É natural que o início de um novo ano nos renove a esperança em um futuro melhor. É próprio do ser humano iniciar ciclos prometendo mudanças, acreditando que tudo pode ser diferente. É isso que nos impele a prosseguirmos mesmo diante dos dissabores da vida. Santo Agostinho já nos dizia que a esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como elas estão; a coragem, a mudá-las.
É claro que o tempo atual não é um dos melhores para se cultivar esperanças, mas já passamos por tempos piores. Ô se já! Lembremos da ditadura militar nas décadas de 60 e 70, da inflação galopante do final da década de 80, do arrocho salarial da década de 90 e da situação da educação brasileira no início dos anos dois mil. Era tudo sem dúvida nenhuma muito pior do que é hoje.
Contudo, a memória fraca por vezes nos trai fazendo-nos crer que a agrura de agora é sempre a pior de todas. Somos sim um povo imediatista, cujos acontecimentos históricos alcançam no máximo o ano anterior. E olhe lá! É essa amnésia coletiva que nos faz perder a real dimensão das coisas. A Física nos mostra que medir é um processo comparativo que requer um padrão de referência, é necessário se colocar lado a lado as coisas para se poder ter noção de sua indiferença.
Mas como se medir o tamanho de uma crise? Só a comparando com outras em intensidade, extensão e consequências. É olhando para trás que podemos ter a exata medida do tamanho da encrenca que estamos metidos hoje e, principalmente, encontrarmos soluções para sairmos do estado atual. A lamentação e o pessimismo não nos moverão um único milímetro do ponto em que estamos.
Neste sentido é bom pensarmos nos avanços que tivemos, não para negligenciarmos metas futuras mais ousadas, nem para perder de vista o que ainda falta ser feito, mas para sabermos que melhorar é algo factível mesmo a despeito das dificuldades que existem, e que sempre existirão, ao longo do percurso. Franz Kafka, escritor Tcheco, conhecido por seu pessimismo, dizia que devemos ser felizes com pequenas conquistas, pois a vitória triunfante que sonhamos pode nunca chegar. Que assim façamos, então!
E antes que alguém ache que abriu a coluna errada por nada relativo a educação ainda ter sido dito, colocaremos um dado que é capaz por si só de nos encher de esperança no futuro nos dando um orgulho ainda maior do presente, de acordo com o último levantamento do ministério da educação (MEC), divulgado há pouco mais de dez dias, um em cada quatro brasileiros que terminaram o ensino superior em 2014 são os primeiros membros de suas famílias a terem uma graduação.
A informação foi dada em uma entrevista coletiva do Ministro da Educação, Aloízio Mercadante, quando mostrava o resultado da última avaliação do ensino superior. Surpreendentemente a notícia não rendeu manchetes nos grandes jornais, nem capas nas revistas mensais, tampouco viralizou nas redes sociais, mas se pararmos para pensar na relevância social desta conquista veremos que é algo que vale a pena se orgulhar.
Imagine agora na perspectiva de futuro melhor que estas pessoas, sendo as primeiras da família a concluírem o terceiro grau, não conseguem dar a todos os seus familiares; para os mais jovens fica a esperança de trilhar os mesmos passos; para os mais velhos a esperança de uma velhice mais amparada, para todos nós a esperança de uma sociedade com mais igualdade de oportunidades.
Que 2016 seja um ano de muita esperança, mas como disse o grande mestre Paulo freire: “esperança do verbo esperançar, porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo…”
Um Feliz ano novo a todos!