MANAUS – A população brasileira aplaudiu, apoiou, fez festa com a greve dos caminhoneiros. Eles pararam o país. “Foram os únicos que tiveram coragem de fazer alguma coisa”, repetiram à exaustão os desinformados. Outros aproveitaram para tirar uma casquinha e se beneficiar politicamente. Outros, ainda, saíram às ruas para pedir intervenção militar no Brasil.
“Nada do que foi será”, já dizia o poeta. E quem conhece bem a história deste país, sabe que a corda arrebenta sempre do lado mais fraco. Não deu outra. Os caminhoneiros, os donos de caminhões, fizeram seu papel, reivindicaram, paralisaram as atividades, em busca de um preço mais justo para o diesel. Ninguém pode lhes tirar a razão.
Mas um movimento como o que vimos no Brasil na última semana não se faz só com os caminhoneiros autônomos. Está provado que por trás da chamada greve (não era greve, era apenas a suspensão das atividades dos caminhoneiros), havia empresas, federações, confederações interessadas em faturar. Não estava em jogo apenas o preço do combustível.
No fim das contas, os caminhoneiros e as empresas de transporte venceram, conseguiram baixar o preço do diesel, mas a custa de quê? O governo já deu o recado. A forma encontrada para compensar a perda de receita com as medidas adotadas para baixar o preço do combustível é o aumento de impostos.
De novo, o cipó lapeia as costas dos trabalhadores, dos mais pobres, da classe média que anda de carro porque o país não dispõe de transporte público de qualidade.
Nada se fala sobre a redução do preço da gasolina. A Petrobras já reduziu o preço para as distribuidoras. Na terça-feira, 22, o preço do litro da gasolina bateu R$ 2,0867 o litro vendido pela Petrobras. Nesta terça-feira, 29, está sendo vendida a R$ 1,9526. Uma queda de R$ 0,13 (treze centavos) no litro. Mas em Manaus, nenhum centavo foi reduzido. Os governos estaduais se recusam a reduzir o ICMS sobre a gasolina e o diesel.
Na quinta-feira, 24, uma boataria levou centenas de motoristas aos postos de combustíveis. Por medo de faltar combustíveis, formaram-se longas filas e zeraram-se os estoques dos postos. Quem ganhou com isso? As distribuidoras e os postos. Venderam em dois dias o que venderiam em uma semana ou duas.
E agora, o governo baixou o preço do diesel, mas o governo estuda medidas para recuperar esse dinheiro metendo a mão no bolso do trabalhador.
E o trabalhador, que não tem como parar as atividades sem o risco de ficar sem emprego, num país com 13 milhões de desempregados, só tem uma opção: pagar a conta, ou, como diz a Federação das Indústrias de São Paulo, “pagar o pato”.