O governador David Almeida está no cargo interinamente há 23 dias, mas tem mostrado que governar não requer idade nem experiência. A experiência, aliás, é um requisito apresentado ou cobrado à exaustão nas campanhas eleitorais. Os velhos políticos, que transformaram o Brasil nesse mar de lamas da corrupção, inclusive, gostam muito de exibir esse termo como se a “experiência” deles fosse sinônimo de competência.
No serviço público e principalmente na gestão pública há a necessidade de sempre se inovar e o que alguns consideram experiência, às vezes não passa de uma ideia arcaica.
Dito isto, voltemos à gestão de David Almeida, que até no ano passado jamais havia sonhado em ser governador do Amazonas. Ao assumir a máquina do Estado, depois da cassação de José Melo e Henrique Oliveira, tem mostrado serviço e tomado decisões a uma velocidade poucas vezes vista na gestão pública.
As ações do governador geram uma série de interpretações, inclusive a de que as medidas são populistas e têm como meta viabilizar uma possível candidatura dele a governador, na eleição que se avizinha. Não estão errados os que assim pensam. Nenhum gestor toma decisões e realiza obras sem querer em troca o reconhecimento do eleitorado.
No entanto, David Almeida tem feito, com certa habilidade, aquilo que José Melo não conseguiu fazer em dois anos e quatro meses no Governo do Amazonas, depois de reeleito. No primeiro ano, 2015, Melo foi acuado com denúncias de corrupção no Governo, feitas, inclusive, por um de seus secretários. Alegando a crise econômica potencializada naquele ano, fez um governo retraído e cortou despesas onde deveria injetar recursos, como ocorreu na Saúde. Em 2016, com a cassação no TRE do Amazonas logo no início do ano, o governador se retraiu ainda mais.
O diálogo com a Assembleia Legislativa azedou na gestão Melo a ponto de os aliados ensaiarem por diversas vezes abandonar o barco. Fez mudanças no secretariado que não trouxeram resultados satisfatórios. O governo Melo terminou com a cassação no momento em que o governador gozava da mais baixa popularidade da história recente do Estado.
David conseguiu, em menos de um mês, arregimentar apoio na Assembleia Legislativa. Aliados do governador afirmam que se houvesse uma eleição indireta para governador, ele teria pelo menos 18 votos. Esses deputados vêem no colega de parlamento um representante no Poder Executivo. Por muitos e muitos anos, o Poder Legislativo é tratado como a cozinha do Executivo. Mas neste momento, os parlamentares sentem que a relação mudou. A ida de David Almeida ao parlamento nesta terça-feira, 30, para entrega da LDO foi encarada como um gesto de respeito ao Legislativo. Há interesses nessa relação? Não tenhamos dúvida. Mas é uma relação mais saudável que a anterior.
David Almeida tenta se credenciar para qualquer eleição: indireta ou direta. Na primeira, tem conseguido pavimentar uma candidatura com tranquilidade. Na segunda, apesar de suas ações o projetarem politicamente, ainda é pouco conhecido no eleitorado do Amazonas, principalmente no interior do Estado. Esse é o principal entrave para receber o aval do grupo político que hoje representa. Até o dia 16 de junho, terá que convencer seu líder Omar Aziz (PSD) de que é um nome melhor do que o de Amazonino Mendes (PDT), que também tenta ser o candidato do grupo.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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