Nós temos a opção de desenvolver o Amazonas por meio de seus recursos naturais?
Nós temos o desejo de desenvolver o Amazonas por meio de seus recursos naturais?
Nós temos a necessidade de desenvolver o Amazonas por meio de seus recursos naturais?
Nós temos o direito de desenvolver o Amazonas por meio de seus recursos naturais?
Nós temos a obrigação de desenvolver o Amazonas por meio de seus recursos naturais?
Podemos dizer sim para todas estas assertivas?
Tenho a nítida impressão que tem sido mais fácil dizer não para todas elas. O não é mais simples, mais confortável, mais direto, mais usual, mais responsável. Eu não concordo com isso, mas esta é a voz corrente. Há muito mais motivos para não correr risco do que correr riscos. O risco está associado a alguma necessidade e quando não há necessidade, não há porque se correr riscos. As sociedades colocam-se em risco apenas quando há uma necessidade maior que a move. Se há conforto na pobreza, a pobreza não incomoda. Se existe conforto em perceber a pobreza do próximo, não há incômodo.
Enquanto sociedade, o Brasil está confortável com a pobreza das regiões periféricas, não há incômodo ao saber que um nordestino do agreste está sedento ou que um ribeirinho nortista não tem acesso à Internet. O incômodo é um primeiro motivador para a mudança da situação e este incômodo precisa ser de todos ou ao menos de uma quantidade expressiva de pessoas.
“A mudança não virá se nós esperarmos por alguma outra pessoa ou… por algum outro momento. Nós devemos ser aqueles pelos quais esperamos. Nós somos a mudança que procuramos.” Esta frase de Barack Obama pode inspirar a população e as lideranças do Amazonas, isso se nós realmente acreditamos que este estado possui uma floresta valiosa para ser explorada por meio de um uso responsável, para a saúde e alimentação nossa e da humanidade. Está mais do que na hora de mudar a forma como o problema é enfrentado.
Caminhar na escala apresentada, desde a opção até a obrigação é algo que precisa ser realizado. As barreiras serão transpostas a partir do momento que existir este reconhecimento. Não podemos nos distrair com favores que nos afastem deste objetivo central: o nosso desenvolvimento. É necessário que criemos este incômodo.
Para tal, é sabido que não há recurso suficiente, porque não temos capital abundante na região. Entretanto, se quisermos fazer investimentos para fundos que financiem o desenvolvimento da região, não há como. Há forma de confortavelmente emprestar dinheiro para o sistema habitacional por meio da Caderneta de Poupança ou de emprestar dinheiro para o Governo Federal pagar juros por meio do Tesouro Direto e seus papeis, financiando seu enorme déficit público.
Gostaria que existisse um grupo de companhias de capital nacional com ações na Bovespa, que fizessem Pesquisa & Desenvolvimento na Amazônia. Adoraria colocar R$ 1 mil em uma empresa destas. Tenho certeza que ela possui muito mais futuro do que comprar ações da Petrobras ou da Netflix. Entretanto, onde estão estes nossos empresários que possuam esta coragem? Onde estão os pequenos empresários dispostos a abrir o capital e demonstrar com uma boa história como será o Negócio para ganhar dinheiro com a região?
Fica o convite para os reguladores criarem modelos de negócio que sigam a nossa realidade, ao invés de buscar amplos investimentos em indústrias onde já há um enorme domínio norte-americano, como nos negócios de softwares, ou asiático, como nos negócios de hardware. Precisamos desenvolver negócios, onde não há amplo domínio internacional. A única forma de fazer isso é olhar para o que ninguém mais tem e, pelo que observo, a Amazônia e sua biodiversidade é o que mais nos torna únicos. Investir aqui pode ser uma boa saída para nos transformar. Se apenas a exploração da borracha foi suficiente para fazer o que foi feito aqui… imagine o leitor se a cada ano tivermos um novo negócio do tamanho do que foi a borracha?
Precisamos exercer a obrigação de desenvolver a nossa região. Ninguém de fora fará este papel. Pelas pessoas de outras localidades, jamais teremos sequer a opção e sempre teremos os nossos desejos cerceados e pequenos artifícios que distraiam a necessidade, para que jamais tenhamos direito de fazê-lo por conta de regras em excesso. Fica o convite para mudarmos juntos este cenário. Vamos executar nossa obrigação.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.