Por Valmir Lima, da Redação
MANAUS – Os inquéritos da Polícia Federal trazem uma série de frases reveladoras do médico Mouhamad Moustafa, apontado como o chefe ou principal elemento da organização criminosa identificada na Operação Maus Caminhos. As principais frases, que o ATUAL selecionou e reproduz abaixo, foram ditas durante uma reunião, em 2016, depois que a CGU (Controladoria Geral da União) realizou uma inspeção no INC (Instituto Novos Caminhos), a organização social usada para desviar dinheiro da saúde no Amazonas. Elas estão incluídas nos processos da Operação Maus Caminhos e seus desdobramentos. Confira as frases e os contextos em que foram ditas (Os grifos são da Policia Federal e as transcrições estão como nos documentos da PF):
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“Eu estou por opção, porém não to só por opção, estou por viver disso. Hoje é uma questão de conta, tira todos os nossos contatos públicos, onde a gente tem cota política metida e tal a empresa não sobrevive, se você colocar do que eu faço nas minhas particular, a TOTAL só tem (inaudível) público, a OS já é uma coisa que é só público, se eu passo pra SALVARE só (inaudível) particular, eu não mantenho nem a sede aquele que a gente tinha lá na Silves em aberto, tem que sair fechando tudo, entendeu?! Então bom seria se eu conseguisse viver de uma coisa tipo eu vivo, tipo eu tenho um negócio paralelo hoje que é da música entendeu?! E mesmo na música tem uma porrada de ilegalidade po! A gente declara menos bilheteria, (inaudível) pega tudo, então enfim a gente vive num país que a base dele é a ilegalidade, em tudo que a gente faz.”
Contexto: Mouhamad Moustafa falava da necessidade de legalizar as ilegalidades nos contratos com a Susam e lembra que no País até os negócios privados são fraudados. Ele diz que mesmo no negócio com a música “tem uma porrada de ilegalidades”, como a declaração de menos bilheteria.
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“Esperar a porrada vim como o senhor disse tem um período de cadeia pra todo mundo tem, entendeu?! De que que vai adiantar? Porra nenhuma… Então eu continuo caindo a campo, resolvendo as coisas, buscando pessoas dentro dos órgãos que ninguém é anjo, entendeu?! Sabe o pessoal vai em cima as vezes pra criar problema maior pra eles te venderem a resolução daquilo, entendeu?!”
Contexto: Moustafa, depois da visita da CGU, teme que os envolvidos sejam presos e tenta tranquilizar os participantes da reunião, ao dizer que está fazendo de um tudo nos órgãos governamentais para evitar o pior para a organização criminosa.
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“Aquela (inaudível) vou contar uma coisa aqui totalmente aberta, que aquele contato que eu tinha feito com o senhor, que até cheguei a te levar junto com o Secretário de Saúde pra gente reunir pra tratar do assunto do CECON pra entrar lá no, pra entrar lá no CECON e trazer o pessoal que é lá do Pará. Esse pessoal do Rio de Janeiro que foi preso, da, da seringa de cavalo lá do gás do caralho a quatro que (inaudível), já vieram aqui pegaram quatro milhões em dinheiro é deles a unidade tudo que for de lá é deles. No Rio de Janeiro é comprado, em Brasília já tá o leilão sendo feito lá, entendeu?! No Mato Grosso pra entrar mais dois milhões, então é o país merda.”
Contexto: Moustafa fala da corrupção generalizada no setor em que atuam as organizações sociais, e cita Rio de Janeiro, Brasília e Mato Grosso como exemplos.
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“Eu não vou falar isso pra um juiz e um desembargador porque é igual eu, aí eu mesmo tenho que entregar, tirar minhas joias e tal e falar me algema e me leva pra cadeia, mas eu juro pro senhor que eu toparia tirar tudo que eu tenho de CUSTO POLÍTICO e ainda 50% do meu lucro pra trabalhar legal. Só que aqui nesse país não funciona.”
Contexto: Mouhamad Moustafa revela o quanto se paga em propina. Ele diz em outro momento que os valores pagos aos agentes políticos – Custo Político – são superiores aos lucros e diz que aceitaria até reduzir seus ganhos em 50% se conseguisse deixar de pagar propina.
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“Por isso que desde dessa reunião que tô indo agora, eu tô indo pra gente realmente resolver a equipe que fica no meio disso lá na SUSAM., que basta elas chegarem lá que eles não precisam nem bater que elas vão falar de quem Porque esses (inaudível) trabalho e tudo, tem muito a ver com a SUSAM aceitar, entendeu? E depois ser corroborado pelo o TCE, então tipo assim vai ser uma coisa que vai envolver vários órgãos, muitas coisas a gente vai ter que tá alinhado com isso daí, entendeu?”
Contexto: Aqui, Mouhamad fala da necessidade de alinhamento com os órgãos de controle, além dos agentes governamentais, para garantir o sucesso da organização criminosa. O Ministério Público de Contas do TCE tinha uma representação para investigar o contrato de gestão do INC.
