Não é de hoje que o Brasil convive com a crise econômica e com a primitiva mediação política “ficha suja”. Direita, centro, centro-direita, centro-esquerda, esquerda, e outras variações que alcançaram o comando administração pública, não conseguiram governar o país sem saqueá-lo nem deixar de agravar as crises econômicas com suas lutas e jogos pelo poder antes de agir para atenuar as mesmas. Isso vinha sendo a regra, todavia, por diversos fatores, inclusive pela influência e universalização das redes sociais, há novos componentes em curso no atual contexto: a irracionalidade, o ódio e a expectativa de convulsões sociais violentas em proporções inéditas.
Esses novos elementos, sem dúvida, são capazes de fazer a diferença, uma vez que a tendência à irracionalidade levada a extremos na luta ou no jogo irresponsável entre as principais forças políticas e segmentos sociais aprofunda a divisão e a instabilidade do país.
Num ambiente no qual inexiste espaço para um entendimento mínimo em favor da nação, não há condições nem meios para soluções efetivas ou, ao menos, encaminhamentos das demandas reais da população frente ao ambiente de crise generalizado. O combate à corrupção e ao abuso de poder é necessário e fundamental para retomada da credibilidade, da normalidade e do aprimoramento da democracia no país. Contudo, é preciso fazer isso de maneira a não levar o próprio país a implodir nem causar maior violência, crimes e mortes. É necessário preservar a nação enquanto se revisam ou reformam as regras que regulam a luta entre as forças partidárias pelo controle do Estado.
A atual tendência à irracionalidade extrema, protagonizada por grupos e segmentos antagônicos da sociedade brasileira, conduz a uma instabilidade sem precedentes, de modo a atingir todo o país, com amplos riscos e demasiados custos. É imprescindível que não se permita que o país seja conduzido a sérias conturbações, convulsões sociais e conflitos civis violentos simplesmente por questões de luta pelo poder, ainda mais entre facções partidárias que já governaram e provaram que, além de não terem competência pra compor um projeto de país, estão envolvidas com esquemas de saque que enlameiam a história da República. As consequências podem ser imprevisíveis e aterradoras. E os esquemas alcançam todos os poderes.
O custo de uma desordem extrema, gerando violência e abusos de diversas ordens, além da própria corrupção, pode produzir uma irrecuperável quebra da institucionalidade. Uma ruptura sem meios de reparo ou correção e gerar situações muito mais danosas e impactantes. Por isso, ao lado do combate à corrupção e aos abusos, seja de quem for, é necessário preservar o país e a frágil unidade nacional, sobretudo num país de dimensões continentais como o Brasil.
Deve-se considerar, por fim, a imperiosa necessidade de conduzir responsavelmente os processos de combate à corrupção e de enfretamento entre facções políticas, partidárias e segmentos antagônicos, seja por qual motivo for (punição a abusos, corrupção, injustiças, controle do ente estatal…), ainda mais levando em conta que, diferentemente do contexto social que resultou no afastamento do ex-presidente Collor, o atual cenário é bastante distinto e a sociedade brasileira está profundamente dividida, como nunca antes se verificou. Afinal, o que poderá restar do país se ele sucumbir às irracionalidades da jogatina da velha política ficha suja?
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