Arthur Virgílio Neto prefeito não tem nada que o assemelhe com o Arthur Virgílio senador, que encantava o eleitorado país afora por sua postura no Congresso Nacional. No comando da cidade de Manaus, passou a rezar pela cartilha de Maquiavel e a fazer uma política calçada no populismo descarado. Tornou-se um demagogo contumaz, aparece nos lugares mais inusitados e faz política rasteira para agradar à patuleia.
Essa política que Arthur Virgílio resolveu praticar em Manaus tem os pés de barro. E isso é um problema grave em uma cidade que alaga com qualquer chuva, porque sofre com a falta de drenagem.
No primeiro ano de gestão, o foco do prefeito era se cacifar para disputar o governo do Estado, nas eleições deste ano. Agora, que ele desistiu da disputa, vislumbra a reeleição, em 2016, mas está preocupado em eleger o filho Arthur Bisneto a um cargo mais alto ou a reelegê-lo para mais um mandato melancólico na Assembleia Legislativa.
As últimas ações de Arthur Virgílio são dignas de repúdio, e foram elas que moveram o espírito deste humilde jornalista a escrever essas linhas. Refiro-me ao comportamento do prefeito diante da tragédia que matou 16 pessoas e feriu 17, na última sexta-feira. Louvável a atitude de retornar de uma viagem, como louvável foram as visitas aos hospitais para saber do estado de saúde dos sobreviventes.
Mas convocar a imprensa para registrar as imagens de um ato como colocar flores no local do acidente é demais para um gestor que respeita os cidadãos que o elegeram. Esse é o tipo de ação que deve ser feita com a maior discrição, para não parecer que o autor quer tirar proveito da situação. Não tenho como julgar se a intenção foi essa, falo do efeito do ato, da reação de quem viu as imagens da cena.
Arthur também tratou de anunciar o batismo de uma obra de autoria da gestão dele com a data da tragédia. E nesta terça-feira (1º de abril) encaminhou à Câmara Municipal de Manaus dois projetos de lei: um para dar nome de 28 de Março ao viaduto da entrada do aeroporto e outro para tornar a data de 28 de março o Dia Municipal de Prevenção a Acidentes e Combate à Violência no Trânsito. O Departamento Nacional de Trânsito já tem, não um dia, mas uma Semana Nacional de Trânsito, comemorada no mês de setembro.
Não é de homenagens ou de mais um dia de “reflexão” que o trânsito de Manaus precisa. O mais importante está por fazer: vias com maior segurança, punição aos que cometem infração, agentes de trânsito permanentemente nas ruas para fiscalizar e aplicar as sanções definidas por lei, campanhas educativas permanentes, no lugar da propaganda pirotécnica que tomou conta dos meios de comunicação, entre outras medidas.
No caso específico do acidente com o micro-ônibus, Arthur Virgílio não disse absolutamente nada a respeito da contratação da empresa envolvida em esquemas suspeitos nas prefeituras de Coari e Parintins, que lhe renderam duas denúncias, uma na Justiça Federal, outra na Justiça Estadual. A empresa Tercom Terraplanagem Ltda. é proprietária da caçamba que causou o acidente. Não há relação entre as denúncias de corrupção e o acidente, óbvios, mas só se revelou que a empresa denunciada tem contrato de mais de R$ 40 milhões com o município quando o acidente ocorreu. É insuficiente a Secretaria de Comunicação dizer que a Tercom, coincidentemente, venceu o processo de licitação.
Mas não é de hoje que o populismo de Arthur beira o ridículo. Começou no primeiro dia da gestão dele na Prefeitura de Manaus. Orientado por uma mente brilhante, Arthur trocou o terno da posse por uma roupa de gari, de cor laranja, e dependurou-se em um caminhão de coleta de lixo. Queria mostrar, não aos garis que presenciaram a cena, mas à população que o assistiu pela TV ou comprou os jornais, que estava disposto ao trabalho de limpeza da cidade. Esse tipo de figurino só cai bem no corpo de um populista.
Em outra ocasião, em agosto do ano passado, ao anunciar investimentos na ordem de R$ 45 milhões para a construção de shoppings populares para abrigar os camelôs, o prefeito foi carregado pelos vendedores ambulantes dentro do auditório da prefeitura. A espontaneidade dos camelôs chamou a atenção, mas Arthur saiu bem na foto, e sentiu-se com o seus.
No dia da retirada de bancas de vendedores ambulantes da Avenida Eduardo Ribeiro, no Centro Histórico de Manaus, no mês passado, o prefeito e a primeira-dama Goreth Garcia pegaram vassouras e “lavaram” as calçadas. Fizeram aquilo debaixo de um temporal, o que deu um tempero ainda melhor à sanha populista.
Outros episódios ilustram o comportamento do novo Arthur. Mas nenhum, por certo, teve repercussão maior que a movimentação do prefeito em torno da tragédia de 28 de março. Talvez a maioria dos manauaras aplauda o prefeito pelo que ele fez, mas há uma minoria, silenciosa por conveniência, que acompanha esses movimentos com outro olhar e com outro sentimento.
Infelizmente, há um silêncio preocupante da mídia que impede a análise dos fatos com maior frieza e racionalidade. E esse silêncio é o alimento do populista. E por que esse silêncio é preocupante? Porque o populismo tende, com esse alimento, a evoluir para o narcisismo, o excesso de admiração e amor pela própria imagem e por si mesmo. Espelho não fata. Narciso já nos ronda.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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