À medida que os dias passam, as delações escancaram, as contradições se acirram e a tese de que a nova república – que nasceu alicerçada no pântano golpista – se aproxima do buraco e seu fim ganha força. Há um desintegração generalizada que dificilmente poderá ser reparada com medicamentos paliativos.
O que se apresenta é, com pouco espaço para dúvida, a grande crise institucional – em processo de evidenciamento crescente, apesar das medidas econômicas publicitárias. O caos não teve origem recente. Pelo contrário, desde que Lula passou a bola para a despreparada, inexperiente e desarticulada Dilma, se criou uma batalha, por ela fomentada, entre o Executivo com o Legislativo.
O Judiciário, por sua vez, não deixou de fazer parte desse cenário político por um instante. Eis que possui grande capacidade de ingerência política (basta ver, por exemplo, sua capacidade de adiar ou adiantar julgamentos decisivos) – isto é, este nunca deixou de ser, antes de tudo, uma ala fundamental da prática sorrateira da política institucionalizada. O STF, a propósito, não só deu sustentação para o golpe atual, como já havia participado no golpe militar de 1964.
No meio desta articulação mútua entre os poderes republicanos, uma das bombas da semana passada foi a desobediência do Presidente do Senado Renan Calheiros, e de sua mesa, sob a ordem de afastamento emitida por um dos ministros do Supremo.
Tais fatos – as ações políticas do judiciário, seguidas de desmoralizações por parte do legislativo – contam algumas dascaracterística que fogem da forma ideal e constitucional de república – e passam a ter cada vez mais traços de um estádio de sítio.
Uma disputa de poder se eleva, estremecendo as bases institucionais. Se o Supremo se equivocou em agir escancaradamente de forma política, o descumprimento de sua ação demonstra que a lei não está mais em primeiro plano – se é que um dia esteve para além do ponto de vista formal.
Uma figura como Renan – ter a possibilidade e o respaldo desta anemia suprema, enquanto movimentos sociais são rechaçados e violentamente reprimidos ao postular democracia – deixa claro que a força policial de monopólio do estado tenta manter uma ordem que, em essência, se configura como a real desordem.
Como se não bastasse, essa semana movimentadíssima ainda nos trouxe uma série de denúncias apontadas para políticos tucanos nas delações da Odebrecht, e a caricata e sintomática ação do Senado de votar um projeto de “abuso de poder” para que assim se contenham as investidas e investigações da Lava-Jato – evidenciando o que já trouxera há meses o áudio vazado, onde Romero Jucá sugere tirar a ex presidente para “estancar a sangria”.
Nesse impasse, poucos parecem ser capazes de apontar uma saída institucional plausível, isto é: como levar a sério nossos poderes se Temer, Renan, Maia e outras figuras ainda permanecem em pé mesmo diante tantas denúncias e investigações antigas e atuais? Para via de comparação, no modelo político estadunidense – cujo servira de modelo para a consolidação do nosso, por maiores diferenças que conservem – tal situação nunca poderia se sustentar por mais de alguns dias antes que qualquer um desses líderes fossem obrigados a renunciar.
A nova saída que vem sendo repetida e reforçada pela mídia é uma suposta emenda que possibilitaria novas eleições gerais para presidente, sugerida pelo ex presidente Fernando Henrique Cardoso, que tem seu nome especulado como um dos possíveis candidatos.
Diante disso, outra dúvida emerge: que candidatos seriam escalados para a disputa? Para a ala liberal, o próprio FHC? Para a extrema direita o bizarro Bolsonaro? Intervenção Militar? Para o conservadorismo religioso, qual seria o nome indicado? E por fim, para onde se inclina o maior paradigma ideológico atual: para esquerda? Qual é o plano agora? Um país sem teogonia para se encostar…
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