Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – O corregedor geral da SSP-AM (Secretaria de Segurança Pública do Estado do Amazonas), Hidelberto de Barros Santos, solicitou abertura de inquérito policial militar para investigar o oficial da PM capitão Alberto Neto, eleito deputado federal pelo PRB no Amazonas com 107.169 votos nas eleições 2018. O policial é acusado de extorquir um motorista da Uber em dezembro de 2017 durante uma ação “forjada”, de acordo com o inquérito policial 237/2017, assinado pelo delegado Fernando Bezerra Lima.
De acordo com o corregedor, ainda não havia, no banco de dados da Corregedoria Auxiliar da PM (Polícia Militar), procedimento instaurado para apurar os fatos denunciados. O corregedor afirmou que consultou o processo n° 0642915-34.2017.8.04.001 e solicitou ao Comandante Geral da Polícia Militar, coronel Cláudio Silva, a instauração do inquérito policial militar.
Entenda o caso
As acusações contra o oficial da PM foram narradas no inquérito policial 237/2017. No documento, o motorista da Uber Alexsandro Barbosa Fonseca afirma que pagou o valor de R$ 5 mil para não ser preso durante uma abordagem policial realizada no dia 1° de dezembro do ano passado.
Naquele dia, os policiais abordaram um veículo dirigido por Alexsandro – um Voyage de placa PHD-9359 – com dois passageiros que eram feirantes – Pedro da Silva de Carvalho e Russiney Pantoja Barbosa. A ação ocorreu às 8h40 no “Posto dos Taxistas”, localizado na Avenida Manaus 2000, e a ação foi registrada pelo sistema de vigilância do local.
Após a abordagem, Alexsandro, Pedro e Russiney foram colocados em três carros diferentes – uma viatura da Polícia Militar, uma picape branca com policiais e o carro de Alexsandro, que ele mesmo dirigia – e passaram aproximadamente três horas rodando por alguns bairros de Manaus.
Segundo o motorista, a negociação para não prender ele aconteceu durante o trajeto que fizeram pela cidade. Ao ser questionado se teria R$ 5 mil, o motorista afirmou que o sogro dele tinha o valor e os policiais seguiram para o endereço indicado, no bairro São José Operário, onde o pagamento foi feito e Alexsandro liberado.
Depois de liberá-lo, os policiais levaram o carro que ele dirigia à delegacia. Pedro e Russiney disseram que os policiais chegaram a perguntar se eles tinham dinheiro, mas, diante da resposta negativa, os conduziram à delegacia. No local, disseram que haviam abordado apenas os dois no carro, e apresentaram uma quantidade de drogas que, segundo os militares, fora encontrada no Voyage.
De acordo com o inquérito, a droga foi apreendidas no início da tarde daquele mesmo dia, após perseguição a um adolescente de idade não informada. Com o adolescente, os policiais apreenderam três sacolas com porções de maconha. A ação foi transmitida ao vivo pela rede social do capitão Alberto Neto.
Na delegacia, os policiais disseram que a droga encontrada com o adolescente havia sido repassada por Pedro e Russiney. Ainda de acordo com os policiais, uma denúncia anônima recebida naquele mesmo dia informava sobre suposto carregamento de drogas na região e que o material estaria com Pedro e Russiney. No depoimento, o adolescente afirmou que não conhecia Pedro e Russiney, mas confirmou que ele vendia drogas no bairro da zona Sul, onde foi apreendido, e que a recebia de um fornecedor do bairro Compensa, na zona oeste.
No documento, o delegado cita doze pontos que, segundo ele, sustentam a contradição das informações registradas pelos policiais no B.O (Boletim de Ocorrência). Segundo o delegado, as imagens do sistema de segurança do posto, o relatório do trajeto do GPS do carro abordado pelos policiais e os depoimentos dos quatro personagens envolvidos na ação provam que houve ação forjada.
Na Justiça, Pedro e Russiney usaram o inquérito policial para embasar o pedido de revogação da prisão preventiva. No dia 27 de dezembro, a juíza Luciana da Eira Nasser atendeu o pedido levando em consideração o relatório de investigação apresentado pelo delegado e o parecer do MP-AM (Ministério Público do Estado do Amazonas).
Na decisão, a juíza cita “as circunstâncias pessoais dos flagranteados [Pedro e Russiney], que são primários, ostentam bons antecedentes, comprovam possuir residência fixa, trabalho lícito como feirantes”, o que justificou o relaxamento das prisões.
O outro lado
Em entrevista ao ATUAL em setembro, o capitão Alberto Neto considerou a denúncia como uma perseguição porque ele era candidato a deputado federal. O oficial da PM também afirmou que é ficha limpa e sempre colocou bandido na cadeia.
Alberto Neto também atacou o delegado responsável pelo inquérito ao afirmar que as acusações são “rotineiras” e que “o delegado deveria estar prendendo os traficantes, mas não estava”. Para o oficial, o delegado deveria “investigar os crimes e botar os traficantes na cadeia, coisa que pela incompetência do delegado, ele não fez. A gente vai e faz, e ele vem questionar incoerência no preso. Quer dizer que o delegado é o advogado do traficante?”, questionou o oficial.