Comando da PM reconhece associação que Paulo Roberto Vital dizia não reconhecer e autoriza visitas às unidades da corporação
MANAUS – Depois da greve da Polícia Militar, que foi considerado pelo governador José Melo (Pros) como um “movimento reivindicatório”, a Associação dos Praças da Polícia Militar do Amazonas (Apeam) ganhou força e seu presidente se tornou aliado de Melo e do ex-governador Omar Aziz na campanha eleitoral deste ano que o primeiro disputa a reeleição e o segundo, o Senado. Diante do quadro que se instalou na Polícia Militar, durante e depois da greve, o secretário de Segurança Pública, Paulo Roberto Vital, foi desmoralizado em pelo menos duas ocasiões: nos dias que se seguiram ao movimento e na semana passada, quando teve de reconhecer a associação que ele dizia não reconhecer.
Um documento do Comando Geral da Polícia Militar publicado no Boletim Geral da corporação na sexta-feira (a data do documento é de 25/07/2014) não apenas reconhece a Apeam como representativa dos praças como autoriza a entidade a visitar as unidades operacionais, administrativas e especializadas da capital e do interior Estado. As visitas, de acordo com denúncias dos próprios PMs em documento enviado às redações, tem o propósito de permitir que o presidente da Apeam, que comandou a entidade no período da greve, apresente-se como candidato a deputado estadual. Ele está na coligação de José Melo e Omar Aziz pelo Partido Verde (PV).
No dia 27 de abril deste ano, durante entrevista coletiva em que descartou qualquer possibilidade de greve, o secretário Paulo Roberto Vital, ao lado do comandante geral da PM, coronel Almir David, disse textualmente: “Tem uma associação aí, que pra mim eu não reconheço como uma associação de praças legítima, porque quem está à frente é uma pessoa que nem militar é”. Questionado sobre quem estava frente, o coronel respondeu: “É uma associação que foi criada e quem está à frente é aquele Platiny, que foi aluno soldado, foi excluído e que assim mesmo está aí fomentando essa questão junto a essa associação”.
Horas depois, os policiais militares pararam as atividades e concentraram-se, durante toda a noite, em frente à Arena Amadeu Teixeira, na zona centro-oeste de Manaus. À frente estava Platiny Soares, que foi convidado no dia 28 pelo governador José Melo para dialogar. Depois de um acerto com o governador para suspender a greve e negociar as reivindicações da categoria com o Executivo, o governador tirou a Secretaria de Segurança Pública das rodadas de conversas e passou o comando das negociações para o secretário chefe da Casa Civil, Raul Zaidan.
Agora, mais uma vez, o reconhecimento da Apeam e a liberação das visitas aos quartéis afrontam a autoridade do secretário de Segurança Pública.
Ciumeira na PM
O “namoro” do candidato Platiny Soares com a dupla Melo e Omar também causa ciumeira em outro presidente de associação, a de Cabos e Soldados da PM. O deputado Cabo Maciel (PR), de acordo com interlocutores, está vendo sua base eleitoral migrar para a Apeam e já começa a cobrar providências do governo.
Depois da liberação das visitas da associação de Platiny aos quartéis da Polícia Militar, houve uma grita geral iniciada pelos aliados de Cabo Maciel, e o comando da PM teve que editar outra norma, que circulou em boletim interno da PM, autorizando a visita de toda e qualquer associação representativa dos membros da corporação.
Chama a atenção, no entanto, a frase que fecha o documento do comandante geral da PM autorizando a vista da Apeam: “Observando o Decreto 34.867, publicado no Diário Oficial do Estado do dia 10 de junho de 2014, que trata da propaganda política e crime eleitoral envolvendo funcionário público”.
Em nota, a Associação dos Praças da Polícia Militar nega qualquer ato que caracterize propaganda eleitoral dentro dos quartéis. Esclarece que a publicação do documento autorizando visitas é para corrigir outro documento, publicado pelo Comando Geral da PM no dia 28 de outubro de 2013, que proibia a entrada da associação nas dependências dos prédios da corporação por não a reconhecer como representantes dos praças.
A nota informa, ainda, que o presidente da Apeam, Platiny Soares, pediu afastamento do cargo para disputar as eleições, no dia 8 de julho deste ano, e que o vice-presidente, cabo Couto Souza está como presidente interino. O presidente afastado não participa das visitas às unidades, segundo a nota.