Da Redação
MANAUS – A força do argumento para relatar fatos levou a Prefeitura de Tabatinga (a 1.110 quilômetros de Manaus) a asfaltar uma rua que há anos existia apenas no barro. O prefeito Saul Nunes Bemerguy (PSD) se rendeu ao argumento incontestável dos alunos do Ifam (Instituto Federal de Educação Tecnológica do Amazonas). Em carta, eles expuseram as razões para a urbanização da via pública.
A iniciativa foi da professora Michele Mendes Rocha de Oliveira, de Língua Portuguesa, e envolveu alunos do 3º ano do Ensino Médio. O trabalho de Michele, intitulado ‘A argumentação que leva à estrada da cidadania’, foi uma das dez práticas inovadoras no ensino de leitura e escrita reconhecidos no projeto ‘Com a palavra, o professor-autor’, do programa Escrevendo o Futuro da Fundação Itaú Social.
Há anos, alunos, professores e funcionários enfrentavam dificuldades para chegar à escola, que fica na Rua Santos Dumont. Grandes buracos, lama, água e os consequentes acidentes e atolamentos de veículos eram rotina na vida da comunidade escolar. Michele propôs a elaboração de uma carta ao prefeito do município. Saul ficou comovido ao ler o documento.
“Como o tema era de grande relevância social, o projeto mobilizou toda a comunidade que pôde enxergar o poder da palavra e a possibilidade de participação social por meio da escrita. Segundo os próprios alunos, eles estavam sentindo-se ‘mais poderosos’, o que evidencia, sem dúvida, a relação entre escrita e cidadania proporcionada pelo trabalho desenvolvido”, disse Michele.
O trabalho foi um entre os 200 Relatos de Prática inscritos pelos docentes que orientaram os alunos semifinalistas da 5ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, realizada em 2016 pela Fundação Itaú Social em parceria com o Ministério da Educação e com o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).
Pesquisa
Incentivar a leitura autônoma de diferentes gêneros, autores, temas e épocas é o objetivo fundamental em aulas de literatura para 72,7% dos professores de Língua Portuguesa que participaram de um levantamento feito pelo portal Escrevendo o Futuro, plataforma eletrônica do programa.
Valorizar as diversas manifestações artísticas e culturais é essencial para 46,61% deles; apreciar os textos literários para 45,4% e diversificar as estratégias de leitura para 41,03%. Os dados foram apurados pela pesquisa Literatura em Movimento, respondida por 670 professores da rede pública de todo o País.
Segundo o levantamento, o ‘Conto’ foi apontado como o gênero literário predominante na sala de aula por 40,12% dos entrevistados. Em seguida estão crônica (21,42%), poema (19,76%) e romance (18,7%).
Mesmo considerando a valorização artística e cultural um dos elementos fundamentais nas aulas de literatura, 11,61% dos professores afirmam “nunca” proporem aos alunos a leitura de escritores africanos e/ou afro-brasileiros. 19,31% dizem “sempre” indicar tais leituras e 69,08% as propõem “às vezes”. De acordo com a lei 10.639, de 2003, atualizada pela lei 11.645, de 2008, as escolas públicas e particulares têm a obrigatoriedade de incluir essas temáticas nos currículos de ensino fundamental e médio.
Leia na íntegra a carta dos alunos ao Ifam ao prefeito de Tabatinga.
Tabatinga /AM, 23 de junho de 2017.
Excelentíssimo Sr. Prefeito,
Nós, discentes do Instituto Federal do Amazonas, vimos enfrentando graves problemas com o acesso ao Campus devido às péssimas condições da Rua Santos Dumont. Esta via é uma das principais da cidade e, parte dela, já está intransitável em decorrência da lama e dos incontáveis buracos, principais causadores de acidentes. Assim, Excelentíssimo Senhor, não há outra opção dada às pessoas que dependem da rua, a não ser trafegar por ela. Logo, a pavimentação apropriada é uma necessidade, que trará comodidade e qualidade de vida à comunidade.
Como é do conhecimento de Vossa Excelência, todo cidadão tem direito de ir e vir. Porém, com a intrafegabilidade das ruas, há o impasse quanto à locomoção. Além disso, caso ocorra um acidente em que o indivíduo necessite de atendimento especializado com extrema urgência, provavelmente a pessoa vai a óbito, visto que a ambulância da unidade de Pronto Atendimento talvez não consiga chegar a tempo. Portanto, a pavimentação da Rua Santos Dumont deve ser realizada o mais rápido possível, para, assim, garantir os direitos à liberdade e à saúde.
Segundo entrevistas feitas por nós alunos do campus, muitos discentes do Instituto sentem-se desmotivados a vir estudar, tendo em vista tantos obstáculos. Alguns de nós são dependentes do ônibus do IFAM para chegar ao campus. Contudo, a viatura, muitas vezes, deixa de funcionar por não conseguir transitar na via ou mesmo por estar estragada por causa dos buracos. Com isso, muitos de nós acabamos não comparecendo às aulas quando chove, uma vez que, torna-se quase impossível caminhar na área. Ademais, ainda temos de disputar lugar na rua com as motos e os carros, já que não há calçada. Desse modo, pavimentar a via deve ser um plano de urgência.
Além de nós, discentes, há outro público que sofre com as péssimas condições do trajeto da Rua Santos Dumont, os idosos, os quais têm o seu Centro para prática de suas atividades, localizado na via. Devido à idade de muitos deles e a sua dificuldade de locomoção, acabam desanimando e, como nós, alunos, muitas vezes, não vão à Instituição. Consequentemente, isso prejudica o bem-estar e a saúde dessas pessoas. Além disso, temos o Centro Cultural Presidente Lula, que, igualmente, está situado na rua, proporcionando grande diversidade de pessoas, hábitos e costumes ao receber os maiores eventos do município, tem sofrido com a falta de pavimentação. Isso porque, o pior trecho da via está na imediação do Centro Cultural. Como se pode perceber, a pavimentação correta da rua contribuirá para a maior qualidade de vida dos idosos, a execução dos eventos no município e a diminuição da evasão escolar dos alunos.
A alta pluviosidade existente na região gera malefícios para a área pavimentada. Segundo Walter Canales, Engenheiro Civil, em notícia sobre o papel das prefeituras em pavimentar as ruas, disponível no site G1, “é preciso ter um bom projeto de drenagem para assegurar a qualidade do projeto de pavimento”. Então, é necessária uma boa drenagem, com galerias de água pluvial. Além da correta estruturação da via, é fundamental também utilizar a pavimentação adequada para o solo da região, no caso, o concreto, pois possui inúmeras vantagens em relação ao asfalto. Apesar de seu custo inicial ser maior, apresenta vários benefícios para a população: possui o dobro de vida útil, aproximadamente vinte anos, torna a condução de veículos mais segura, sua manutenção é barata e é indicado para todo tipo de terreno, além de suportar tráfego pesado. Com isso, sugerimos que a pavimentação da via seja feita com concreto para que o problema seja efetivamente solucionado.
Acreditamos, portanto, que a adoção dessa solução resolverá o problema permanentemente e entregará a seguridade e a tranquilidade, tão essenciais, a nós, alunos, aos moradores e a todos aqueles que necessitam trafegar na Rua Santos Dumont.
Certos de sua atenção, agradecemos.
Discentes do IFAM- Campus Tabatinga