O que mais se vê na televisão é candidato defendendo a democracia. No debate de TV realizado nesta segunda-feira entre os que disputam o Governo do Amazonas, o apresentador lançou uma questão sobre a desconfiança nos políticos, inquirindo o candidato Eduardo Braga sobre se ele acreditava nos políticos. Ele respondeu que acredita na democracia. Mas de que democracia Braga estaria falando? Seria da “escolha democrática” dos candidatos? Não há democracia em um ambiente em que o dinheiro dita as regras. Apesar dos esforços dos legisladores e da Justiça Eleitoral, ainda está muito longe de se garantir a igualdade de condições nas disputas, como reza a legislação brasileira.
A verdade é que a eleição de um político depende, essencialmente, do volume de dinheiro que ele tem para gastar. Há uma compra de votos velada, em que se usam todos os artifícios possíveis para dar ar de legalidade àquilo que a lei veda. A lei proibiu, por exemplo, a distribuição de chaveiros, canetas, bonés e camisetas com o número do candidato; proibiu qualquer tipo de presente para o eleitor. Mas há diferença entre oferecer um boné ou uma caneta e oferecer um café da manhã ou uma feijoada grátis em uma comunidade carente? Esse tipo de presente se tornou comum nas campanhas eleitorais.
Há igualdade de condições entre o candidato que não consegue sequer um carro para percorrer os bairros durante a campanha e aquele que contrata dezenas de carros, pagando os motoristas e oferecendo gasolina para uma carreata? É isso que alguns candidatos a cargos majoritários andam fazendo. Ouviu de uma pessoa que participou, a convite de um amigo de trabalho, de uma carreata em que recebeu gasolina suficiente para rodar por uma semana em seu carro, no trajeto que costuma fazer de casa para o trabalho, e mais R$ 50,00 ao fim do evento.
Há igualdade de condições entre aquele que recebe doações milionárias de empresas privadas, interessadas em se beneficiar caso o candidato se eleja, e aquele candidato que depende da doação de alguns amigos e parentes?
Há igualdade de condições na disputa entre o trabalhador que decide se candidatar e sequer ganha dispensa do trabalho e aqueles políticos (senadores, deputados e vereadores) que usam o horário de trabalho, a estrutura e a verba disponibilizadas pelo Poder Legislativo para fazer campanha eleitoral?
Que democracia há na divisão de tempo de televisão, que privilegia quem tem maior representação na Câmara dos Deputados e deixa os concorrentes com menor representação sem tempo para expor suas ideias e propostas? Não se exige igualdade de tempo para todos os partidos, mas uma divisão mais democrática, impondo-se limites máximos. Seria necessário criar mecanismos para evitar o número excessivo de candidatos a cargos majoritários, para minar aqueles que querem apenas “aparecer” no horário eleitoral para “fortalecer” suas legendas.
Como não há igualdade de condições na disputa, os que têm mais dinheiro para “comprar” a vontade do eleitor acaba vencendo. Isso ocorre porque grande parte do eleitor vota sem qualquer critério ideológico. A escolha, na maioria das vezes, é fisiológica: o eleitor vota naquele que lhe deu alguma coisa. Por isso, os candidatos costumam reservar boa parte do dinheiro da campanha para o dia da eleição. Uma carona até o local de votação, uma cerveja (mesmo com a Lei Seca) para uma rodada de amigos, uma promessa de emprego… Tudo é motivo para os indecisos “venderem” o voto no dia do pleito.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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