Ninguém se sente culpado pelo fechamento do CBA, o Centro de Biotecnologia da Amazônia, que teve seus últimos pesquisadores mandados pra rua na semana passada. Cada um dos que têm alguma pontinha que seja de responsabilidade aponta o dedo na direção de entes fictícios, como “o Estado”, “a União”. Ninguém assume a falta de vontade política em resolver um problema que parece extremamente simples. O fato é que o Amazonas patina no campo da pesquisa aplicada e é um zero à esquerda na busca de novas matrizes econômicas que desatrele o desenvolvimento do combalido Polo Industrial de Manaus.
O CBA, na verdade, é reflexo do que se tornou a Zona Franca de Manaus e a Suframa aos olhos do Estado e da classe política. No mesmo trilho em que correu o CBA até descarrilar, a Suframa também trafega. O governo federal trata a autarquia como um lixo de difícil reciclagem na engrenagem do Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior. A indústria do sul, liderada pela paulista, e os políticos das regiões mais desenvolvidas economicamente, não dão a mínima importância para a Zona Franca de Manaus e só a enxergam como um entrave para a economia de seus Estados. E nada se faz no Amazonas de forma articulada com as forças políticas e econômicas para mudar este cenário. O que se vê são vozes isoladas de políticos, de entidades e, muito raramente, de governo.
O CBA, que desde o nascedouro esteve sob a égide da Suframa, de fato nunca existiu. É elementar que, como uma pessoa física, a pessoa jurídica não existe para a sociedade antes de seu registro oficial. Sem personalidade jurídica, o Centro de Biotecnologia foi apenas um trambolho de difícil mobilidade. Todas as autoridades sabiam que sem personalidade jurídica não haveria futuro para o CBA. E por que não se fez uma ação articulada para resolver o problema no âmbito do governo federal?
Ora, em 11 anos de existência, as autoridades do Amazonas não foram capazes de convencer o Palácio do Planalto da importância do CBA para a economia do Estado. E estamos falando de um governo central parceiro de todos os governantes que passaram pelo Estado nesses anos. O ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff nunca foram pressionados de fato para resolver o imbróglio entre os três ministérios que poderiam ser responsáveis pelo CBA.
E qual o resultado desses 11 anos de pesquisa, além dos recursos jogados no lixo? Nenhum. Nada do que foi desenvolvido no Centro virou produto patenteado, como era o propósito do Centro de Biotecnologia da Amazônia.
Agora, alguns dos que poderiam e não fizeram tentam “chorar o leite derramado”. No entanto, o fechamento do CBA foi apenas o desfecho de uma catástrofe anunciada há muito tempo, e reflete a falta de visão política: nenhum governo tem política de longo prazo para o desenvolvimento do Estado. A pesquisa aplicada, que deveria estar inserida em uma política estratégica, é pífia nas instituições de ensino e pesquisa do Estado.
O governo está alardeando, agora, a piscicultura como um projeto de desenvolvimento para o Amazonas, mas o que há de estudos e pesquisas nessa área que possa contribuir com esse projeto? Não se resolveu o problema básico para a criação de peixes em larga escala, qual seja, a produção local de ração, ou a redução do seu custo de “importação”. O governo não consegue sequer liberar a compra de insumos da Companhia Nacional de Abastecimento, o que poderia baratear a ração.
Vamos um pouquinho mais além: Manaus teve iniciada, desde a gestão de Serafim Corrêa (2005-2008) na prefeitura, a construção de um terminal pesqueiro. Até hoje o terminal não entrou em operação e o prédio começa a se deteriorar por falta de uso. E não funciona porque ninguém resolve problemas burocráticos.
É assim que tudo funciona nessas terras barés. E tudo isso é feito sem qualquer sentimento de culpa de quem governa.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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