O prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB), quer impor o nome do vereador Sildomar Abtibol (Pros) para a presidência da Câmara Municipal de Manaus (CMM) apesar de a maioria dos parlamentares da Casa ser contrária à indicação. A informação está sendo amplamente debatida por aliados da base governista do prefeito nos últimos dias. Para os governistas mais descontentes, a atitude só confirma a CMM como anexo da prefeitura e corrompe dispositivos do Regimento Interno da Casa que define os vereadores como os responsáveis pela escolha do presidente, cabendo ao prefeito somente uma indicação informal.
Nas últimas duas semanas, os governistas tentaram se armar contra a possível definição de Abtibol para presidente da CMM por entenderem que ele é a continuidade do atual gestor da Casa, vereador Bosco Saraiva (PSDB). Para os parlamentares, a atual administração da CMM foi individualista e não atendeu as necessidades nem dos vereadores nem da população.
Na base, composta por 36 vereadores, circulava uma lista na qual apontava que 26 deles estavam lutando pela eleição do vereador Ednailson Rozenha (PSDB), vice-líder do prefeito, para comandar a CMM nos próximos dois anos. Para eles, Rozenha conseguiu intermediar melhor as demandas dos vereadores junto ao Executivo e se mostrou mais democrático.
Ignorando a vontade dos parlamentares e pensando somente em sua reeleição em 2016, Arthur quer um aliado do governador José Melo (Pros) para contar com a força da máquina estadual em sua campanha. Nessa escolha, segundo o grupo descontente, Arthur se mostrou egoísta e não pensou em seus aliados já que não ouviu a opinião deles.
Parábola dos talentos
Os vereadores da base de Arthur na CMM se comportam como o “empregado mau e preguiçoso” da Parábola dos Talentos, contada por Jesus. Na história, o patrão entrega cinco talentos para um, três para outro e um para o terceiro empregado. Os que receberam cinco e três, multiplicaram os talentos; o que recebeu um o enterrou e devolveu o mesmo que recebera. A justificativa: “Senhor, sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeaste e colhes onde não plantaste, com medo, escondi na terra o teu talento”. Os vereadores temem que ao se negarem a acompanhar a decisão do chefe do Executivo, possam sofrer represália da prefeitura para suas propostas e indicações de obras do município comprometendo a produção legislativa deles junto às suas bases de eleitores. Um dos parlamentares saiu-se com o seguinte frase: “Para quem vai lutar pela reeleição daqui a dois anos, isso seria um suicídio eleitoral”.
Base frouxa
O que os fatos revelam é uma atitude submissa e covarde, incompatível com a independência entre os Poderes da República. Se os vereadores dizem contar com 26 nomes que apoiam a candidatura de Rozenha, esse grupo teria maioria suficiente para se impor na Casa e tirar o Poder Legislativo da posição de agachamento que sempre manteve em relação ao Executivo. Arthur teria que ceder e negociar. Mas não é assim que pensa a maioria, que prefere engolir o capim e ruminar em silêncio.
Dupla traição
Ednailson Rozenha é vítima de dupla traição nesse processo de escolha do presidente da CMM, uma de Arthur e outra dos colegas que se aliaram a ele até a definição do prefeito. Arthur sabia das intenções de Rozenha desde a eleição de Bosco Saraiva, em janeiro de 2013. Na campanha eleitoral deste ano, Rozenha se empenhou na campanha de Arthur Bisneto para deputado federal, e agora foi preterido pelo prefeito. Em relação aos colegas, a maioria já está decidida a pular do barco, depois de muitos almoços, jantares e conversas de bastidores, com promessas de apoio.
Aliança precipitada
A escolha de Arthur para a presidência da CMM em troca de apoio político do governador José Melo em 2016, quando o prefeito vai tentar a reeleição, lembra a história de Alfredo Nascimento, que em 2008 apoiou Omar Aziz para prefeito de Manaus com a promessa de que em 2010, Omar e Eduardo Braga o apoiariam para o governo do Estado. As alianças, de fato, só se concretizam às vésperas da eleição. Os cenários mudam de acordo com os ventos.