MANAUS – Membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa que investiga crimes de pedofilia revelaram, em entrevista coletiva, na manhã desta sexta-feira, um esquema de cooptação de vítimas do prefeito afastado de Coari, Adail Pinheiro, para mudarem os depoimentos dados anteriormente à Justiça contra o político, que está preso em Manaus desde o dia 8 de fevereiro deste ano, sob a acusação de crimes de exploração sexual de crianças e adolescentes.
De acordo com os parlamentares, duas garotas que foram abusadas sexualmente entre os anos de 2008 e 2009, e que haviam prestado depoimento à CPI da Pedofilia da Câmara dos Deputados, à CPI da Pedofilia da ALE, ao Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM) e à Justiça Estadual, através de carta precatória quando estavam em Brasília fugindo das ameaças, enviaram ao relator dos processos contra Adail Pinheiro na Justiça Estadual, o desembargador Rafael Romano, declarações por escrito negando as informações prestadas anteriormente. As declarações desmentem o que elas haviam dito e tem como propósito livrar de qualquer culpa Adail Pinheiro e servidores da Prefeitura de Coari, que também estão presos por participar do esquema.
Para o deputado Luiz Castro (PPS), a rede criminosa que atuando contra testemunhas e vítimas oferecendo o céu e o inferno ao mesmo tempo. “Primeiro eles fazem o contato com as garotas para convencê-las a escolher entre o céu e o inferno. Eles levam um recado atribuído a a Adail Pinheiro de que ao sair da cadeia ele não vai ter pena de quem arruinou a vida dele; há, inclusive, ameaça de morte. Esse seria o inferno. Mas se aceitam a proposta dele, recebem a promessa de céu, que é a oferta de bens e dinheiro”, disse o parlamentar.
Segundo Luiz Castro, as garotas foram convencidas por um primo de uma delas, que já foi desafeto de Adail Pinheiro, a mudarem a versão apresentada às CPIs e à Justiça.
Ainda segundo o parlamentar, as duas garotas, que agora já são adultas, estão sob o domínio do grupo de Adail Pinheiro, hospedadas em dois fletes na cidade de Manaus, sem qualquer comunicação com a família. “As informações nos foram repassadas uma pessoa de nossa inteira confiança”, disse o parlamentar. Castro suspeita que os apartamentos estejam sendo pagos pela organização criminosa.
O presidente da CPI, deputado Abdala Fraxe (PTN), disse ter recebido informação de que as garotas foram orientadas a acusar os membros da CPI de terem tomado os depoimentos à força, por coação ou mediante pagamento. “Isso é uma injúria, uma difamação que a CPI não vai aceitar”, afirmou Fraxe.
Declaração sem validade
Na opinião de Luiz Castro, as declarações apresentadas pelas vítimas de Adail Pinheiro não devem ser acatadas pelo relator dos processos, porque foram produzidas em situação atípica. “Essas declarações, certamente, foram feitas sob coação, as mulheres sequer podem ser localizadas, porque estão sem comunicação até com familiares. E os depoimentos que elas prestaram à Justiça e às CPIs foram muito contundentes”, afirmou.
O caso foi levado ao procurador-geral de Justiça, Fábio Monteiro, que, ainda na condição de promotor, participou das investigações que resultaram no pedido de prisão de Adail e do grupo dele, no início deste ano.
Outras pessoas que atuaram como testemunhas ou que foram vítimas de pedofilia, segundo o parlamentar, também foram procuradas para prestar declarações diferentes dos depoimentos, mas recusaram a oferta e denunciaram o caso ao Ministério Público.