MANAUS – Mudança na cúpula da Polícia Militar do Amazonas. O coronel Almir David, comandante-geral da PM deixará o cargo nas próximas horas e no lugar dele deve assumir o coronel Eliézio Almeida, atual subcomandante-geral. O Estado Maior da PM será comandado pelo coronel Marcos César. E no lugar de Eliézio assume o coronel Aroldo Ribeiro, que chefiava o Comando de Policiamento Metropolitano (CPE).
A troca é mais política do que técnica. O governador José Melo (Pros) quer segurar os coronéis que estão sendo cooptados pelo senador Eduardo Braga (PMDB), candidato ao governo do Estado. O anúncio da troca de comando foi feita pelo governador durante um almoço, nesta quarta-feria, com os coronéis da PM. Eduardo Braga também já tem um almoço agendado com os coronéis da PM. A disputa eleitoral acabou por esfacelar o que ainda restava de respeito à hierarquia, um dos princípios da Polícia Militar.
A mudança de comando também faz parte de um processo de disputa interna entre os coronéis, que resultou em uma série de problemas que afetam a hierarquia da Polícia Militar. Na sexta-feira passada, por exemplo, o comandante do Comando de Policiamento Ambiental, coronel Escóssio, entregou o cargo porque não concordava com as ações do subcomandante Eliézio. Também deixou o cargo o comandante do Comando de Policiamento Especial (CPE), Fabiano Bó. No mês passado, o major Wilmar Tabaiares foi demitido do cargo porque não atendeu a uma ordem de Eliézio.
Quem é Eliézio
O coronel Eliézio Almeida é um velho rival do comando da Polícia Militar quando Eduardo Braga era governador. À época, ele dirigiu o Clube dos Oficiais da PM e, nos bastidores, trabalhou para enfraquecer o comandante-geral da PM, coronel Dan Câmara. Com a saída de Braga do governo, Dan Câmara também caiu, mas Eliézio não chegou a ocupar o posto, como pretendia. No entanto, ganhou força sendo nomeado subcomandante. Nos últimos meses, Eliézio ganhou força, também atuando nos bastidores.
Durante os dias que antecederam a greve da Polícia Militar, em abril deste ano, Almir David apareceu pouco e quando apareceu foi para cumprir um papel de coadjuvante. Na linha de frente estava o secretário de Segurança Pública, coronel Paulo Roberto Vital, que também estava de mãos atadas. Por trás dos dois, estava Eliézio e um grupo de oficiais mais alinhados com o governador que dialogavam com os cabeças do “movimento”, como chamou o governador no final. Almir David e Roberto Vital ficaram desmoralizados e Eliézio ganhou prestígio na corporação.
Desde o mês passado, ele vinha dando as ordens na Polícia Militar. Foi dele, por exemplo, a ordem para que o Batalhão Ambiental retirasse a barreira montada na rodovia AM-070, próximo à Ponte Rio Negro, que fazia apreensões de madeira e animais silvestres mortos. Foi dele também a ordem para demitir do cargo o comandante do Batalhão Ambiental, major Wilmar Tabaiares, como também foi dele a nomeação do novo comandante do batalhão, que está desmontando a estrutura de fiscalização e liberando o crime ambiental no entorno de Manaus.
Desabafo
Em tom que mistura desabafo e denúncia, a mulher do major Franciney Bó, Paula Castro Bó, publicou no perfil dela no Facebook em que passeia pelos problemas que afetam a cúpula da Polícia Militar e resultou na série de demissões no comando da corporação. Ele denuncia, primeiro, a interferência política. “Esses oficiais entregam os cargos, porque não admitem ver a corporação, que tem a obrigação legal de defender a democracia, ser transformada em curral eleitoral”, disse em defesa do marido, que foi exonerado do cargo de subcomandante do CPE, depois que o irmão dele, Fabiano Bó, entregou o cargo.
Paula Castro Bó também denuncia a situação de abandono dos quartéis da PM e da falta de estrutura, por exemplo, para manter os animais da cavalaria e do canil. “Fazem isso [os oficiais que pediram exoneração), porque não suportaram mais ver os animais da corporação, cavalos e cães, sem ração e sem medicamento para receber o devido tratamento veterinário…fazem isso, por ver pessoas com necessidades especiais praticantes da equoterapia ter seus tratamentos interrompidos porque a corporação transferiu os policiais especializados nessa atividade para outras funções”.