Não se sabe qual será o fim do despudorado filme dos horrores atualmente em cartaz, onde é retratada a ação de uma quadrilha que tomou de assalto o poder há alguns anos.
Nele misturam-se a ambição pelo poder, com a competência de tentar permanecer nele por meio de mentiras, que escondiam a incompetência da gestão e do roubo desqualificado. Um verdadeiro show das maléficas essências de Pinóquio e Maquiavel acobertadas por uma infinidade de combinações, com o fim de iludir e enganar um povo, numa maratona de deslavado cinismo.
O cenário se completa com a gigantesca roda da fortuna, onde no alto dela aparece uma figura metade anjo e metade diabo, a representar no simbolismo das crenças, as contradições entre a ternura e a ganância aplicadas em diferentes dissimulações usadas, pragmaticamente, em favor do interesse maior dos escusos objetivos.
Eis que inesperadamente surgem novos protagonistas e tomam conta das cenas seguintes. Trata-se de uma geração de jovens promotores, delegados, agentes, juízes e outros membros, que com determinação inabalável traçam novo roteiro. Os antigos protagonistas são agora os vilões e o filme passou a chamar-se “Operação Lava Jato”.
Essa turma cumpre sua missão com esplendoroso rigor. O cenário é hostil. De um lado operam os poderosos compradores de consciências, e do outro, os vendedores donos do poder público. São corruptores e corruptos que trocam de lado a cada instante em favor dos interesses.
Ambos se juntam num leilão lamacento e todos ganham uma gorda lasca dos bilhões de reais desviados da escorchante carga tributária. Nem mesmo os recursos da merenda escolar e da saúde de pobres e indefesas crianças são resguardados.
Sem vaga no roteiro, mas, também, de forma inesperada, milhões de coadjuvantes invadiram os cenários em apoio aos protagonistas e rejeição aos vilões, que tentam sobreviver a qualquer preço.
Esses coadjuvantes foram puxados para uma realidade que muitos teimavam ignorar, aprisionados que estavam pela propaganda bem estruturada, onde são gastos milhões de reais na construção de paraísos fictícios.
Esses coadjuvantes hoje, ainda não sabem bem o que querem, mas repudiam com toda veemência a corrupção, o sistema político, o desperdício do dinheiro público, as promessas vazias, a criação de novos impostos e o populismo como arma de liderança.
A essa altura da projeção, já é possível afirmar que esta terá sido a primeira oportunidade real que teve o povo, para olhar as tripas do poder e quedar-se indignado diante de tanta podridão, resultado do amálgama da sordidez, da vilania e da enganação despudorada.
Antes que as cortinas sejam cerradas, porém, os coadjuvantes devem entrar em profunda reflexão. Que olhem para dentro de si mesmos e vejam no que podem transformar-se. Sintam que ao apontarem o indicador para os outros, há três dedos da sua própria mão apontando na direção do seu peito.
O filme deve continuar rodando. Mas só terá um final feliz, quando alguma cena vir a mostrar um cidadão pilhado numa infração de trânsito, que ao tentar, sorrateiramente, entregar uma nota de R$100,00 ao guarda, receber voz de prisão imediatamente.