Por Lúcio Pinheiro, da Redação
Dois dias depois de gravar vídeo dizendo que iria à Justiça contra a decisão da ALE-AM (Assembleia Legislativa Estadual do Amazonas) que mudou a data de sua posse, o governador eleito Amazonino Mendes (PDT) recuou, nesta sexta-feira, 22, e minimizou a oposição que sofre do Legislativo antes mesmo de ser eleito.
“Não tenho problema nenhum [com a Assembleia]. Ninguém pode confundir três ou quatro deputados com 24 deputados”, declarou Amazonino. Na terça, 19, o governador eleito classificou a mudança da posse do dia 5 para o dia 10 de outubro, feita pela Mesa Diretora da ALE, de “ato condenável”.
“Nós sabemos zelar pelos interesses da população. E como tal, nós iremos à Justiça para que o povo seja protegido em relação a essas intenções escusas”, declarou Amazonino, no dia 19.
Nesta sexta, Amazonino exibiu um discurso cauteloso, revelando o cuidado em não esticar a corda na briga com deputados aliados do governador interino, David Almeida (PSD). “Minha relação [com a ALE] será institucional e republicana”, repetiu o governador eleito por mais de uma vez durante entrevista coletiva em que falou sobre como vai conduzir o governo do Estado.
Amazonino assumirá um mandato de 15 meses, em um cenário de recessão econômica e com o orçamento do Estado praticamente todo comprometido até o fim de 2018. O político sabe que com o cofre vazio, em um ano de eleição, a tarefa de conquistar uma base capaz de apoiar as ações do governo na Assembleia não será fácil.
Sobre a mudança da data da posse, Amazonino se disse consciente de que não há lei que obrigue os deputados a apressarem o ato, muito menos marcá-lo para a ALE. No entanto, disse que gostaria que o ato fosse na sede do Poder Legislativo.
“Não há lei que obriga o governador a tomar posse na Assembleia. Mas eu gostaria. É de bom tom que se faça assim, que a posse seja feita na Assembleia. A gente respeita a Assembleia, e não é por causa da atitude de um, dois, três deputados que a gente vai desprestigiá-la. Está tranquilo a questão da posse. Tudo vai ser resolvido”, minimizou o governador eleito.
O Artigo 50 da Constituição do Amazonas diz que o governador e o vice tomarão posse no dia primeiro de janeiro do ano subsequente ao da eleição.
Como a eleição ocorreu de forma suplementar, ainda no início do segundo semestre, criou-se uma incerteza sobre a data a ser marcada a posse. Aproveitando-se desse vácuo da legislação, os opositores de Amazonino na ALE mudaram a data que haviam definido no início deste mês.
O mesmo Artigo 50 determina que o governador e o vice tomem posse “perante a Assembleia Legislativa”, o que não quer dizer necessariamente que seja no prédio da ALE, mas sim na presença dos deputados estaduais.
Cabide de empregos
A cautela do discurso de Amazonino ao falar da ALE-AM não se repetiu ao tratar do governo. Mirando a curta administração de David, as críticas do governador eleito atingiram também os governos anteriores de atuais aliados dele, como Omar Aziz (PSD).
Segundo Amazonino, quando ele terminou o último mandato (em 2002), o Estado tinha 14 secretarias. “A estrutura do Estado hoje é gigantesca. É maior que a da Presidência da República. Temos 68 estruturas equivalentes a secretarias. A República tem 39 ministérios. Isso tudo vai ser revisto, reformulado. O Estado não é cabide de emprego”, avisou Amazonino.
O último governo de Amazonino foi de 1995 a 2002 (dois mandatos). Depois dele, foram governador do Estado Eduardo Braga (PMDB) – duas vezes, Omar Aziz (PSD) e José Melo (Pros). David Almeida assumiu o Executivo em maio deste ano, interinamente, após a cassação de Melo.
Apesar de sinalizar que reduzirá secretarias, o que resultará em demissões de servidores, Amazonino evitou confirmar as medidas. Segundo ele, até aqui, os dados que recebeu da comissão de transição são parciais, e que ele ainda precisa estudar mais os números do Estado.
Voo solo
O discurso de Amazonino também serviu para confirmar, em parte, o que já se comenta nos bastidores. Passada a eleição, ele distancia-se de alianças circunstancialmente firmadas durante as eleições.
Nesta terça, o governador eleito disse que se o governo falhar ele será responsabilizado. Por isso, sob a administração dele, ninguém vai indicar secretário. Com todas as palavras, Amazonino avisou que não vai partilhar o governo dele com ninguém.
“Nenhum grupo político, parceiro político, chegará ao Amazonino para dizer: eu quero a secretaria tal. Entendo que não se partilha governo. Não se faz do governo uma colcha de retalhos. Tenho uma responsabilidade, da reconstrução. Eu serei o responsável se o governo falhar. Todos os meus secretários percorrerão uma ponte chamada Amazonino Mendes. Politicagem zero”, avisou o político.