MANAUS – O comportamento de Jair Bolsonaro e do staff da campanha dele de dizer e depois desdizer tem sido recorrente. Foi assim no caso do “posto ipiranga” Paulo Guedes, que sugeriu a recriação da CPMF; foi assim no caso do vice Hamilton Mourão, que criticou a existência de 13° salário ao trabalhador. Nos dois casos, Bolsonaro pediu que eles fechassem a boca, e tratou de dizer que nada do que eles falaram seria feito num eventual governo seu. O último episódio foi protagonizado pelo próprio Bolsonaro.
Ainda no hospital, ele concedeu entrevista a José Luiz Datena, da TV Band, e disse, com todas as letras, que não aceitaria o resultado das urnas se ele não vencesse a eleição presidencial. E foi além: disse que não confia na segurança das urnas eletrônicas e que Lula, ao aceitar “passivamente” ir para a cadeia, teria um plano B, que seria a fraude eleitoral.
No dia seguinte, um jornalista do jornal O Globo questionou Bolsonaro sobre o significado da expressão “Não aceito o resultado das eleições diferente da minha eleição”. Nem precisava perguntar, bastava assistir à entrevista concedida a Datena. A fala de Bolsonaro está cristalina.
Mas ele deu a seguinte resposta para “O Globo”:
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“Sei que não tenho nada pra fazer [em caso de derrota]. O que quis dizer é que não iria, por exemplo, ligar para o Fernando Haddad depois e cumprimentá-lo por uma vitória. Se tiver segundo turno, vai ser o Haddad que vamos enfrentar”.
Abaixo, reproduzo o diálogo entre Datena e Bolsonaro sobre o resultado das urnas:
Datena – Partindo desse princípio, admitamos uma hipótese que o PT vença o senhor e faça o Haddad presidente da República, as instituições militares aceitariam isso tacitamente?
Bolsonaro – Eu não posso falar pelos comandantes militares, respeito todos eles… E eu, pelo que vejo nas ruas, eu não aceito o resultado das eleições diferente da minha eleição.
Datena – Isso é ponto de vista fechado?
Bolsonaro – Fechado.
Datena – Mas isso não é antidemocrático?
Bolsonaro – Não, não é, porque é um sistema eleitoral que não existe em lugar nenhum do mundo. Eu apresentei um antídoto a isso. A senhora Raquel Dodge [procuradora-geral da República] questionou e olha o argumento dela, Datena: que a impressão do voto comprometeria a segurança das eleições. Pelo amor de Deus. Inclusive, tava acertado que 5% das sessões teríamos a impressão do voto. Eu pedi uma audiência com o ministro [Luiz] Fux para tratar desse assunto com ele e falei: ministro, eu quero fazer só um pedido. Já que não dá para ser 100%, questões orçamentária, tudo bem. Mas que essas sessões sejam pulverizadas pelo Brasil. Ele me disse: essa decisão já foi tomada, não se preocupe. Tava tudo certo em 5%, os recursos prontos pra nós podermos auditar as eleições. No momento não tem como auditar.
Datena, me permite aqui, deixa eu tomar a frente, fazer o teu papel aqui. Datena, no lugar do Lula, você aceitaria passivamente ir pra cadeia se não tivesse um plano B no bolso?
Datena – Bom, em primeiro lugar, eu não gostaria de estar no lugar do Lula, eu não sei como responder a sua pergunta, no método socrático. Até porque, eu não me coloco na posição dele [Datena pede para se abster, não responder].
Bolsonaro – No meu entender, o plano B é a fraude eleitoral.