SÃO PAULO – Desde 2014 o Ministério Público de São Paulo instaurou ao menos 11 inquéritos cíveis para apurar suspeitas de ilegalidades surgidas durante a Operação Lava Jato. Destes, três foram arquivados e outros caminham para o mesmo destino. Em alguns casos nem uma testemunha sequer foi ouvida.
Segundo promotores paulistas, o principal motivo para que as investigações no Estado andem em marcha lenta, apesar de indícios apurados pela Lava Jato, é a falta de colaboração entre a força-tarefa de Curitiba e o Ministério Público paulista.
Em pelo três casos de suspeitas envolvendo contratos do governo estadual com empresas investigadas, o juiz federal Sérgio Moro, titular da Lava Jato na primeira instância, negou o compartilhamento de provas, disseram os promotores paulistas.
Em um deles, o MP de São Paulo queria cópia de anotações apreendidas pela Polícia Federal que traziam referências de suposto pagamento de R$ 3,4 milhões (5% dos R$ 68 milhões do contrato para obras na rodovia Mogi-Dutra) a um beneficiário com o codinome “Santo”, que, segundo a revista Veja, seria o governador Geraldo Alckmin (PSDB) – o tucano nega qualquer relação.
“Pedi o compartilhamento e foi indeferido. Minha investigação não avança mais por causa desse indeferimento”, disse o promotor Marcelo Milani, responsável por três inquéritos na área cível ligados à Lava Jato. Moro negou o pedido em agosto de 2016 argumentando que a investigação estava em curso.
Em novembro, Milani convocou Benedicto Barbosa da Silva Júnior, ex-presidente do setor de Infraestrutura da Odebrecht e um dos principais executivos da empreiteira baiana, para esclarecer pontos de seu depoimento à Lava Jato que dizem respeito a autoridades paulistas. Benedicto se recusou a prestar informações sob alegação de qualquer palavra poderia ferir os acordos fechados com a força-tarefa.
Pouco antes, o ex-presidente da OAS José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, usou o mesmo argumento para ficar calado diante do Ministério Público Estadual. Em outros dois casos, os promotores de São Paulo pediram à força-tarefa cópias de depoimentos já tornados públicos e receberam como resposta as chaves numéricas de acesso aos respectivos inquéritos. Os promotores se sentiram desprestigiados.
Outro momento de constrangimento ocorreu em outubro do ano passado, quando promotores que investigaram o apartamento tríplex atribuído ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que nega ter vínculo com o imóvel – acusaram Moro e a juíza Maria Priscila de Oliveira de fazer um “acordo de cavalheiros” para excluir o MPE do caso.
Em conversas reservadas, promotores argumentam que têm a prerrogativa para investigar delitos na esfera cível, como improbidade administrativa, e ficam sujeitos às pressões da opinião pública, que cobra resultados concretos.
A assessoria da Justiça Federal em Curitiba não comentou as críticas, mas fontes com acesso à força-tarefa da Lava Jato citam uma série de razões para o não compartilhamento. A principal delas é a possibilidade de prejuízo a investigações em andamento. Além disso, apontam disputas internas, vaidade e até desconfiança quanto à possibilidade de vazamentos indevidos.
Odebrecht.
No MP paulista, a insatisfação cresce à medida em que aumenta a expectativa em torno da delação de 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht. O procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio, cogita criar uma força-tarefa estadual, para investigar os casos que tenham conexões locais. “Dependendo do que vier, muitas investigações em curso aqui em São Paulo podem ter correções de rumo”, disse o promotor José Carlos Blat.
Ainda não existe certeza de como o conteúdo da delação da Odebrecht será repassado para os Estados, mas Smanio designou dois promotores da área criminal para estabelecer procedimentos de colaboração com a força-tarefa em Curitiba. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
fonte: Estadão Conteudo
Mesmo?
Por que esta notícia importa ao Amazonas Atual, e não aquela sobre a queda drástica das empresas em 2016? Gostaria de compartilhar uma que dificilmente sairá em um site tradicional:
Globo encomenda pesquisa para ajustar ataques políticos a Lula
Escrito por Miguel do Rosário, Postado em Redação
O Valor (leia-se Globo) publicou hoje – e tratou rapidamente de esconder a notícia, tanto que me deu um certo trabalho encontrá-la – que uma pesquisa qualitativa feita exclusivamente para o jornal.
A pesquisa aponta que a população está cada vez mais saudosa de Lula, apesar do “noticiário negativo” contra o ex-presidente.
O gráfico, tirado dos números do Datafolha, mostra o crescimento incrível de Lula em 2016 em meio ao mais virulento ataque midiático já sofrido por um político na história do mundo.
(Há um gráfico)
Lula dispara, enquanto os candidatos anti-Lula, como Marina Silva (que apoiou Aécio, o impeachment e não dá uma palavrinha contra Temer) e tucanos, desabam.
O título que o Valor (Globo) dá ao gráfico é engraçado, porque não esconde a perplexidade da grande mídia em relação à resiliência de Lula: “Ano estranho”.
Entretanto, quando a reportagem reproduz algumas frases colhidas na pesquisa qualitativa, vê-se que a única e exclusiva razão para o crescimento de Lula é a maior virtude da raça humana, a única que pode salvar o país: o bom senso.
