Diferente do que alguns blogueiros têm afirmado, o mesmo grupo político permanece no poder do Estado. Este ano este mesmo grupo completará 35 anos governando o Amazonas.
Começou com Gilberto Mestrinho, que disse que seu grupo ficaria no poder por 20 anos. Mestrinho trouxe o Amazonino Mendes, que por sua vez criou Eduardo Braga, Omar Aziz, José Melo, Alfredo Nascimento e uma constelação de deputados que vivem em sua órbita.
Cada um com propostas mirabolantes para desenvolver o Estado, mas que não passavam de propostas eleitoreiras. O Mestrinho falava na caça aos jacarés, nos cassinos e em mineração. O Amazonino, com o 3º Ciclo. Veio o Braga com o Zona Franca Verde. O Omar com o Programa Amazonas Rural e o José Melo com a Nova Matriz Econômica e Ambiental.
Pergunto, em qual município tem algum empreendimento, alguma fábrica ou indústria beneficiando produtos regionais; gerando emprego, impostos e oportunidades, resultante desses planos ao longo de mais de 30 anos?
Atualmente, o que temos de projeto econômico para o Estado é somente a Zona Franca de Manaus, que só não acabou porque Lula e, depois, Dilma prorrogaram os incentivos até 2073.
O resultado é este: vazio econômico e pobreza no interior do Amazonas; crescimento da migração interior-capital; crescimento desorientado na capital e nas sedes de alguns municípios; desemprego e desesperança para jovens; dependência dos municípios dos repasses estaduais e federais; prefeitos de pires nas mãos; redução drástica de recursos para o setor primário; fim da assistência técnica. A lista de estragos é longa.
Foram administrações pautadas por escândalos de corrupção e desvio de recursos públicos, superfaturamentos, obras pagas, mas inacabadas. Foram Governos sem transparência e participação. É o que estamos vendo na área da saúde pública estadual, onde até o ex-governador Jose Melo foi preso e alguns de seus secretários também, por desviarem mais de R$ 100 milhões da saúde. Até recursos do Fundeb foram desviados para esquemas das empresas e secretários de saúde, como demonstrado pela “Operação Maus Caminhos” e seus desdobramentos.
Teve secretário de saúde que passou por vários Governos. Será que essas investigações vão alcançar esses governantes? Na Assembleia Legislativa, tenta-se, desde 2016, a implantação de uma CPI para investigar os supercontratos da saúde, a terceirização implantada nos hospitais e as denúncias de falta de investimentos para cirurgias. Mas os deputados do grupo político que está no poder não deixam.
Da mesma forma, tenta-se uma CPI na área de obras públicas para investigar os contratos da Secretaria de Infraestrutura do Estado, denunciados pelo ex-secretário da Seinfra, Gilberto de Deus. Ele afirmou publicamente e informou ao Ministério Público do Estado que todos os projetos de obras eram fraudados e que havia desvio de recursos públicos em tudo que era construído. Deu exemplos de pontes em construção em Tefé e Coari. Mas de novo os deputados do Governo protegem seus “patrões”, como diz o povo.
Na segurança pública, o sucateamento é geral. Não tem uma delegacia nos municípios em condições de atender a população. Há 14 anos o auxílio moradia dos policiais militares está congelado. Há 20 anos a Polícia Técnica aguarda uma nova estrutura para investigar os crimes, visto que somente 10% dos crimes recebem atenção do Estado. O Ronda no Bairro, grande esperança da população, conseguiu acabar em menos de dois anos e os indicadores de violência aumentaram. Tem áreas do Estado em que o tráfico de drogas tem mais poder que o Poder Púbico.
O atual governador, Amazonino Mendes, eleito para o mandato tampão, parece que quer continuar, mas a prática do grupo vai se repetindo, conforme um script já combinado ao longo dessas três décadas: Dividir para conquistar. Em cada eleição, fazem de conta que estão brigados, formam chapas diferentes e depois das eleições se unem novamente. Sempre usando a máquina pública e com muitos recursos das empresas prestadoras de serviços para o Estado. Que por sua vez cobram a fatura após as eleições.
E hoje, o governador vem apresentar sua mensagem para Assembleia Legislativa. Não acredito que terá grandes novidades. É mais do mesmo desse grupo político. Ele, Amazonino, prometeu arrumar a casa em alguns meses e até o momento não fez, e a bagunça só aumenta.
A eleição de 2018 está às portas. O grupo político no poder pretende continuar e, além de Amazonino, nomes não faltam. Nomes novos, mas frutos do mesmo grupo e da mesma prática. Pode haver mudança? Acredito que sim. O povo tem esse poder. Mas precisa de um novo projeto, com novas práticas para administrar o recurso público e com mecanismos para que o povo possa definir as suas prioridades. Não basta somente o nome novo!
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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