Há deficiências de toda ordem em Manaus? A contento, nada ou quase nada funciona. Pesquisa recente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro situa a cidade como a pior capital do Brasil para se viver, segundo Índice de Desenvolvimento Municipal daquela organização patronal. Na avaliação foram consideradas estatísticas oficiais publicadas pelo governo federal, em matéria de emprego, renda, educação e saúde. Em particular, geração de ocupação formal, salário médio no município, taxa de matrícula e abandono da sala de aula durante a infância, números de consultas pré-natal e óbitos por causas mal definidas.
Manaus, pelos dados governamentais, perde para outras 25 capitais do País, em níveis de desenvolvimento. Isto se ficarmos adstritos aos índices mais gerais, com levantamentos em áreas que alcançam todos os segmentos da sociedade, de uma ou de outra forma. Numa verificação mais setorizada, o desastre é total. Há uma gama de serviços prestados com extrema precariedade, quando prestados ou quando não são suspensos a qualquer momento, embora considerados de igual modo essenciais, especialmente ao servirem de instrumento de trabalho para a população.
Se tivessem levado em conta o que acontece no fornecimento de água, energia, telefonia, internet, sistema de transporte público, conservação de vias urbanas, calçadas, limpeza e outros serviços, certamente passaríamos do fundo do poço. Estamos cansados de saber que não avançamos um metro sequer sobre a rede de esgoto sanitário deixada pelos ingleses, no início do século passado. Creio, portanto, que os resultados da investigação do órgão de representação da indústria fluminense chegam a ser modestos, diante do descalabro total.
Ninguém consegue hoje concluir em Manaus uma curta conversa telefônica sem interrupção. Os bairros periféricos continuam em estado deplorável, com muitas ruas intransitáveis, dominadas pela lama, e sem água nas torneiras. O transporte público é um vexame, com ônibus superlotados, em permanente atraso e filas quilométricas. A desordem urbana agride e os apagões são constantes no sistema de geração de energia elétrica. A internet, quando não é interrompida a qualquer hora, chega com lentidão de fazer inveja aos quelônios amazônicos. Muitos megabytes são comercializados, contratados e pagos regularmente, mas jamais são realmente entregues aos consumidores. Como consolo, não se tem nem o “m” dos megabytes, mesmo sem os correspondentes bytes. Não há como ultimar de modo satisfatório e em tempo razoável um download, com arquivo bem modesto. E os e-mails, mensagens eletrônicas, ou não saem dos computadores dos remetentes ou não chegam aos seus destinatários. Para quem depende como profissional da rede mundial, sobra a aflição do dia a dia, com prejuízos que podem ser fatais, diante da urgência inadiável das comunicações ou em relação à prática de determinados atos.
Mais grave é o silêncio de quem teria obrigação elementar de se insurgir contra esse quadro vergonhoso. Tudo indica que os problemas não têm a menor prioridade e não se ouve uma única voz de protesto contra a balbúrdia existente nas operações de telefonia e internet. As prestadoras, lépidas e fagueiras, gozam da mais absoluta impunidade, zombam de seus usuários e vendem planos além de sua capacidade, fato que tem gerado permanente instabilidade operacional.
Sem qualquer proteção do poder público, resta reclamar ao bispo. A portabilidade, que permite aos consumidores mudar de empresa mantendo o mesmo número de telefone, anunciada como estimuladora da concorrência entre as operadoras, revelou-se inteiramente inútil, pois troca-se nada por coisa nenhuma, quando muito. E onde andam as agências reguladoras, responsáveis pela fiscalização e pela exação no cumprimento da legislação das telecomunicações no Brasil? Ineficientes, sumiram. No plano local, o que dizem as autoridades? Pelo visto, nada.
Em tudo isso, uma certeza: as contas a pagar mostram-se sempre indefectíveis e com valores crescentes, no final de cada mês. Chuva ou faça sol, com ou sem apagão. É o fim da picada.