BRASÍLIA – O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles afirmou na manhã desta sexta-feira, 13, que o apoio do Congresso é importante para a aprovação das medidas de ajuste fiscal, até porque algumas delas exigem mudanças nas leis, apesar de haver alguma margem de manobra por parte do Executivo. “É importante discutir com a sociedade e o Congresso a finalidade última dos ajustes”, afirmou durante evento em São Paulo, promovido pelo Instituto Millenium.
Ele não entrou em detalhes sobre a relação do governo com os parlamentares, mas mencionou o projeto que poderia estabelecer um limite para a dívida pública. Segundo ele, isso teria implicações importantes, como uma possível limitação de benefícios sociais.
Meirelles, disse, também, que todos concordam que uma taxa de juros menor seria melhor. “Algumas pessoas criticam os juros altos como se fosse uma questão de vontade do BC, de preferência. Está cada vez mais claro que os juros altos se dão por causa da dívida pública”, comentou.
Segundo Meirelles, os juros mais baixos ajudam no financiamento de empresas, investimentos, consumo e também da dívida pública. “Não é esse o ponto. A finalidade dos juros é promover a estabilidade financeira e controlar as expectativas de inflação. Com a inflação na meta, há uma queda dos prêmios de risco e a taxa de juro real pode cair”.
Ele reforçou que baixar a taxa de juros não é uma atitude voluntarista do governo. “A experiência mostra que evidentemente o caminho não é esse. O juro cai no momento em que se adota as medidas corretas, com a inflação convergindo e ficando em torno da meta. E com a dívida menor”, afirmou.
Questionado sobre a questão cambial, ele lembrou que se reuniu recentemente com industriais exportadoras e, depois, com um grupo de empresários que importa insumos. “O nível ideal do dólar depende com que você falar no País”. Ele comentou sobre uma conversa com um colega, na qual eles discutiram que intervenções no câmbio geralmente não terminam de maneira bem-sucedida.
CPMF
Henrique Meirelles não quis dar sua opinião sobre a necessidade de retomada da CPMF para que o governo consiga fechar as contas em 2016. Questionado sobre o assunto, ele disse que não está “sentado lá para saber quais são as alternativas viáveis”.
“Governar é eleger prioridades, e hoje a prioridade é reverter a trajetória da dívida pública, mostrando a sustentabilidade no curto prazo. Não estou sentado lá para saber as alternativas viáveis de curto prazo para pelo menos começar o processo de inflexão da evolução dívida, então não vou entrar na discussão se esse imposto é melhor que aquele outro”, comentou.
Segundo ele, partindo do pressuposto de que quem está no governo está tomando as melhores decisões possíveis, é preciso levar em conta que para o País crescer de forma sustentável será necessário estabilizar e, idealmente, diminuir a carga tributária no futuro. “Precisamos de uma reforma tributária, com racionalização da estrutura, mais objetiva e com menos dispêndios para as empresas pagarem seus impostos. Devemos criar cada vez mais impostos que levem a uma maior produtividade, ou decresçam menos a produtividade”, afirmou.
Levy
Meirelles afirmou que seria deselegância sua comentar sobre os rumores de que poderia assumir o Ministério da Fazenda, ou mesmo o que faria se estivesse no cargo. “Seria deselegância da minha parte ficar comentando rumores sobre ocupar um cargo hoje ocupado por um profissional sério, amigo nosso (o ministro Joaquim Levy)”, afirmou a ser questionado sobre o assunto.
Petrobras
Ao ser perguntado sobre se privatizaria a Petrobras, Meirelles afirmou que “o mais importante é assegurar a qualidade de gestão” da estatal. “Os sócios, em última análise, são pessoas físicas, como quem investe na bolsa, e quem paga imposto”, disse durante o evento promovido pelo Instituto Millenium.
Fraga
Também presente no evento, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga afirmou ser “óbvio” que está esgotado o modelo que o governo da presidente Dilma Rousseff adotou para o setor elétrico do País. “Não sei se isso é mantido por questões ideológicas, políticas. Não sei se isso tem cura”, disse.
Fraga, porém, defendeu as ações do ministro Joaquim Levy na condução da política econômica. Perguntado o que repetiria no comando da Fazenda, caso Aécio Neves (PSDB) tivesse vencido as eleições de 2014, ele comentou: “Praticamente tudo”, ressaltando que é amigo de Levy.
Fraga fez uma critica direta à presidente Dilma. “É muito difícil para o Joaquim trabalhar quando boa parte dos problemas foram criados pela chefe dele.”
Meirelles, afirmou que o avanço da infraestrutura no Brasil é fundamental para melhorar a produtividade e eficiência da economia. “Existe capital disponível no mundo, com liquidez enorme. Há interesses de investimentos de longo prazo no Brasil, pois o País tem demanda interna grande”, comentou. “O que é preciso é a estrutura normativa adequada. Ao invés de determinar qual o preço”, destacou. “É importante que a infraestrutura seja capaz de atender às condições para aporte suficiente de capital.” As declarações foram dadas durante evento em São Paulo, promovido pelo Instituto Millenium.
Meirelles reforçou ainda a necessidade de ampliar a abertura da economia brasileira para o comércio internacional, porque, sem competição, não há incentivo para melhorar a produtividade. “A competição é a grande luz que ilumina e aponta os caminhos da maior produtividade. O grande mercado consumidor doméstico só passa a ser negativo se vira uma justificativa para o fechamento da economia”, explicou.
Ele também mencionou a baixa classificação do Brasil no ranking Doing Business, do Banco Mundial, e disse que é preciso melhorar o ambiente de negócios, pois isso significa maior facilidade em produzir riqueza. Meirelles ressaltou que, como objetivo de longo prazo, o País precisa melhorar a qualidade da educação, que ainda é muito baixa na comparação internacional. “Isso é vital para a produtividade”.
PMDB
No evento em São Paulo, do qual também participaram os ex-presidentes do BC Armínio Fraga e Gustavo Franco, todos foram questionados se aprovavam o texto intitulado “Uma ponte para o futuro”, elaborado pelo PMDB com medidas para a crise econômica do País. Os dois primeiros afirmaram que sim, enquanto Meirelles que já foi filiado ao partido, disse: “de acordo”.
Em outro momento do evento, Meirelles tinha elogiado a estabilidade política no Brasil. “Parece estranho falar em estabilidade política com essa crise que vemos, mas estou falando de estabilidade política segundo critérios métricos internacionais”, explicou. Ele lembrou que o País tem eleições regulares, onde os vencedores tomam posse, além de um Judiciário e Ministério Públicos independentes, e também a imprensa livre. “Em resumo, o País tem algumas coisas que podem nos dar condições de disputar com vantagem no mercado internacional, comparado com outros emergentes que começam a enfrentar problemas nessa área”.
(Estadão Conteúdo/ATUAL)