SÃO PAULO – Um dia após a presidente Dilma Rousseff dizer ao jornal O Estado de S. Paulo que não se pode transformar o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em “judas” para ser malhado no 5.º Congresso do PT de quinta-feira a sábado, em Salvador, a direção do partido e a corrente majoritária da legenda amenizaram as críticas à política econômica do governo.
Embora seja esperado que a resolução final da reunião contenha reparos ao ajuste fiscal, as declarações de Dilma e o pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o PT “olhe para a frente” enfraqueceram as posições radicais.
“A maioria do partido não vai fazer isso (transformar Levy em ‘judas’). Temos que preservar o ministro”, disse o deputado estadual José Américo Dias (PT-SP), secretário nacional de Comunicação da legenda.
A ordem, agora, é reduzir a pressão sobre Levy, não personalizar as críticas e apresentar uma agenda “pós-ajuste”, com um cardápio de propostas para sair da crise. Mesmo assim, a cúpula do PT avisou ao Palácio do Planalto não ser possível impedir manifestações individuais e faixas de “Fora Levy” no evento.
Apesar dos pedidos de Lula e do recado claro de Dilma, setores do partido devem manter os ataques ao ministro. “Consideramos que a política de ajuste fiscal regressivo e recessivo inaugurada com a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda coloca o PT contra a classe trabalhadora”, diz um documento assinado por líderes sindicais petistas, entre eles Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e João Felício, presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), ambos muito próximos de Lula.
Na tentativa de evitar os protestos contra o titular da Fazenda, o ministro da Defesa, Jaques Wagner, foi escalado para conversar com líderes do PT. “Levy está no caminho certo”, disse Wagner ao jornal. “Além de ajustar as contas e a economia, vai apontar novos caminhos para a retomada do desenvolvimento com crescimento e renda. Nós confiamos nele.”
A agenda pós-ajuste que o PT vai apresentar no 5.º Congresso prevê a defesa do imposto sobre grandes fortunas, da taxação de heranças e do lucro líquido das empresas. O PT também vai pregar a volta da CPMF.
Majoritários mais mansos
Na semana do 5º Congresso da sigla, a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB) tenta diminuir a pressão sobre o titular da Fazenda defendido publicamente pela presidente Dilma.
Em maio, o ex-presidente Lula chegou a dizer publicamente que a maneira como Dilma e a equipe econômica conduziram a alteração no seguro-desemprego foi “um erro”. As críticas da ala majoritária, porém, foram diminuindo nas últimas semanas.
Coordenador da CNB, Francisco Rocha da Silva divulgou, na segunda-feira, um documento endereçado aos delegados do Congresso petista em que pede “um ponto de equilíbrio” nas críticas ao governo. Rochinha disse que “qualquer partido de esquerda se sentiria incomodado com as decisões que precisaram ser tomadas”, mas lembrou dos “momentos de conflito” durante o governo Lula e ressaltou que “os personagens da economia eram praticamente os mesmos” na equipe de Antônio Palocci.
“Nenhuma tendência interna do PT pode se arvorar em criticar exageradamente o ajuste fiscal porque todos nós, com raras exceções, estamos presentes no partido e no governo. Então, todos nós temos telhado de vidro e não cabe a ninguém atirar a primeira pedra”, escreveu Rochinha, político considerado próximo de Lula.
As ameaças às intenções da CNB vêm de correntes de oposição – como a Mensagem ao Partido e a Democracia Socialista (DS) – e de diretórios estaduais como o do Rio Grande do Sul. Estes setores prometem não baixar o tom das críticas ao ajuste fiscal e acusam a CNB de atuar contra a mudança no partido. “A CNB não quer mudar nada”, disse um dirigente da DS.
Vice-presidente nacional do PT e integrante da CNB, Gleide Andrade “discorda radicalmente” dos petistas que usarão o Congresso para criticar o governo. “A política econômica do governo foi necessária. Ou fazíamos essas medidas ou o País ia degringolar. Não tem sentido transformar o Congresso, um momento histórico do partido, em um lugar de críticas ao governo, usar o Congresso como divã. O papel do partido que governa o País é de força auxiliar, não de força de imposição”, disse a vice-presidente Gleide Andrade.
Após se reunir com Lula, na semana passada, um dirigente ouvido pelo Broadcast Político, serviço em tempo real da Agência Estado disse que poupar Levy durante o Congresso não foi um pedido direto do ex-presidente. No entanto, Lula teria ressaltado que os destinos do PT e do governo Dilma estão diretamente vinculados. “Ele (Lula) ressaltou que o Levy foi chamado pela Dilma, está fazendo o que Dilma pediu. Agora a gente tem que abraçar o Levy e tentar incluir as pautas, como taxação de fortunas, 40 horas etc.”
Lula, assim como outros petistas, acha que o ajuste foi mal colocado pelo governo e passou a ideia de que só a população seria penalizada. Um membro da Executiva Nacional reclamava na semana passada da “falta de perspectiva” de um cenário positivo após o ajuste. Agora, com o lançamento do pacote de concessões de infraestrutura marcado para esta terça, 9, o PT quer mudar de assunto e deixar o incômodo ajuste fiscal para trás.
Outro dirigente da CNB que até duas semanas atrás fazia críticas mais duras ao plano econômico disse à reportagem que o foco do Congresso será “olhar para frente”. “Queremos discutir o que vai ser o País pós-ajuste, tem muita agenda (positiva) pela frente. A maioria do PT não entra nessa coisa do ‘fora Levy’, não há nada pessoal contra o Levy”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo
(Estadão Conteúdo/ATUAL)