Os debates que se convencionaram fazer no Brasil nas emissoras de TV estão cada vez mais enfadonhos. Os organizadores, em acerto com os representantes dos candidatos, arquitetam os programas de forma a evitar os confrontos, como se o formato não tivesse por princípio o confronto. O eleitor não se põe à frente de uma TV para ouvir propostas dos candidatos. Até porque, ninguém acredita nas promessas feitas ao calor do processo eleitoral. Raras são as que saem do papel para a prática depois das eleições.
O que o eleitor espera de um debate são confrontos de ideias, é a revelação de malfeitos que o candidato fez no passado e que poderá repetir no futuro, é o questionamento sobre por que não fez e agora promete fazer. É isso que dá alma ao debate. E a ausência desses elementos têm tornado os debates nos últimos anos um “espetáculo” para masoquistas.
Aliás, o debate é apenas um dos casos de engessamento das campanhas eleitorais levados a cabo com as sucessivas mudanças na Lei Eleitoral. Não se pode, na propaganda eleitoral, por exemplo, falar mal dos adversários sob pena de isso gerar um processo que resultará na perda do espaço na TV e no rádio e na aplicação de multa para o que “ofendeu” o outro, mesmo que essa “ofensa” seja a revelação da verdade.
Proibiu-se, inclusive, a partir deste ano, que os humoristas façam piada, em suas apresentações profissionais, com os políticos que disputam as eleições. É proibido “denegrir” (a aspa significa o uso indevido e racista da palavra) a imagem do candidato. Ora, essa é uma questão tão subjetiva que só será resolvida com uma canetada do juiz. E toda a sociedade fica dependendo da vontade de meia dúzia de magistrados designados para atuar nas eleições. Mas é proibido. Nas redes sociais, nos blogs, nos sites de notícias, sob qualquer forma de comunicação, é proibido falar mal dos candidatos, mesmo que eles tenham uma longa “ficha corrida”.
No início do processo eleitoral, a presidente do Tribunal Regional Eleitoral, Socorro Guedes, chamou todos os candidatos para assinarem um pacto por uma campanha limpa, sem ofensas aos adversários. Mas o que pode ofender o adversário? Dizer que o governo dele foi leniente com a corrupção? Questionar a falta de transparência e os inúmeros processos questionando o superfaturamento em obras e compras públicas? Informar que ele, como parlamentar, não fez o dever de casa, que não trabalhou ou que gastou demasiadamente o dinheiro público?
Numa campanha eleitoral, obviamente, é importante os candidatos apresentarem propostas e discutirem-nas com o eleitorado. Mas o fórum adequado não é apenas o debate de televisão. Ali é o espaço por excelência do confronto de ideias, para que o eleitor consiga perceber as diferenças de posições, de caráter, de conhecimento dos temas abordados. Mais vale o diagnóstico dos problemas do que as promessas em um debate. E aquele que consegue diagnosticar melhor, certamente terá melhores condições de resolver.
Mas o debate não pode prescindir dos assuntos espinhosos para os que disputam um cargo público. É preciso pôr todos a nu para que o eleitor tenha condição de decidir. Quando isso não acontece, perdem os eleitores e ganham os candidatos que querem apenas um cargo para se dar bem.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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