúncia.
“A dona de casa do São Raimundo já havia feito inúmeros boletnis de ocorrência”, ressaltou.
Violência doméstica
Francy afirmou que o movimento tenta conscientizar também as mulheres sobre os caminhos que levam aos assassinatos. Segundo Francy, atos considerados banais do dia a dia, mas que também violência contra a mulher, estão no início da maioria das relações que terminam em morte por violência doméstica.
“Tudo começa com um ‘Nossa como você está feia’; ‘Essa comida não presta’, ‘Você é igual à sua mãe’; Nisso, a violência vai crescendo. A mulher vai se sentindo inferior ao todo-poderoso, o homem. Depois começam os empurrões, os beliscões, os puxões de cabelo. A mulher vai se inchando, cedendo, se sente pequena. Algumas explodem, quando o poço está cheio das pancadas, humilhações, estupros e xingamentos. E é nesse explodir e dizer não que eles começam a pensar e arquitetar a morte da mulher”, afirmou Francy.
De acordo com a organização do evento, a comunidade acolheu o ato. Alguns olharam de longe, mas outros se aproximaram, buzinaram e deram sinais com as mãos de que apoiavam o fim da violência contra a mulher.
Francy Júnior afirmou que a questão de direito de gênero precisa ser mais discutida e não sepultada sem nem mesmo iniciar. Ela afirmou que o preconceito, a ignorância e o medo de se abrir espaços colaboram para manutenção da violência.
“Nós sabemos que nem todo homem é agressor. Há homens que dividem as tarefas domésticas, que não colocam a mulher só na condição de servir, que demonstram dentro das casas atos de amor e de fraternidade e dão bons exemplos para os filhos”, afirmou.
O ato de vigília, identificado nas redes sociais como #portodaselas,
Mote
A campanha usa como mote a seguinte frase: “Companheira, me ajude! Eu não posso andar só, eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor”. As seguintes hastags estão sendo usadas pelo movimento: #portodaselas, #nenhumaAmenos #mexeucomumamexeucomtodas, #seguimosemluta, #atéquetodassejamoslivres, #feminismoérevolução, #feminicídioécrime, #estudosdegêneronaescolajá!