A enorme injeção despolitizadora, aplicada sobretudo nos governos petistas, contribuiu para criar uma dinâmica dupla na dinâmica política brasileira. Ficou estabelecida de um lado a divisão entre os debates políticos, as demandas de representatividade e as implicações no cotidiano das pessoas com essas medida públicas, e ao mesmo tempo, instalou-se descaradamente a fisiologia política institucionalizada, transformada na única forma de desempenho parlamentar do Congresso, no Itamarati, no Palácio do Planalto e nas noites sombrias do Jaburu…
Enquanto coxinhas e petralhas rezam quase nas mesmas cartilhas, nos governos da federação se instala uma normatividade unânime do oportunismo. Como se não bastasse o fortalecimento do pior e mais conservador Congresso da história, as contradições primárias de esquerda e direita se encurtaram com o presidencialismo de coalizão. Petistas e tucanos divergem de quase nada. Não existe espaço para qualquer mudança mais significativa sob o olhar progressista ou popular.
Não se governa pelo povo, e muito menos com o povo. Temer governa para resguardar os interesses de alguns setores: portuário, mineração, agronegócios, ciceroneado por outras forças e corporações estrangeiras. O resto se contenta com a rebarba… E o povo? Ora, o povo! Qualquer conta inativa do FGTS ou PIS PASEP ajuda a assimilar a “naturalidade” de Temer confiscar R$ 10, 00 do salário mínimo, que somados viram alguns bilhões para a sinistra e Temerária gestão presidencial. O povo não deve passar de mão de obra explorada, consciente de que qualquer atrevimento vai se deparar com mecanismos de repressão vem cada vez mais afiados.
Entretanto, sendo razoáveis, vale afirmar que isso, de nenhuma maneira, começou com Temer. A diferença dele para com seus ex aliados do PT é que, sob estes, residia algum residual senso de caridade. Esse fato se opõe totalmente ao discurso liberal que associa populismo a uma ofensa política, ao invés de descrição de uma pratica política assimilada pela história. Populismo de nada tem a ver com a suposta ideia de pão e circo. Populismo é o contrário do que fez o PT, populismo é incorporar radicalmente as massas para dentro da dinâmica política central, como fez Getúlio, Jango e Brizola.
Participantes do banquete da corrupção, poucos se salvam do ponto de vista de legitimidade política. Apenas por isso resulta completamente inadmissível que haja ali ainda qualquer autorização de continuidade para decidir grandes questões estruturais que afetam, exclusivamente, a vida dos milhões de trabalhadores pelo Brasil afora. A prática ali se resume em manter as regalias e privilégios dos parlamentares e comparsas políticos e seu contraponto operacional na magistratura.
De fato, esse estado da arte de se dar bem apenas demonstra que o sistema político brasileiro entrou em colapso, perdeu completamente sua razão de ser e de representar a sociedade e, o que é pior, totalmente incapaz de produzir a própria renovação. Por isso, surge na manga do colete da enganação, o chamado “distritão” ou o discurso midiático do renegado parlamentarismo. Enquanto isso, em todo o tecido social, ganha cabeça, tronco e membros o corpo da rejeição. É irreversível a total descrença para com o sistema político. Poucas notícias são melhores que esta de saber que o sistema, cada dia mais, acumula menos aprovação popular. Resta saber e impõe-se prever o que virá depois desse movimento ganhar corpo, se agigantar, se evidenciar, como um tumor que deve matar a crença nessa democracia liberal que construiu um abismo entre “demo” e “cracia”.
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Esse garoto é foda