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“Eu falei isso pra PRISCILA, dois dias antes da CGU chegar aqui, o cara me liga querendo me encontrar. Aí ele falou: Vamos nos encontrar amanhã? O cara da (inaudível). Eu falei: Pode ser até hoje. É aquela coisa do tipo assim: “Deixa eu meter ele no rolo que ele vai vim me pedir ajuda e eu resolvo”. Porque aí tem TCU, TCE, é tudo com ele, entendeu? Sabe ele tem esse pessoal lá comprado. Da mesma maneira que eu, sou responsável politicamente de pagar alguns órgãos daqui, incluindo eles, o Conselho Estadual de Saúde, no Conselho Estadual de Saúde eu não tenho problema. Só que eu não uso do fato de eu bancar eles pra prejudicar ninguém, isso é coisa de mau caráter coisa que não sou. Ele não, ele se presta a isso, então se tá na cota dos contratos dele pagar os Tribunais de Contas e as Controladorias, ele é um cara que ainda faz assim: “Bora derrubar ali, porque eu vou assumir, a gente ganha mais e sobra mais pra gente. ” (Inaudível), entendeu? Só que eu não entro no jogo deles, apesar de pouca idade, eu sou muito malandro, entendeu? Mas não malandro ao ponto, de ser inconsequente, achar que tudo isso que tá acontecendo tá tranquilo (…).”
Contexto: Na conversa depois da visita da CGU no Instituto Novos Caminhos, Mouhamad Moustafa fala de uma pessoa que ligou para ele e sugere que tal pessoa já sabia da investigação em curso. Ele não identifica a pessoa, mas diz com todas as letras que ela compra agentes públicos em diversos órgãos, inclusive nos órgãos de controle.
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“Só que tenho também a consciência que pra ter a vida que eu tenho, e poder pagar o que você recebe, que a JENNIFER recebe, que a PRISCILA recebe, e as estruturas que as empresas, (inaudível) e continuar na frente de isso aí, eu não tenho como ser desse tamanho e fazer tudo isso e ser legal, tanto isso é realidade dentro do nosso país, que as maiores empresas do país, estão se acabando com corrupção, entendeu?”
Contexto: Aqui, Mouhamad confessa mais uma vez suas condutas criminosas, incluindo a corrupção ativa – objeto principal da investigação – buscando apresentar justificativas para manter-se no esquema criminoso.
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“Eu até acho ainda com o custo político, tudo, com todas as empresas que eu tenho, eu ganho dinheiro. Eu acho que eu nem precisava de ganhar tanto assim, mas acaba sendo (inaudível) um tipo de alimentação (inaudível) positiva. Você acaba tendo que fazer muitos contratos, pra gerar aquele dinheiro, pra dar pros caras, e acaba sobrando pra você também, entendeu? Menos até do que eles levam, entendeu? Então, eu não preciso de 100% do lucro que eu tenho pra viver, queria continuar com 100% do trabalho, pra ter o mesmo número de funcionários, prestar o mesmo serviço e continuar crescendo.
Eu abriria a mão de toda a porcentagem de que eu dou de custo político, e ainda 50% do meu lucro pra viver em paz, aí sim a gente trabalharia tranquilamente. Só que isso é um sonho, eu não consigo ver ele, talvez se aconteça algo trágico de tudo acabar, de penalizarem as empresas, de a gente ser preso, e depois ser solto e o cacete a quatro, entendeu?”
Contexto: Moustafa fala se mostra consciente de seus atos criminosos e fala do sonho de sair do esquema e abrir mão de metade dos lucros, mas diz ser um sonho impossível.
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“Doutor pra você ter ideia o Estado do Amazonas ele atingiu 70% do Portal da Transparência sendo que 60% é folha, ou seja, eles declararam 10% só do que tem de contrato, o resto tá em “off”. Abertamente falando entendeu?”
Contexto: O líder da organização criminosa sugere que a corrupção no Estado do Amazonas é generalizada e a falta de transparência na prestação de contas dos recursos públicos. A maioria dos contratos está em “off”, segundo ele.
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“Eles tão no Fantástico todo final de semana, então assim, eu particularmente acho: o problema existe? Existe. Houve coisas que aconteceram lá atrás que não… Que não estão corretas e não estão corretas por um motivo obvio, a gente precisava… Eu mesmo tive uma conversa com o senhor lá no (inaudível) e hoje até comentei isso com a PRISCILA, falei doutor vem cá o senhor me entendeu, tamo entrando num, eu to entrando num negócio de OS, como é que cês fazem pra tirar dinheiro de vocês? O senhor tinha me falado das consultorias, que ao meu ponto de vista é muito mais escandaloso e é o que tá levando o povo pra prisão na… Na Lava Jato.”
Contexto: Mouhamad fala com Josenir Teixeira, advogado contratado por ele para assessorá-lo nos negócios do Instituto Novos Caminhos. Os contratos de consultorias seriam uma forma de pagar propina de forma “legal”, o que Mouhamad contesta.
POR ISSO QUE A CORRUPÇÃO NO BRASIL NUNCA SE ACABA, OS CRIMINOSOS PRESTAM DEPOIMENTOS E DEPOIS CUMPREM PRISÃO DOMICILIAR…..
ISSO NUNCA VAI ACABAR, NUNCA MESMO…….;(