Dois fatos desanimadores encerraram a semana: a decisão do Supremo Tribunal Federal de fatiar a Operação Lava Jato e a negociata do PMDB com o governo Dilma Rousseff.
No primeiro caso, estabeleceu-se um freio às investigações da Operação Lava-Jato, conduzidas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, que resultaram em processos presididos pelo juiz Sérgio Moro, agora circunscritos ao imbróglio Petrobras. No segundo, com o acordo espúrio celebrado com Dilma pelas bancadas do PMDB no Senado e na Câmara, como moeda de troca do é dando que se recebe, obstaculiza-se um pouco a ideia do impeachment, pelo menos enquanto continuarem sendo satisfeitos os apetites vorazes do mais escrachado fisiologismo político.
É deprimente. Em nenhum momento, pensam no país e em seu futuro. O Supremo, a cada dia perde mais credibilidade, aparelhado por magistrados indicados e nomeados pelo lulopetismo. Com exceção de um ou outro ministro, mandam às favas qualquer escrúpulo, sob os influxos do adesismo sem limites aos interesses do Planalto, como regra. No Congresso é o que se vê, dá as cartas quem tem a chave do cofre, o poder de distribuir cargos de mãos largas, a caneta e o diário oficial. Os esquemas de balcão fazem com que parlamentares, disponíveis e desfrutáveis, mudem de rumos e de opinião como quem troca de roupa. Criticam hoje o governo, apenas e tão somente, para aplaudir amanhã, num jogo sujo e extorsionário, que cessa tão logo recebidas as benesses prometidas.
Pouco importa o presente e muito menos as consequências a serem suportadas pelas gerações advindas. Não sopesam nada e mergulham na indecência e na insolência, quando afirmam agir em nome da Nação e de seu povo. Como se pode constatar, fica dia a dia mais difícil compatibilizar um projeto sério de desenvolvimento nacional com o regime democrático, com a classe política que temos no Brasil. Ainda assim, cumpre defender a democracia, com unhas e dentes, como o faço e o farei sempre, sobremodo porque, sem ela, não poderíamos dizer o dizemos do governo predador e corrupto do PT.
Com tais expedientes e transações suspeitas, cooptado o PMDB, a presidente consegue jogar um pouco de água fria sobre a crise política. No entanto, resta a indagação elementar: até quando? É evidente que a voracidade não encontra limites. Ávidos e incontroláveis, quanto mais receberem, mais haverão de querer, numa escalada sem fim. Dilma já lhes prometeu os ministérios da Saúde e Infraestrutura, grande parte de seu governo, os órgãos de maior orçamento da Esplanada – e para eles nada mais importante do que o orçamento, mas logo deverão exigir a pasta da Educação e outras generosas fatias de poder, em cima das quais darão curso aos seus projetos de apropriação privada do Estado.
É certo que adiaram o impeachment, mas apenas momentaneamente, uma vez que a situação no horizonte permanece inalterada. A iniciativa do impedimento presidencial, por conseguinte, poderá de novo entrar em pauta, mais cedo do que se pensa, contanto que o povo volte a ocupar as ruas e praças do Brasil, em função da evolução dos acontecimentos, mantido o descontrole da economia, com inflação em alta. De mais a mais, como temos sustentado neste espaço, Dilma é a crise. Ela, atrasada, estatizante e incompetente, pariu o descalabro que marca sua administração e perdeu as condições mínimas de dirigir qualquer processo de recuperação do quadro crítico que avassala o país.
De igual modo, há contradições que jamais serão equacionadas entre o discurso rançoso do PT e as propostas de ajuste fiscal do ministro Levy, considerado neoliberal, cuja cabeça continua sendo reclamada pelos petistas radicais e renitentes. A própria Dilma tem muitas dificuldades de absorver o remédio amargo, que lhe desce goela abaixo como purgante, pois confronta com sua história pessoal, esquerdista à antiga, com visão ideológica estreitíssima.
As pedaladas fiscais, que atentam contra a lei orçamentária, logo deverão ser rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União, enquanto os dutos criminosos que abasteceram as últimas campanhas da presidente afloram no bojo do escândalo de corrupção da Petrobrás, viciando sua eleição e tornando seu mandato ilegal e ilegítimo. Dilma não tem saída, mais cedo ou mais tarde, ou renuncia ou perde o mandato, com ou sem ministérios para dar e vender.
Como observa minha amiga Ana Lins, filha do nosso saudoso Ruy Alberto Costa Lins, a esta altura, de nada adianta distribuir ministérios ao PMDB e a qualquer outro partido, pois equivale a oferecer cabines de luxo no Titanic, prestes a naufragar.
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