Por Maria Derzi, da Redação
MANAUS – Desemprego, inflação alta e inadimplência causaram o fechamento de 600 lojas em Manaus no primeiro semestre de 2016, segundo a CDLM (Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus). “No segundo semestre tivemos mais 230 lojas fechadas. Isso foi muito ruim porque perdemos funcionários e poder de venda. O desemprego gera queda no consumo e isso gerou um impacto direto no comércio”, disse o presidente da CDLM, Ralph Assayag. Em 2015, auge da crise econômica, 357 lojas foram fechadas.
Com a crise econômica – causada em grande parte pelo aumento da carga tributária –, os empresários do comércio evitaram fazer investimentos. Quem conseguiu manter um estoque enfrentou a retração no consumo sem gravidade. Os que não conseguiram, encerraram as atividades. “A gente só pode começar em recuperação apenas no segundo trimestre de 2017, inclusive de tentar estancar as demissões e o fechamento de loja”, disse Assayag.
O empresário cita que a inadimplência também foi um fator preponderante para a crise no comércio. “No início de 2016 tivemos um número maior de inadimplência contra o que ocorreu no ano anterior. Em 2015, o índice médio de inadimplência era de 3%. Em 2016, essa média ficou em 4%. A média Brasil é de 5,8% e para o Amazonas esse índice é considerado muito alto”, disse Ralph.
Assayag disse que não é possível identificar o segmento do comércio mais atingido pela crise. “Nós tivemos setores que poderiam ser positivos, mas que abriu um volume de concorrência muito grande. No de confecções, tínhamos 100 lojas e faturávamos R$ 100 mil por mês. De repente, acabamos tendo 170 lojas que acabaram faturando apenas R$ 70 mil, citou.
Conforme Assayag, a concorrência gerou também para os que já estavam na atividade uma queda de vendas que foi decisiva para a manutenção do negócio. “O que se pensava era que aumentando a loja iria ter um aumento do consumo e melhoria de salário. Como isso não aconteceu, o salário estancou, o número de pessoas que comprava caiu violentamente e, automaticamente, tivemos uma queda nas vendas. Isso levou as lojas a reduzirem pessoas”, revelou.
Soluções
Ralph disse que os empresários pretende encomendar uma pesquisa para apresentar ao Governo do Amazonas e à Prefeitura de Manaus. A intenção é negociar redução de impostos para incentivar a atividade comercial. “Hoje, o comércio ainda tem um volume muito grande de pessoas empregadas. Temos 250 mil com carteira assinada e uma participação do ICMS de 70%. Então, se eles não ajudarem a gente a estancar os fechamentos de lojas e a crescer, eles vão perder ainda mais receita porque daqui a pouco o governo não terá como pagar contas” disse.
A instabilidade política provocada pelo golpe, que incluiu um ataque deliberado a um dos setores situados no núcleo da economia brasileira, o de construção civil, mais a decisão do governo atual de cortar qualquer investimento, produziram a maior crise varejista da história do país.
Trecho de matéria publicada há pouco no Estadão:
SÃO PAULO – O comércio varejista brasileiro teve o pior ano da sua história em 2016. O setor bateu recordes de fechamento de lojas, de demissões e de queda nas vendas… Em dois anos, o comércio encolheu em mais de 200 mil lojas e quase 360 mil empregos diretos… O tombo nas vendas até novembro, o último dado disponível do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, foi de 8,8% no ano e de 9,1% em 12 meses para o comércio ampliado, que inclui veículos e materiais de construção…
O irônico – se é que possível ironia diante de tal desgraça – é que tanto o Estadão quanto os economistas entrevistados, certamente para afastar um pouco a consciência de culpa por não terem previsto o óbvio, o de que o golpe iria resultar num desastre econômico de proporções continentais, ainda tentam encontrar razões para otimismo. A ironia consiste no fato de que, no passado, quando havia, aí sim, razões de sobra para otimismo, em função do aumento do emprego, das vendas, da arrecadação fiscal, havia uma espécie de coro orquestrado, entre imprensa e dirigentes patronais, para negar qualquer tipo de otimismo. Venderam desgraça quando as coisas estavam boas e agora tentam vender otimismo quando a desgraça se instalou.