Era uma das histórias favoritas do meu pai. O relato se tornou inesquecível também pela forma peculiar como ele o contava.
Com ele não havia pausa dramática, apenas “pausa cômica”. Ao contar um caso que considerava divertido, ele sempre interrompia o fluxo da história para rir, sem conseguir parar, da parte que julgava mais engraçada.
A gargalhada dele era contagiante e o hiato aumentava o suspense do ouvinte sobre o desfecho do relato. No caso, era sobre um aparente estranho voto sagrado ocorrido no maior evento religioso do interior do Amazonas: a festa de Santo Antônio de Borba.
Lá no município, situado a 147 quilômetros de Manaus, havia uma fervorosa devota do santo responsável pelo Dia dos Namorados ser comemorado no Brasil em junho. Daquelas que, para casar, fez coisas como colocar a imagem de Santo Antônio de cabeça para baixo, no congelador.
Na tentativa de ficar bem bonita para os festejos, a dedicada devota usou um novo e belo vestido com a imagem do santo casamenteiro estampada na parte frontal.
Saiu apressada para não perder nenhum momento da procissão. Pensou que, com aquela roupa especial, chamaria alguma atenção. Não imaginava que seria tanta. Por um momento avaliou que estava atraindo mais olhares que a imagem do padroeiro.
Era gente que não sabia disfarçar quando eram flagrados olhando para ela. Eram umas beatas se afastando de perto dela. Alguns conhecidos contemplando-a fixamente. Outros fiéis a mirando com algum espanto. Viu umas mulheres tampando os olhos de seus namorados. Também notou uns sorrisos sonsos de turistas. Esforçou-se para não pensar em nada disso e se concentrar apenas no momento religioso.
Quando retornou à sua casa e se fitou detalhadamente no espelho, descobriu o motivo daquelas estranhas reações a ela: a parte de trás do vestido ficou engatada no laço, deixando exposto o traseiro da mulher.
Desolada, indagou ao marido dela se ele tinha percebido a razão de tamanha gafe e constrangimento. Ele assentiu. “Então, por que você não me avisou que eu estava mostrando a bunda para todo mundo?”, perguntou, irritada. O homem respondeu: “Achei que era promessa”.
Talvez porque a Copa desperte nostalgia, lembrei-me dessa história do meu pai durante a estreia do Brasil, no empate (1 a 1) contra a Suíça.
É que na convocação para a Copa, Tite preferiu chamar jogadores de que gosta a atletas com mais habilidade e técnica. Não foi o primeiro técnico a fazer isso. A questão é que quando outros treinadores agiram assim, foram criticados por formar uma “panelinha”. Dessa vez, a opinião pública se portou como um “marido bem compreensivo”. Achou estranho, mas considerou que devia ser assim mesmo.
O problema é que, já no primeiro jogo, a Seleção sentiu a falta de opções mais qualificadas para mudar os rumos da peleja. Ficou claro nas substituições: na frente, um visual chamativo; atrás, a retaguarda desguarnecida. Sem despertar admiração ou respeito, o Brasil apenas chamou muita atenção.
É fato que está no começo. A “panela do Tite” pode ainda garantir algum “tempero e sabor” para Seleção. Desconfio, porém, que, depois da partida de estreia, muitos torcedores já estejam fazendo votos exóticos e promessas estranhas para todos os santos.
Tudo para, no futuro, poder contar a história do “hexa na Rússia” em meio a muitos sorrisos e gargalhadas. Enquanto isso, sem esquecer da retaguarda: “Pra frente, Brasil”