Acompanhei atentamente as manifestações públicas realizadas no domingo, 16 de agosto. De certa forma, fiquei com a impressão de que o povo brasileiro – a classe média especialmente, redescobriu a importância dos protestos de rua para reivindicar melhorias no governo e na sociedade. Dentre as diversas bandeiras levantadas, destacaram-se os pedidos de impeachment da Presidente, contra a corrupção, pela volta da ditadura (pasmem!) e até mesmo algumas a favor da volta da monarquia. Felizmente, vivemos uma democracia.
Indiretamente, as imagens de tantos brasileiros enrolados com bandeiras, ostentando as cores nacionais ou levantando cartazes, me fizeram lembrar um episódio ocorrido comigo em setembro de 2014. Na ocasião, eu disputava as eleições majoritárias na condição de candidato a vice-governador. Era um final de tarde quente de domingo. Estava em casa arrumando as contas do condomínio onde moro com minha família. Liguei para um morador para explicar algo sobre a organização administrativa sob minha responsabilidade. Surpreso, o interlocutor me perguntou “meu amigo, você está uma hora dessas resolvendo isso?! Como é que você quer ser vice-governador! Você não deveria estar atrás de votos!?”. Respirei e respondi que se um cidadão não serve para ajudar a resolver os problemas de sua rua, seu bairro ou sua comunidade, provavelmente ele não serve para ser governador, prefeito ou qualquer outra função pública. Ele se calou, resolvemos o assunto administrativo e não falamos mais nisso.
Assim, durante o domingo de manifestações, fiquei refletindo por que nos mobilizamos para tentar tirar uma presidente do poder – eleita democraticamente por nós – e não somos capazes, sequer, de discutir os problemas da rua em que moramos, ou participar da reunião do condomínio, ou das reuniões dos conselhos de pais e mestres nas escolas, ou ainda organizar uma pauta local de reinvindicações à Prefeitura Municipal? Será que só existem problemas no Governo Federal?
Ainda jovem, Barack Obama deixou uma carreira promissora em Nova York para trabalhar em uma associação comunitária em Roseland, região pobre ao sul de Chicago. Com a apoio de voluntários, ajudou a criar programas de educação para o trabalho, tutoria para a preparação para universidades e uma organização de defesa dos direitos de inquilinos. Foi para Harvard, formou-se, ganhou eleição para senador da república, foi eleito presidente dos EUA em 2008 e em 2009 foi ganhador do prêmio Nobel da Paz.
A vida e a trajetória de Barack Obama, e tantos outros que lutam por causas locais, nos mostra como é importante a mobilização social para a solução de problemas bem mais reais do que a inflação ou a corrupção sem rosto. Precisamos resgatar os valores e os ideias que nos unem em torno de um sonho, um lugar, uma comunidade ou um bairro. Proteger as crianças da violência, educa-las e fazer com que os jovens reflitam sobre seu futuro, oferendo condições, parece uma excelente causa a perseguir.
PS. Enquanto muitos estavam nas ruas, meu amigo Gilberto e demais voluntários, realizaram um mutirão de limpeza nas áreas verdes do Conjunto Flamanal, em Manaus. Parabéns pela iniciativa!