Em 24 de julho, plena campanha, escrevi que o cenário das eleições de agosto estava definido e que a disputa em segundo turno seria travada entre Amazonino Mendes e Eduardo Braga. Naquela altura, havia quem apostasse em Rebecca Garcia, considerado o crescimento de sua candidatura em Manaus, indicado por alguns institutos de pesquisas. Mesmo assim, nunca acreditei em tal possibilidade, diante de limitações notórias da candidata, muito bem expostas em seus programas eleitorais e em sua participação nos debates políticos na televisão.
Rebecca terminou perdendo para o candidato do PT, José Ricardo, e para o próprio Braga, amargando um modesto quarto lugar na capital. Sua candidatura não passou de um equivocado balão de ensaio orquestrado pelo governador interino, embora se deva registrar desempenho razoável, consideradas suas dificuldades pessoais. Pode colher resultados em projetos futuros, uma vez que manteve o nome no proscênio, pelo menos, contanto que em pleitos não majoritários. Não custa lembrar que no passado tivemos candidatos ao Senado que obtiveram mais de 250.000 votos e que mais tarde não conseguiram sequer conquistar mandato de vereador em Manaus. Como é elementar, cada eleição é uma nova eleição, com história e características singulares.
Ingressamos agora na etapa final do pleito, em segunda fase, com sinalização que evidencia evolução do quadro em favor do candidato Amazonino Mendes. Com cerca de 200.000 votos de vantagem, tendo vitória bastante expressiva em Manaus, torna-se praticamente impossível para Braga vencer tamanha diferença em tão curto espaço de tempo. De mais a mais, independente de qualquer aferição científica, é possível perceber a formação de uma onda na capital em benefício de Amazonino, a famosa ola, que já aparece em levantamentos informais.
Amazonino, ao contrário de seu principal adversário, promoveu uma campanha limpa, otimista, com o discurso de que “quem ama reconstrói” e de que pretende “arrumar a casa em 12 meses”, sem propostas e promessas mirabolantes, irrealizáveis e demagógicas, que hoje não merecem a menor credibilidade. Foi claro, ao formular diagnóstico crítico da realidade que deverá encontrar na administração pública, sem cair na tentação de revelar-se espécie de demiurgo capaz de resolver todos os males e a crise profunda do Estado, como num passe de mágica. Por isso mesmo, conqui stou a confiança dos eleitores, agindo em sentido inverso do que fez e disse Braga, que prometeu Deus e o Mundo, com soluções prontas e imediatas para todos os graves problemas do Amazonas. Amazonino pregou a paz e a concórdia e convocou os amazonenses para a grande obra de restauração do Estado, com gestos solidários e plenos de humanismo. Braga, na outra ponta, atirou o tempo todo contra o adversário, com linguagem insidiosa, grosseira e agressiva, ainda que ele próprio extremamente vulnerável aos ataques mais virulentos, em razão dos recentes acontecimentos e escândalos que abalam a República.
Há também marcada dessemelhança entre ambos e isso ficou bem patente, a despeito de qualquer representação, elaborada ou não, no comício na telinha da televisão durante os programas eleitorais. Amazonino procurou identificar-se com a gente simples do povo, temperamento modesto e afável, não arrogante ou autoritário, fatos que se revelaram nas pesquisas de opinião. Braga, sem condições de proceder da mesma forma ou em igual nível, tentou desculpar-se perante o povo por seu irascível e contumaz comportamento, sem conseguir êxito, porquanto evidenciou-se no gesto marcada inautenti cidade, além de praticado a destempo.
Assim foi o primeiro turno, com números nunca vistos de abstenções, votos nulos e brancos. A respeito, não creio que haja maiores alterações. Tem-se presente uma eleição solteira, fora de época, que não oferece motivações típicas de um pleito geral, quando em jogo a escolha do grosso da representação política nacional. Agora, espera-se que a campanha mostre-se bem mais propositiva, sem rodeios ou simulacros, sem demagogia barata, em nome das mais legítimas expectativas do eleitorado amazonense.
Trata-se de uma leitura, apenas e tão somente. Afinal, vamos ver, que no dia 27 falem as urnas.