Alguns entrevistados, confrontados pelas acusações contra Lula, dizem o seguinte (segundo a reportagem do Valor):
“Pega um vereador, tem muito mais poder aquisitivo que um sítio em Atibaia ou um apartamento no Guarujá”, disse alguém. “Atibaia nem é tudo isso”, completou uma mulher. “Não tem provas concretas”, decretou outro.
Ou seja, a principal acusação da Lava Jato contra Lula, de ser dono de um “triplex” e um sítio, simplesmente não está colando. É ridículo demais e não engana nem o zépovinho cujo principal meio de informação é a TV Globo.
De maneira geral, a população, constatam os pesquisadores, tem lembranças cada vez mais positivas da era Lula, quando havia um “equilíbrio”, ou seja, o Brasil ainda não fora assaltado por esse consórcio de bandidos que vemos hoje, ocupando todas as esferas de poder, no Executivo, no Judiciário, no MP, no Legislativo. Até a mídia, intimidada pela popularidade de Lula e pelo bom desempenho das políticas econômicas do governo, mantinha um pouco mais de compostura.
Trecho da matéria:
(…) o levantamento identificou reiterados sinais de um sentimento de nostalgia em relação à sua gestão, de 2003 a 2010. Eleitores não ideológicos que estariam dispostos a guiar a escolha baseados em boas lembranças daquele governo. Lembranças associadas, principalmente, a aspectos econômicos.
Outro trecho:
(infelizmente a mídia não comporta a cópia de imagens, mas este trecho da pesquisa é elucidativo)
As últimas frases mostram a intuição incrível do povo, frequentemente superior aos dos mais capacitados intelectuais: “só quem não gostou da administração dele foi o pessoal da classe A. Muita gente começou a ter opção e salário melhor e parou de se sujeitar para os patrões”.
Uma das conclusões que se pode fazer da pesquisa, a meu ver, é como não se pode jamais subestimar o mal causado pela falta de comunicação do governo Dilma. O povo, mesmo rejeitando Dilma, continuava apoiando as políticas do PT e permanecia fiel a Lula.
Dilma cometeu um erro trágico ao não manter um canal direto, constante, de comunicação com seus eleitores.
Repare também que as principais fontes de informação dos entrevistados (como da maioria das pessoas mais pobres) são Globo e Record. Entretanto, os mesmos também se informam, de maneira determinante, pelo Facebook. Ou seja, seria possível, ao governo Dilma, fazer uma comunicação mais inteligente, mais direta, distribuindo pequenos vídeos, oferecendo um debate mais franco, em que inclusive os problemas reais fossem explicados à população.
O PT tem uma visão, até hoje, incrivelmente medíocre de comunicação, confundindo-a com propaganda, o que apenas tira o prestígio e a força da mensagem. O povo tinha que ouvir uma análise dos problemas e desafios enfrentados pelo país diretamente da boca da presidente. Uma análise franca, dura, realista, inclusive em relação aos problemas políticos.
Dilma enredou-se num republicanismo falacioso, um republicanismo suicida, que é na verdade um não-republicanismo, segundo o qual um presidente não pode falar com a população porque isso seria “chavismo”, ou “uso indevido” da máquina pública. Ora, Obama falava diretamente à população, por email, facebook, youtube, pessoalmente, dava entrevistas a vários canais, recebia blogueiros políticos. Obama não era chavista: era um político!
Dilma, por sua vez, fugiu da TV, com medo dos panelaços dos bairros ricos (ou seja, com medo da Globo), dizendo que ia apostar na internet e, ao cabo, sumiu também da internet. O povo ficou desamparado, sem ninguém para lhe explicar a crise política a não ser os âncoras da Globo.
Lula, em cujas costas hoje repousa uma responsabilidade que ele mesmo nunca imaginaria ter, de ser a última esperança democrática, o único ponto de resistência à ditadura judicial, ao fascismo, ao desmanche do Estado que os tucanos não tinham conseguido levar adiante até o fim de seu primeiro governo, precisa entender a importância de montar, já em sua pré-campanha para 2018, um moderno e democrático sistema de comunicação.
ISTO É IMPORTANTE DE SE DIZER. Que o PT e Lula, porém, não se enganem. A pesquisa qualitativa do Valor foi encomendada exclusivamente com o fito de ajustar a estratégia de ataque político a Lula e ao PT. Por isso é uma pesquisa qualitativa voltada especialmente para o eleitor (atual) de Lula.
O nome da pesquisa deveria ser: o que mais podemos fazer para manipular a consciência do pobre de classe C e D que ainda resiste em votar em Lula?
A guerra vai ficar mais suja nas próximas semanas, porque, evidentemente, um golpe dado a um custo tão alto para o país não seria levado adiante senão houvesse uma determinação de guerra para evitar qualquer chance de Lula voltar ao poder.
Observe-se que esse eleitor de Lula tem várias vulnerabilidades e contradições, que já vem sendo exploradas há tempos pela grande mídia. Ele admira Sergio Moro, por exemplo. Os homens (não as mulheres) demonstraram “visível interesse” por Jair Bolsonaro.
Enfim, é tudo muito complicado para Lula.
Mas quando é que as coisas foram fáceis para ele, hein?
O Valor fez a pesquisa antes da morte de Marisa, o que inviabiliza qualquer grau de emotividade devido a este fato.