Aquele ministro “que-não-deve-ser-nomeado”, tal como o vilão de certa série adolescente, expressou bem a decisão da maioria dos membros do colegiado do TSE, que mandou às favas não apenas a modéstia.
A decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), semana passada (09.06.2017), mandou às favas a República. Mandou às favas a Democracia. Mandou às favas a perspectiva de que algum dia possa realmente ocorrer eleições democráticas no Brasil. Mandou às favas o próprio TSE e o Poder Judiciário do país.
Pra que República? Pra que defender princípios e perspectivas de bem comum da sociedade brasileira frente ao abuso do poder econômico de alguns, sobretudo nas eleições? Pra que buscar a justiça e a cidadania eleitoral? Aonde se viu! Ainda mais na colonizada república das bananas?! Que despropósito!
Democracia eleitoral? Eleições com justas condições para todos? Pra que isso, não é mesmo senhores excelentíssimos ministros? As eleições devem continuar sendo a farra de ilusões e promessas sem compromisso, o disfarce da cleptrocracia reinante desde sempre. Por que não entregar o comando estatal ao mercado ou ao diminuto segmento muito rico que concentra as riquezas? Por que não oficializar que o governo federal é uma espécie de anexo de organizações suspeitas e corporações de grupelhos, como a Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo)? Seja pela via do golpe seja pela via das eleições, somente o mercado tem decidido. Quais as suas regras? As da selva: individualismo, competição, violência corrupção e o arcaico leilão – quem der mais, leva! E o fazem com nostalgia: “Ah… é tão ‘bom’ e tão ‘normal’ assim, dessa forma, como ocorre desde o tempo do ouvidor-mor…” Dizem que é tão “natural” esse “modus operandi”, faz parte da “cultura”, é o procedimento com o qual as cúpulas dos poderes estão bem alinhadas, inclusive ao ponto de justificar o afastamento de provas robustas por parte de ministros do Judiciário.
Deixa o sistema “andar sozinho”. Não cabe ao Judiciário intervir. Quem quiser jogar grana nas apostas, que jogue! “Nasceu assim, foi sempre assim, será sempre…” Pra que “remar contra a correnteza?” Basta ter “fé” e outras “virtudes” nada teologais. Não reformemos nada. Deixemos tudo a cargo de nossos heróis-sem-caráter, nossos encapuzados ou uniformizados salvadores da pátria.
Não mexamos em nada. Não retiremos o dinheiro privado nem público das eleições. Eleição pra discutir projetos, valores, ideias, pra que isso? De que isso vale? Melhor fazer das eleições um grande business, temporada de negócios não contabilizados: “todo mundo ganha” no tráfico eleitoral. Consciência? Cidadania? Never! Only money.
Não reformemos a política nem o viciado sistema representativo eleitoral e partidário. Mantenhamos a farra da captação monetária nas eleições, da compra de votos e de mandatos, da cooptação de todos os que podem decidir, dos que asseguram os próximos contratos superfaturados, aprovados com a chancela de tribunais de contas, e que alimentam as mirabolantes redes e asquerosos esquemas de corrupção institucionalizados por todo o país há décadas. Afinal, o Brasil é apenas formalmente um país, uma república de conveniência e uma democracia de fachada. Basta falar com os donos. O patronato brasileiro cuja formação Raymundo Faoro desvelou, em sua obra, desde longa data. Talvez, por isso, tenha sentenciado: “Acho que a história do Brasil é um romance sem heróis.”
Essa vasta terra de belas praias, grandes rios, abundantes recursos naturais abaixo da linha do Equador sempre foi alvo predileto dos piratas e pilhadores de todas as espécies. Logospiratas de plantão. Quase todos a saqueiam para gastar em dólar ou em euro. Por que não seus governantes, legítimos herdeiros dos senhores de engenho? Suas elites econômicas e políticas sonham em passar dias e dias noutras paragens mais civilizadas, distante desta terra de gente violenta e bárbara, selvagens quase sem alma. Contudo, para que isso aconteça precisam apenas assegurar um detalhe essencial: um povo perenemente espoliável, controlável e manipulável que as sustentem, capaz de suportar o pesado fardo de toda essa criminosa engrenagem, com a cumplicidade da cúpula dos poderes, ministros e diversas de suas onerosas instituições. Por isso, de fato, oh inominável ministro, mande-se não só a modéstia, mas toda a perspectiva de um país e de sua nação aquele destino – às favas!
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Parabéns meu nobre e precioso amigo. Deus lhe conduza sempre pela senda da sabedoria com graça e profusas bênçãos. Um forte abraço do amigo do sul. Jorge Vanzuit