MANAUS – Conto uma história real vivida no finalzinho de 2017 para ilustrar o título.
Fui ao oftalmologista no dia 27 de dezembro, em um shopping da zona leste, com minha filha Ana Maria, de 8 anos, para consultas de rotina. Paguei o preço cobrado pelo médico: R$ 400,00. R$ 200,00 de cada consulta. Não pechinchei, não pedi desconto. Era o preço para atendimento particular, de quem não tem plano de saúde.
Na recepção, cobrei da atendente o recibo ou nota fiscal de serviço para que pudesse incluir a despesa na declaração de imposto de renda. Ela respondeu assustada que não estava autorizada a fornecer e que eu deveria falar com o médico, durante a consulta. Foi o que fiz.
Ao final da consulta, o médico sorridente e prestativo, mudou o tom quando lhe cobrei o tal recibo. “Uma consulta de R$ 200,00 não dá para dar comprovante para declaração de imposto de renda”, disse. E completou: “Se você quiser o comprovante, eu cobro R$ 350,00 a consulta”. Por um milagre, não demonstrei irritação. Disse que compreendia e sai do consultório.
Em 2016, encontrei esse mesmo médico – já me consultava com ele à época – em uma daquelas manifestações do Fora Dilma, contra a corrupção com foco em Lula e no PT. Ele e os manifestantes exigiam ali o impeachment da presidente da República e o fim da corrupção. Reclamavam da inflação alta, do aumento de preços etc.
Na virada do ano, minha filha precisou ir ao médico e voltamos ao consultório do mesmo dôtor. A consulta havia subido de R$ 150,00 para R$ 200,00, num período em que a dita inflação inaceitável do governo Dilma batera 10%. O médico manifestante aumentara o preço da consulta em 33,3%.
Agora, ele argumenta que não pode dar recibo, admite que está sonegando tributo à Receita Federal. Disse, com todas as letras, que já paga imposto demais. E vociferou que uma consulta oftalmológica de R$ 200,00 com recibo é depreciar a profissão. E mais: disse que cobra R$ 200,00 para ajudar a população da zona leste que não pode pagar uma consulta mais cara, mas que ninguém lhe venha pedir comprovante de pagamento.
Desci as escadas do shopping e, pra minha surpresa, no andar de baixo há um consultório oftalmológico, com diversos médicos. Entrei por curiosidade e perguntei o preço da consulta. A recepcionista respondeu, gentilmente: R$ 180,00. Perguntei se o consultório daria recibo para efeito de declaração do imposto de renda, e ela respondeu que sim.
Estamos ou não estamos diante de um corrupto? É tal médico melhor que os políticos que ele próprio critica? Sonegar imposto não é uma prática criminosa?
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