MANAUS – O juiz Luís Carlos Valois Coelho volta-se contra a imprensa e a acusa de “tachar” como “assassino e bandido” o delegado Gustavo Sotero. Em um post no Facebook, Valois defende um julgamento justo e diz que o delegado “está sendo julgado antes da hora, por juízes incompetentes, por pessoas que ouviram falar, sem poder ter defesa e manifestar-se, o que não é julgamento justo”.
Não discordo da defesa a um julgamento justo, mas não concordo com o tratamento dispensado à imprensa nem neste caso da morte do advogado Wilson de Lima Justo Filho nem no outro episódio citado pelo magistrado, em que diz ter sido acusado de bandido pela “mesma imprensa, mancomunada com a polícia”.
A imprensa, nos dois casos, noticiou fatos. No caso do delegado, nem ele mesmo nega que tenha atirado e matado o advogado dentro de uma casa noturna. Vídeos gravados no local mostram o momento em que o autor dos disparos é agredido e reage, disparando a arma. Diante dos fatos, a imprensa não poderia simplesmente tratar o caso com a cautela que o juiz da Vara de Execuções Penais imagina. O caso por si só ganhou as redes sociais antes que a imprensa publicasse qualquer notícia.
Os comentários nas redes sociais são inevitáveis e fogem ao controle de qualquer veículo de comunicação.
A repercussão do caso não ocorreu simplesmente porque a imprensa assim o quis, mas pelas pessoas envolvidas e as entidades por trás delas. De um lado, a vítima e sua família, apoiadas pela Ordem dos Advogados do Brasil-Amazonas; de outro, um delegado de polícia que, queiramos ou não, representa uma instituição criada para combater o crime. Casos semelhantes ocorrem com frequência, mas não ganham repercussão porque as pessoas envolvidas não estão ligadas a instituições.
Sobre o outro caso citado por Valois envolvendo ele próprio, o que os jornais e site de notícias publicaram foi a citação do nome dele em um relatório da Polícia Federal, após interceptações telefônicas. Nas gravações, ele é citado por membros de organização criminosa, que se articulam para mantê-lo na Vara de Execuções Penais.
Antes da imprensa tachá-lo de bandido, como ele mesmo diz, foi o Ministério Público Federal que pediu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) busca e apreensão contra o magistrado, que foi realizada no local de trabalho dele. Pela importância dos fatos, a imprensa não poderia silenciar.
“Ao cotejar os elementos de investigação relacionados ao primeiro grau do Poder Judiciário amazonense, é possível verificar, desde logo, a hipótese de participação do juiz Luis Carlos Honório de Valois Coelho no ajuste criminoso destinado à liberação de presos integrantes do grupo FDN.”, escreveu o MPF.
A imprensa, se errou ou acertou, o fez a partir de informações de instituições respeitáveis, como o MPF e a Polícia Federal.
Nos dois casos, o juiz esbarra no fato de que ele não tem a palavra final. Aliás, aos poucos os magistrados vão se dando conta de que eles só têm a palavra final nos processos que julgam, e que também pode ser questionada.
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